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Relatório indicou que segurança de barragem era adequada, diz Vale

Documento obtido por VEJA mostra, contudo, que fator de segurança das três seções da barragem em Brumadinho estava abaixo do nível 'confortável'

Por Redação
Atualizado em 30 jul 2020, 19h55 - Publicado em 12 fev 2019, 21h06

O gerente-executivo de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão da Vale, Lúcio Cavalli, disse nesta terça-feira, 12, que a companhia contratou um “painel de especialistas” para apurar as causas do rompimento da Barragem I da Mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG).

Em entrevista coletiva realizada na sede da companhia, após a divulgação de um relatório e de um documento interno da empresa que mostra que a barragem e outras cinco estruturas semelhantes ofereciam risco, Cavalli afirmou que ainda não é possível precisar em quanto tempo eles terão uma definição, mas que fazer “especulações nesse momento é muito perigoso”.

O executivo disse que a apresentação e o relatório anexados pelo Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) na Ação Civil Pública (ACP), cujo sigilo foi derrubado hoje, aborda “fatores probabilísticos” e não “determinantes” e citou entre esses as análises da consultoria alemã Tüv Süd. Cavalli afirmou que o relatório da Tüv Süd de setembro de 2018 indicava que fator de segurança da estrutura era adequado.

O fator de segurança citado pelo executivo vai de 1 a 2,5, sendo 1 o ponto de ruptura de uma barragem. Como mostra reportagem de VEJA, a consultoria alemã apontou em um relatório no segundo semestre de 2018 que uma das três seções da Barragem I de Brumadinho tinha o índice de 1,09 e as outras duas também estavam abaixo do nível “confortável”, que não pode ser inferior a 1,5.

VEJA também informou que mensagens trocadas em 23 e 24 de janeiro, véspera da tragédia, entre entre funcionários da Vale, da Tüv Süd e de uma empresa responsável pelos piezômetros, instrumentos que medem a pressão interna na barragem, mostram que eles discutiam indicações de perigo fornecidas por piezômetros instalados no reservatório. A ameaça apontada pelos instrumentos era tal que o engenheiro Makoto Namba, da Tüv Süd, quando questionado pela PF sobre o que faria se seu filho estivesse trabalhando na barragem, respondeu que ligaria imediatamente para ele e mandaria que deixasse o local. 

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No depoimento à PF, Namba relatou ter sido pressionado por um representante da Vale. “A Tüv Süd vai assinar ou não a declaração de estabilidade?”, instava esse funcionário da Vale. O engenheiro considerou que a pergunta trazia embutida a ameaça de cancelamento do contrato. Assinou, com a condição de que a mineradora seguisse dezessete recomendações feitas pelo relatório. 

O gerente-executivo da Vale declarou nesta terça que a consultoria alemã esteve em campo no dia 23 de janeiro e emitiu um relatório que não indicava nenhum tipo de instabilidade. Em relação ao relatório da empresa de setembro de 2018, ele garantiu que oito das dezessete recomendações já haviam sido concluídas e nove estavam em andamento.

O relatório da Tüv Süd publicado por VEJA mostra que a Barragem I do Córrego do Feijão já vinha apresentando aumento do nível da água desde o ano passado, com uma agravante: os bolsões de água haviam se formado perto da parede. Lúcio Cavalli disse hoje, por outro lado, que a estrutura, além de não ter risco iminente, não teve aumento de nível de água.

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Para ele, a avaliação de que a barragem estava em zona de atenção, conforme indicam tanto o relatório da Tüv Süd quanto a apresentação interna divulgada hoje pela justiça de Minas Gerais, significa que a empresa deveria dar sequência às ações que estavam sendo tomadas: dar continuidade à drenagem de água e à descaracterização (descomissionamento).

Comunicação à cúpula da Vale

O diretor-executivo de Finanças e Relações com Investidores da Vale, Luciano Siani Pires, disse que apenas nesta segunda-feira tomou conhecimento do workshop técnico realizado na companhia em outubro do ano passado para discutir a situação das barragens em Minas Gerais. Uma apresentação produzida para esse evento se tornou pública nesta terça.

Na entrevista coletiva organizada pela empresa, Siani contestou a avaliação contida no documento de que a situação de um conjunto crítico de barragens deveria ser reportada à alta direção da companhia. Segundo ele, existe muita controvérsia em relação a avaliação de passar informações para escalões superiores (e mesmo a alguns níveis técnicos) sobre tais riscos, para que os níveis hierárquicos inferiores tenham liberdade para tomar as medidas emergenciais necessárias.

De acordo com o diretor, o workshop incluiu um painel de especialistas internacionais e, na avaliação desses especialistas, a política de alertas da Vale era adequada. “Em 2017, especialistas sugeriram necessidade de reportar informações à alta administração, mas em 2018 reconheceram a dificuldade de atender essa exigência em grandes organizações”, disse, negando a avaliação contida na apresentação de que essa política de notificação estaria em vigor na mineradora.

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(com Estadão Conteúdo)

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