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Pacto desfeito: Para beneficiar Bruno, advogado decidiu entregar Bola

Lúcio Adolfo, que defende o goleiro, descumpriu acordo para deixar de lado o ex-policial Bola, representado por Ércio Quaresma. Como troco, Quaresma entregou a estratégia

Por Leslie Leitão e Marcelo Sperandio, de Contagem
8 mar 2013, 16h22

O julgamento do goleiro Bruno pode ter sepultado de vez o alinhamento de advogados que se formou em torno dos réus desde os primeiros dias do desaparecimento de Eliza Samudio, em 2010. O racha envolve dois pesos-pesados do direito criminal em Minas Gerais, amigos a ponto de um deles afirmar o seguinte: “Tenho uma relação quase sexual com o Lúcio Adolfo”, brincou Quaresma, em novembro do ano passado. Na ocasião, Adolfo tinha acabado de assumir a defesa do goleiro, e passaria, então, a conduzir o caso sempre em parceria com Quaresma.

Durante todo o primeiro dia de júri, depois de um cumprimento carinhoso, os dois trocaram informações ao pé do ouvido e bilhetes. Combinaram perguntas a serem feitas nos depoimentos. Estavam aparentemente em sintonia. Ao final da primeira sessão, por volta das 21h, encostado em um carro ao lado de fora do fórum, Quaresma, aparentemente transpondo uma barreira de sigilo entre os defensores, revelou qual seria a estratégia adotada pelo amigo Adolfo: “O Bruno vai dizer que pressentiu a morte de Eliza, mas nada fez para evitar. É genial, porque será possível derrubar as três qualificadoras – motivo torpe, morte por asfixia e crime cometido sem chance de defesa da vítima. Assim, o Bruno responderá por homicídio simples, com pena menor, de seis a vinte anos”.

TEMA EM FOCO: Acompanhe o Caso Bruno

Durante o segundo dia de julgamento, na terça-feira, Adolfo confirmou a tese de defesa antecipada por Quaresma – e acrescentou um ponto determinante: “Se o Bruno entregar o Bola, ele vai ter uma redução significativa na pena”. Quaresma, advogado de Bola, negava de forma enfática essa possibilidade, que atingiria diretamente o seu cliente. Para a sua infelicidade, no entanto, o sinal dado por Adolfo se confirmou no terceiro dia de júri, quarta-feira, durante o depoimento de Bruno. O ex-goleiro disse: “O Macarrão me contou que havia contratado o Marcos Aparecido, o Neném, para matar Eliza”. Depois, induzido pelas perguntas de seu advogado, Bruno disse que Neném, Bola e Marcos Aparecido dos Santos eram a mesma pessoa e que tinha medo dele.

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Ao ver seu cliente incriminado por Bruno, Quaresma ficou inconformado. Autorizado pela juíza, anunciou que faria perguntas ao ex-jogador. Adolfo rebateu rispidamente: “O Bruno não vai responder a você, Quaresma. Peço, inclusive, que o meu cliente deixe o plenário”. A cena foi uma demonstração de desrespeito à defesa de Bola – e um sinal inesperado de desencontro nas estratégias dos amigos.

A juíza permitiu a saída do ex-goleiro. Por uma hora e meia, Quaresma, sozinho, com o olhar fixo para a cadeira desocupada por Bruno, enfileirou 64 perguntas, sem ler uma linha sequer. Em um nítido ato de vingança, todos os questionamentos prejudicavam o mandante do crime. “O senhor fez um acordo para delatar o Bola neste julgamento?”, perguntou, sempre sem resposta. Por fim, o assistente de Quaresma, Fernando Magalhães, lançou: “É verdade que, em 2006, o senhor pagou propina para não ser incluído em uma investigação de sequestro e cárcere privado na cidade de Pedro Leopoldo, em um processo em que todos os condenados tinham envolvimento com tráfico de drogas?”. Mais uma vez, a defesa de Bola ficou sem resposta.

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Depois do terceiro dia de julgamento, Quaresma, irado, foi um pouco além na desavença com o velho amigo. “O Lúcio Adolfo é cascavel como eu, mas ele foi desleal comigo”, afirmou. O acordo entre os dois advogados era para beneficiar Bruno, que confessaria o crime, mas sem atingir Bola. O ex-jogador falaria que Macarrão entregou Eliza a Neném, que, posteriormente, a matou. Bruno só falaria no nome Neném, e nada mais. E Quaresma tiraria proveito disso no julgamento de Bola, que começará em 22 de abril. “No seu primeiro depoimento, em 2010, o então menor Jorge Lisboa, primo de Bruno, disse que quem matou Eliza foi o Neném. E o descreveu como um homem alto, negro e magro. O Bola é baixo, moreno e troncudo. Ou seja, o Neném não é o Bola. O Neném é o Zezé”, afirma Quaresma.

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Zezé é o ex-policial José Lauriano de Assis Filho, também indiciado pelo Ministério Público por participar da morte de Eliza. A tática era Adolfo preparar o terreno para Quaresma incriminar Zezé e absolver Bola. Mas Bruno disse que Neném e Bola são a mesma pessoa, o que desfez a jogada ensaiada.

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Entre as dezenas de advogados que já passaram pelo caso, Quaresma é o único que acompanha o processo desde o início. Ele começou como defensor de Bruno, mas a família do ex-jogador o substituiu, depois de o advogado ter aparecido em um vídeo fumando crack. Ainda assim, Quaresma sempre exerceu influência sobre os demais defensores. Nesta semana, seu circo desmoronou. Adolfo, em uma tentativa frustrada de reduzir a pena de Bruno, traiu a confiança de Quaresma. A “relação quase sexual” entre os dois foi interrompida por uma bola nas costas.

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