Desde 2014, o governo federal gastou 3,1 milhões de reais com as despesas do Museu Nacional do Rio de Janeiro, destruído em um incêndio na noite deste domingo. O valor é menos da metade do que a Presidência da República gastou com passagens e locomoção só neste ano: 8,5 milhões de reais. Os valores estão disponíveis no Portal da Transparência.
Inaugurado em 1818, o museu completou 200 anos em junho e tinha mais de 20 milhões de itens. Era a mais antiga instituição científica do Brasil e o maior museu de história natural e antropologia da América Latina. Este ano, custou apenas 98.000 reais aos cofres públicos, com repasses do Ministério da Educação à Universidade Federal do Rio de Janeiro, que administra a instituição.
Na contramão do incomensurável valor histórico do acervo consumido pelo fogo, os gastos com a instituição mostram que, nem de longe, sua manutenção era uma prioridade. Seja no governo de Dilma Rousseff (PT), seja no de Michel Temer (MDB), o Museu Nacional vinha sofrendo com queda em suas receitas — apesar da crescente demanda por manutenção que causou, no limite, o fechamento do local para visitantes.
Veja abaixo um comparação do que significa a verba direcionada ao museu com outros valores envolvendo dinheiro público.
Bunker de Geddel
Os 51 milhões de reais atribuídos ao ex-ministro Geddel Vieira Lima, encontrados em um apartamento em Salvador, cobririam os gastos do museu no mesmo patamar desde 2014 por mais 75 anos.
Joias do ex-governador
Seérgio Cabral e Adriana Ancelmo são acusados pela Lava Jato de comprar 11 milhões de reais em joias de luxo para lavar dinheiro. O valor equivale a mais que o triplo do que o museu gastou desde 2014. Só um bracelete atribuído à ex-primeira-dama pagaria todas as despesas deste ano: 98.000 reais.
Mala de Rocha Loures
O ex-assessor de Michel Temer foi visto carregando 500.000 reais de propina da JBS em uma mala. Daria para pagar quase um ano de despesas do Museu Nacional.
Fundo eleitoral
Seis partidos nanicos (PSTU, PCB, PCO, PPL, Novo e PMB) vão receber, cada um, o mínimo definido pelo Tribunal Superior Eleitoral para custear seus gastos com as eleições deste ano: 980.691,10 reais. O valor para uma campanha de 45 dias já é maior do que todo o gasto do museu em um ano desde 2014, quando ele custou 941.064,22 reais.
Reforma do Maracanã
Com todo superfaturamento, o estádio da final da Copa do Mundo custou 1,2 bilhão de reais. O suficiente para manter o museu por 1.770 anos.
Auxílio-moradia
A União desembolsou 817 milhões de reais com o pagamento de auxílio-moradia nas três esferas de poder (Executivo, Legislativo e Judiciário) em 2017. No ano passado, o museu consumiu 643.000 reais — ou seja, 0,08% do que foi gasto com o benefício.