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Tendência da “viagem raiz” ganha força no Brasil e no mundo

O etnoturismo propõe a imersão na cultura e nos rituais de povos originários sem desrespeitar costumes nem tradições locais

Por Marilia Monitchele
11 dez 2022, 08h00

Esqueça os pontos turísticos lotados, as filas para comer em restaurantes da moda ou a sufocante burocracia na chegada ao hotel. Um número crescente de pessoas tem trocado os destinos tradicionais para tomar banho de rio em recônditos mundo afora e acompanhar com olhos bem atentos a rotina e os ritos dos chamados povos originários. Engrossam assim as fileiras do etnoturismo, um modelo de viagem que os adeptos chamam de “intercâmbio cultural” e que tem como premissa promover a proteção dos ecossistemas e a geração de renda para as comunidades, sem que os costumes locais sejam deturpados.

O movimento é global. Segundo estudo realizado pela consultoria Future Market Insights, o mercado de turismo sustentável — no qual o etnoturismo se enquadra — responde por 2% da indústria de viagens. Em uma década, a participação mais do que dobrará, chegando a 5%. Parece pouco, mas, diante dos esperados solavancos da economia mundial, está longe de ser um número desprezível. Na América Latina, Colômbia, México, Panamá e Peru oferecem pacotes de turismo étnico. Na África, o povo massai, do Quênia, é conhecido pelos rituais que atraem europeus e americanos. Na Austrália e na Nova Zelândia, há itinerários focados na aproximação com os povos aborígines e maoris.

No Brasil, esse tipo de oferta vem se popularizando. Tanto assim que a Fundação Nacional do Índio (Funai) passou a promover cursos de capacitação para que mais aldeias adotem as visitas como fonte de renda. Um dos bem-­sucedidos projetos está sediado na comunidade Nova Esperança, localizada dentro da reserva Puranga da Conquista, em Manaus. Atualmente, quase 100% da economia da população indígena baré gira em torno do etnoturismo. “As pessoas conseguem ver como é nossa alimentação e a nossa arte”, afirma Joarlinson Baré, um dos líderes locais e organizador das visitas guiadas. “É um turismo de contato direto com a natureza.” Os interessados podem reservar os pacotes diretamente no site de ONGs ou por intermédio de agências especializadas.

arte Turismo

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A maior procura por experiências desse tipo caminha em sintonia com a nova era sustentável, de valorização do meio ambiente e da diversidade de culturas. Na Pataxó Turismo, a busca por viagens étnicas intensificou-se tanto que a empresa decidiu criar programas para todos os bolsos e perfis. Sua especialidade são visitas à Comunidade Indígena Reserva da Jaqueira, a 10 quilômetros do centro de Porto Seguro, na Bahia. Os pacotes vão de passeios com duração de três horas, ao preço de 100 reais, a casamentos de acordo com a tradição do povo pataxó, com cifras que oscilam conforme o número de convidados. “A cerimônia conta com o tradicional carregamento de tronco, em que o noivo ergue um pedaço de árvore com o peso de sua futura esposa, demonstrando ser hábil e capaz de carregá-la e protegê-la em situações de perigo”, conta Luisa Pataxó, diretora-executiva da agência.

Apesar de promissor, o setor enfrenta desafios. O principal é respeitar tradições locais sem enveredar para a apropriação cultural ou a construção de estereótipos. Há ainda o temor de prejudicar o trabalho de preservação realizado por indígenas. Por isso, é vital pesquisar com antecedência a credibilidade das empresas envolvidas nesse tipo de prática e prestar atenção à maneira como os povos locais são apresentados, sem o viés do exotismo, o que desvirtua a ideia original. Ela fica bem longe das desastradas experiências no Rio de Janeiro com o turismo nas favelas, em que a pobreza vira e mexe é retratada como mercadoria. Se bem-feito, porém, o etnoturismo desencadeia ciclos virtuosos. “Ele pode ser um forte aliado para eliminar estigmas e sensibilizar as pessoas”, reforça a especialista Ana Rosa Proença. Conhecer povos e suas aldeias é de grande riqueza, mas respeitar suas culturas é melhor ainda.

Publicado em VEJA de 14 de dezembro de 2022, edição nº 2819

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