Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Último capítulo do Caso Bruno: Bola começa a ser julgado

Defesa admite que situação do réu se complicou após o depoimento do goleiro no júri anterior, que aponta o ex-policial como o assassino de Eliza Samudio

Por Pâmela Oliveira, do Rio de Janeiro
22 abr 2013, 07h31

Dois anos e dez meses depois do sequestro e morte de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro Bruno Fernandes, a Justiça dá início nesta segunda-feira ao último julgamento dos principais acusados do crime. Senta-se no banco dos réus do Fórum de Contagem, em Minas Gerais, o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, acusado de ser o executor da jovem. De acordo com denúncia do Ministério Público, Bola, como é conhecido, foi contratado por Bruno para matar Eliza, e a asfixiou até a morte em sua própria casa, no município de Vespasiano, Região Metropolitana de Belo Horizonte. Segundo depoimentos, somente ele pode apontar onde está o corpo da vítima.

Os cinco principais envolvidos na trama deveriam ter sido julgados juntos, em novembro do ano passado. Contudo, depois de uma série de manobras dos advogados de defesa, as sessões foram desmembradas. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e a ex-namorada de Bruno, Fernanda Gomes de Castro, foram considerados culpados em 24 de novembro. Ele foi condenado a 15 anos de prisão, por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado. Ela pegou cinco anos em regime semiaberto por sequestro e cárcere privado de Eliza e do menino Bruninho, filho da jovem com o goleiro.

Em 8 de março, Bruno foi condenado a 22 anos e três meses de prisão por homicídio triplamente qualificado, ocultação de cadáver, sequestro e cárcere de Eliza e sequestro e cárcere de Bruninho. Dayanne Rodrigues de Souza, sua ex-mulher, que participou do caso cuidando do menino Bruninho e por isso respondia por sequestro e cárcere privado, foi absolvida a pedido do Ministério Público, que considerou que ela foi coagida pelos demais réus.

A defesa de Bola, liderada pelo advogado Ércio Quaresma, admite que as condenações anteriores, e principalmente o depoimento do goleiro no júri, dificultam a defesa do ex-policial. No terceiro dia de seu julgamento, Bruno apontou Bola como o executor de Eliza. “O Macarrão me contou que havia contratado o Marcos Aparecido, o Neném, para matar Eliza”, declarou. Depois, induzido pelas perguntas de seu advogado, o goleiro afirmou que Neném, Bola e Marcos Aparecido dos Santos eram a mesma pessoa. Disse, ainda, ter medo dele.

Leia: Para beneficiar Bruno, advogado decidiu entregar Bola

A revelação caiu como uma bomba para os defensores do ex-policial. Assistente de Quaresma, o advogado Fernando Magalhães afirmou que a estratégia a partir desta segunda será desmontar o depoimento do goleiro. “Bruno contou que Macarrão disse a ele que Bola foi o executor. Mas o próprio Macarrão não falou isso quando depôs. Ele sequer cita Marcos Aparecido em seu depoimento. Macarrão disse que levou Eliza para a morte, mas não viu o rosto do homem”, rebate Magalhães.

Os argumentos da defesa são desconhecidos, mas já é esperada uma atuação rocambolesca de Quaresma. Amigo pessoal de Bola há décadas, o único advogado de defesa que acompanha o caso desde o início – chegou a defender Bruno – não vai economizar esforços na tentativa de inocentar seu cliente. Em março, irritado com o depoimento de Bruno, Quaresma pediu a palavra e passou uma hora e meia interrogando uma cadeira vazia, depois que a juíza permitiu que o goleiro deixasse o salão do júri. Foram 64 perguntas, sem auxílio de qualquer anotação.

O relato do goleiro, porém, não é a única prova contra o ex-policial. Durante as investigações do crime, o menor Jorge Luiz Lisboa Rosa, que admitiu ter levado Eliza para a morte com Macarrão, indicou a casa do ex-policial, em Vespasiano, como o local onde a jovem foi morta. Os registros de ligações telefônicas de Macarrão e de Bola, que constam detalhados no processo, formam outro indício: os dois se falaram cinco vezes no dia 10 de junho, data em que a jovem foi morta. Os dados que mostram a localização das antenas de celular indicam ainda que Macarrão encontrou Bola na noite do crime, na região da Pampulha. De acordo com o MP, de lá, Macarrão dirigiu o carro onde estavam Jorge, Eliza e o bebê Bruninho, até a casa do assassino.

CRONOLOGIA: Relembre os passos marcantes do Caso Bruno

O depoimento do menor, que é primo de Bruno, detalha a morte de Eliza com uma macabra riqueza de detalhes: “Eles foram para uma casa na região de Vespasiano e Macarrão entregou Eliza para um rapaz chamado Neném. Eliza, então, perguntou: ‘O senhor não vai me bater mais não, né? Eu já apanhei muito no Rio de Janeiro’. Neném perguntou se ela usava algum tipo de droga. Cheirou a mão dela e disse para ela ficar de pé, de costas para ele. E, de repente, deu uma gravata nela. Enquanto isso, pediu para Macarrão amarrar as mãos dela para frente. Então, Neném se jogou no chão com ela, agarrado o tempo todo no pescoço dela. Ela arregalou o olho. Saiu espuma branca. ela se contorcia. Até que o olho dela ficou com sangue. Ela agonizou, estremeceu e depois morreu”.

Ainda de acordo com Jorge, Bola se retirou, voltando em seguida com um saco preto onde dizia estar o corpo de Eliza, e atirando uma mão humana aos cães da raça rottweiler que mantinha em seu quintal. O menor e Macarrão, então, foram embora com Bruninho. Pode ter sido pura encenação do ex-policial. Na prisão, um detento – que foi ouvido nos julgamentos anteriores e também está intimado a comparecer neste – afirma que Bola confessou o assassinato de Eliza e, perguntado sobre se o corpo poderia ser encontrado, respondeu: “Só se os peixes falarem”. O destino dado para o corpo da vítima é o maior mistério do caso, mas não deve ser desvendado. “Não tem corpo para entregar. Esse corpo foi destruído. Psicopata tem uma metodologia. Ele destruiu os corpos como fez em casos anteriores. Eu me surpreenderia enormemente se houvesse um corpo a ser entregue”, afirmou ao site de VEJA o promotor do caso, Henry Castro.

Leia também:

Promotor: Goleiro Bruno, um exemplo para a rapaziada do futebol

Como o goleiro Bruno atraiu Eliza Samudio para a morte

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.