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PT e PMDB: eles brigam, mas são sócios no petrolão

Ministros do governo, ex-ministros, o presidente da Câmara e aliados do Palácio do Planalto têm suas casas e escritórios revistados pela Polícia Federal, que vai fechando o cerco sobre os criadores e beneficiários do maior escândalo de corrupção da história

Por Daniel Pereira 18 dez 2015, 20h34
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  • Com a posse de Lula na Presidência da República, o PT arquitetou um plano audacioso para se perpetuar no poder. A ideia era usar a máquina federal, com seus cargos e orçamentos bilionários, para comprar o apoio de partidos, sem ceder um milímetro de terreno no avanço sobre as liberdades democráticas. Foi assim que nasceu o mensalão. “Os profanadores da República”, conforme expressão cunhada pelo decano do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Celso de Mello, desviaram recursos públicos e contrataram empréstimos fraudulentos em bancos privados para subornar parlamentares e fechar alianças no Congresso. Quando o esquema foi descoberto, Lula viu seu mandato ameaçado. Para afastar o risco de responder a um processo de impeachment, convidou o bom e velho PMDB, o eterno fiador de qualquer presidente de turno, para se tornar sócio do PT no governo. Como prova de boa vontade, abriu aos peemedebistas as portas de setores estratégicos da administração – entre elas, as da Petrobras. O resultado dessa sociedade, formalizada há mais de uma década, recebeu o nome de petrolão, o maior escândalo de corrupção da história do país.

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    Desde a deflagração da Operação Lava-Jato, as autoridades colheram depoimentos e documentos que indicam que a verba roubada da Petrobras financiou as campanhas presidenciais de Lula e de Dilma Rousseff, enriqueceu estrelas petistas, como o mensaleiro José Dirceu, e bancou a boa vida de políticos de diferentes partidos. Amigo de Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai confessou às autoridades que repassou ao PT 12 milhões de reais que pegou emprestados no Banco Schahin. O valor foi usado para financiar a campanha do amigo e para comprar o silêncio de uma testemunha que ameaçava implicar o ex-presidente no enredo, ainda nebuloso, do assassinato do petista Celso Daniel, então prefeito de Santo André. Eis mais um caso típico em que uma mão sujou a outra (veja a reportagem na pág. 70). Idealizadores do assalto bilionário aos cofres da estatal, os petistas sempre tiveram o papel de protagonista nessa trama criminosa. Na semana passada, no entanto, os investigadores obrigaram o PMDB a assumir o centro do tablado, como beneficiário de um presidencialismo de coalizão sustentado, literalmente, com dinheiro surrupiado dos cofres públicos.

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    Na nova etapa da Operação Lava-­Jato, a Polícia Federal cumpriu 53 mandados de busca e apreensão e atingiu em cheio os mais importantes caciques do PMDB, que disputam entre si o comando do partido e as benesses distribuídas pelo Palácio do Planalto a fim de impedi-los de fazer oposição. O alvo principal da ação foi o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), acusado de receber propina do petrolão, obstruir a investigação do caso e usar o cargo para constranger adversários. Houve busca e apreensão na residência oficial da presidência e na casa de Cunha no Rio de Janeiro. A Procuradoria-Geral da República também pediu ao Supremo que o afaste do mandato, o que só deve ser decidido em fevereiro. A nova fase da Lava-Jato recebeu o nome de Catilinárias, em referência à série de discursos que o cônsul romano Marco Túlio Cícero fez, há mais de 2 000 anos, para acusar o senador Lúcio Catilina de tramar para derrubar a República e assumir o poder: “Até quando, ó Catilina, abusarás da nossa paciência? Por quanto tempo ainda há de zombar de nós esta sua loucura? A que extremos se há de precipitar a tua audácia sem freio?”.

    Como se sabe, Cunha é a personificação do golpista para a presidente, especialmente depois de ter acolhido o pedido de impeachment contra ela. Dilma dedica o mesmo epíteto ao vice-­presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), que já tem um plano traçado – e em execução – para assumir o poder caso o impedimento dela seja aprovado pelo Congresso. Temer foi uma espécie de alvo oculto da Catilinárias, que fez busca e apreensão nos endereços de dois ministros do governo Dilma: Celso Pansera (PMDB-­RJ), chamado pelo doleiro Alberto Youssef “de pau-mandado de Eduardo Cunha”, e Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), braço-direito do vice-presidente. Depois da ação dos policiais, Cunha repetiu a ladainha de que é vítima de vingança porque deu andamento ao pedido de cassação do mandato de Dilma. Já Temer negou que trabalhe para derrubar a mandatária. Outros peemedebistas alcançados pela PF pensam de forma diferente. Entre eles, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).

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    A Justiça negou busca e apreensão na casa do senador, mas autorizou os policiais a vasculhar a sede do PMDB de Alagoas, comandado por Renan, e a casa de Sérgio Machado, que dirigiu a Transpetro nos governos do PT graças à indicação do parlamentar alagoano. Machado é acusado de recolher propinas para Renan, que, segundo um delator do petrolão, Nestor Cerveró, também embolsou pixulecos derivados de contratos firmados na Petrobras. Em público, o presidente do Senado rechaça as denúncias. Em privado, reclama do fato de Cunha e Temer terem ido com muita sede ao pote, principalmente ao patrocinar a instalação de uma comissão especial de maioria oposicionista para decidir sobre o pedido de destituição de Dilma. Enquanto os dois conspiram, Renan mantém a fé num acordo com a presidente e com Lula para que todos, petistas e peemedebistas, salvem seus mandatos, a sociedade partidária da corrupção e o projeto de poder. Na semana passada, Renan e Temer chegaram a bater boca em razão da divisão interna do partido. O vice chamou o senador de coronel. Este retrucou dizendo que o colega, quando comandou a articulação política do governo, estava preocupado com cargos, emendas e a cartilha do fisiologismo. Há debates em que os dois lados têm razão.

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    Os ânimos não estão exaltados à toa. Está cada vez mais claro que, apesar das tentativas, as investigações em curso não serão detidas por acordos de bastidor, conchavos entre poderosos e juízes ou artimanhas processuais que fomentaram a tradição brasileira de impunidade.

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    S/A do petrolão
    S/A do petrolão (VEJA)

    Com reportagem de Pieter Zalis

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