O relatório da Aeronáutica sobre as causas do acidente com o Boeing da Gol, que matou 154 pessoas em setembro de 2006, será divulgado na próxima semana e conclui que os pilotos do jato Legacy, a aeronave que se chocou com o Boeing, haviam desligado o transponder. O equipamento alerta para o risco de colisão e poderia, portanto, ter evitado a tragédia.
O transponder, segundo o relatório, foi manuseado de forma errônea pelos pilotos americanos Joe Lepore e Jan Paladino. O erro acabou fazendo com que o transponder fosse desligado sete minutos depois do Legacy sobrevoar Brasília e religado apenas três minutos após a colisão, quando os americanos perceberam que o aparelho estava em modo stand by.
Esse era o principal ponto a ser esclarecido pelo relatório da FAB. As investigações, realizadas pelo Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), mostram que o transponder permaneceu inoperante, sem emitir sinais para o radar de Brasília, por 58 minutos.
Erros – O acidente, segundo o relatório, foi fruto de uma sucessão de erros – não só dos pilotos, mas também dos controladores de vôo brasileiros. O primeiro erro foi cometido pelo operador que monitorou o Legacy e não foi claro ao dar a instrução aos pilotos, dizendo que eles deveriam voar a 37.000 pés no trecho São José dos Campos-Eduardo Gomes (Aeroporto de Manaus). Essa altitude, na verdade, deveria ter sido mantida somente até Brasília, quando o nível deveria ter sido alterado para sobrevoar o Mato Grosso.
Os controladores erraram novamente quando, com o Legacy já em Brasília, não perceberam que o jato não estava seguindo o plano de vôo e não mudou de altitude. O militar de plantão também não percebeu quando o transponder foi desligado.
Mais um erro teve palco durante a troca de turno dos operadores de vôo. O militar que chegava ao plantão foi informado pelo companheiro que o Legacy estava voando a 36.000 pés, embora estivesse a 37.000, na rota de colisão com o Gol – novamente, o operador não notou a ausência do sinal do transponder. Passaram-se 50 minutos sem que o jato e o controle de tráfego aéreo se comunicassem. Mais tarde, quando a aeronave passou para o controle de Manaus, a informação de altitude errada foi transmitida mais uma vez.
De acordo com a FAB, os pilotos americanos não conheciam direito a aeronave que pilotavam, tampouco as regras de vôo usadas no Brasil. Elas seguem o padrão da Organização Internacional de Aviação Civil (Icao, na sigla em inglês). Essas regras estipulam que o plano de vôo deve ser rigorosamente obedecido. Já os americanos utilizaram procedimentos da Agência Federal de Aviação (FAA), vigente nos Estados Unidos. Essas normas determinam a manutenção do plano de vôo até ordem em contrário da torre.
Por fim, quando os pilotos tentaram se comunicar com o Cindacta-1, em Brasília, não foram ouvidos porque uma outra aeronave passava pela região e acionou o botão de chamada ao mesmo tempo. Isso fez com que nenhum dos dois rádios conseguisse ser ouvido pela torre. As informações sobre o relatório foram publicadas em reportagens dos jornais Folha de S. Paulo e O Estado de S. Paulo neste domingo.
Culpados – Em sua apresentação, que inclui não só em texto, mas numa reconstituição de tudo o que se passou com os dois aviões, a Aeronáutica não pretende apontar culpados pelo acidente, mas sim determinar quais fatores contribuíram para causá-lo. Assim, a FAB quer evitar tragédias semelhantes no futuro.
As investigações foram baseadas nos dados das caixas-pretas e dos radares em terra. A partir desse relatório, 65 novas orientações estão sendo encaminhadas a diferentes órgãos ligados à aviação civil, no Brasil e no exterior, para melhorar as condições de segurança dos vôos.