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Polícia investiga deputados do MDB por morte de Marielle

Por esta linha de investigação, o crime teria sido uma vingança contra o deputado Marcelo Freixo, do PSOL, muito ligado à vereadora

Por Fernando Molica
Atualizado em 10 ago 2018, 20h15 - Publicado em 9 ago 2018, 17h32

Em entrevista a VEJA, o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL) disse que três deputados estaduais do MDB-RJ estão sendo investigados por participação no assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL), ocorrido em 14 de março (assista ao vídeo no final da matéria). O parlamentar confirmou uma informação obtida pela reportagem: no dia 14 de junho, a pedido de dois delegados da Polícia Civil, ele e procuradores do Ministério Público Federal participaram de uma reunião para tratar de uma conexão do crime com políticos emedebistas.

Na conversa, os delegados Fábio Cardoso, diretor da Divisão de Homicídios, e Giniton Lages, encarregado das investigações, perguntaram a Freixo e aos integrantes do MPF se eles aceitariam depor no inquérito para falar sobre o caso dos três políticos – todos disseram que sim. O deputado disse que ainda não foi chamado para o depoimento. Os parlamentares investigados são Edson Albertassi, Jorge Picciani e Paulo Melo – todos estão presos desde o ano passado, acusados de envolvimento com uma máfia de empresários de ônibus. Freixo afirmou não descartar a participação dos políticos no crime. “É assustador, mas não posso eliminar nenhuma possibilidade”, declarou o deputado. Para ele, não há dúvida de que o assassinato de Marielle foi um crime político – no atentado também morreu o motorista Anderson Gomes. “Quem matou mandou um recado. E, se continuar solto, vai matar mais gente”, concluiu.

No dia 11 de maio, o site de VEJA publicou que a polícia tinha indícios da participação de “políticos importantes” no caso. Na terça, 7, em entrevista à GloboNews, o ministro da Segurança Pública, Raul Jungmann, afirmou que o assassinato de Marielle envolve agentes de Estado, inclusive políticos. “Envolve, inclusive, setores ligados seja a órgãos de setores de setores do Estado, seja a órgãos de representação política”. VEJA confirmou, na Polícia Civil, a existência de uma linha de investigação que liga o assassinato a políticos do MDB – a Delegacia de Homicídios tem em mãos, há mais de dois meses, a lista de pessoas que visitaram os parlamentares na cadeia, na época do crime.

Por esta investigação, o assassinato seria uma forma de vingança para atingir o próprio Freixo. Responsável pela entrada de Marielle na política – ela trabalhou em seu gabinete -, o deputado costumava se referir à vereadora como “minha filha”. Em razão de seu trabalho à frente da CPI das Milícias, ele sofreu várias ameaças de morte e, há dez anos, anda em carros blindados, protegido por policiais militares, o que dificultaria um atentado contra ele. De acordo com a apuração policial, políticos do MDB atribuiriam ao parlamentar do PSOL a responsabilidade por eles terem sido presos já que em decisão tomada em ação judicial protocolada por Freixo, a Justiça impediu que o deputado Edson Albertassi disputasse uma cadeira de conselheiro no Tribunal de Contas do Estado. Se tivesse ido para o TCE, qualquer processo judicial contra ele seria remetido para o Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Outros denunciados no mesmo processo receberiam idêntico benefício.

Pelas normas do TCE, a vaga de conselheiro iria para um técnico da instituição. Mas, no fim do ano passado, o governo estadual decidiu que a cadeira seria de Albertassi – três técnicos que haviam se candidatado foram procurados por assessores do parlamentar e desistiriam de concorrer. A nomeação passou a ser tratada com urgência. No dia 7 de novembro, Freixo foi à tribuna da Assembleia Legislativa e criticou de maneira dura a indicação. Logo em seguida, recebeu uma ligação do Ministério Público Federal, que pediu uma reunião com ele. Na conversa, os procuradores perguntaram se ele tomaria alguma medida para tentar barrar a nomeação de Albertassi. “Entendi que aquilo não era gratuito, que eles queriam que eu tomasse uma atitude, percebi que algo estava em curso”, afirmou Freixo.

Ele entrou com a ação judicial contra a escolha de Albertassi, que, derrotada em primeira instância, obteria, no dia 13, uma liminar no Tribunal de Justiça, o que impediu a ida do deputado para o TCE. No dia seguinte, a Polícia Federal e o MPF deflagraram a Operação Cadeia Velha, determinou a prisão de um filho de Picciani e a realização de buscas em escritórios e residências dos três deputados. Dois dias depois, o Tribunal Regional Federal da 2ª Região determinou a prisão dos três – isso não teria sido possível caso Albertassi tivesse ido para o TCE. “Haveria um deslocamento da ação que beneficiaria todos eles”, confirmou Freixo.

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Milicianos

O deputado desconfia da versão de uma testemunha de que Marielle tenha sido morta por ter contrariado interesse de milicianos envolvidos em disputas de terras na Zona Oeste. Segundo ele, a vereadora não atuava na região. O depoimento da testemunha relacionou o crime ao assassinato de Carlos Alexandre Pereira, o Cabeça, assessor informal do vereador Marcello Siciliano (PHS). VEJA apurou que a insistência em vincular o crime a Marielle gerou conflitos na Delegacia de Homicídios e que um policial chegou a ser afastado por se recusar a estabelecer qualquer relação entre os fatos. O miliciano Orlando Oliveira Araújo foi denunciado pela morte de Cabeça, mas o Ministério Público não ligou o caso à morte da vereadora.

Outro lado

Advogado do deputado Edson Albertassi, Márcio Delambert afirmou que a suspeita sobre seu cliente não passa de “hipótese fantasiosa, indigna de fé”. Disse que serão tomadas “todas as medidas judiciais cabíveis” contra “tamanha irresponsabilidade”.

Jorge Picciani divulgou a seguinte nota:

“Marcelo Freixo age de forma irresponsável, sem nenhum limite ético na sua ambição política. Na sua ânsia incontrolada de se promover sobre uma tragédia que abalou o país, atua de maneira abusiva. 

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Sem nenhum indício, acusa a esmo e de má-fé qualquer opositor político seu no afã de se manter na mídia. É o verdadeiro anjo com tridente. Ele se especializou em atirar contra tudo e todos. Suas balas perdidas atingem quem não deve.

Sua atitude é tão vil que chegou a levar familiares da vereadora para darem entrevista tendo como fundo um cartaz no qual atacava o MDB .

Não é demais lembrar que foi graças ao meu apoio que a CPI das Milícias existiu — e ele sabe disso melhor do que ninguém. Todos os que me conhecem e conviveram comigo na Assembleia e na vida pública sabem que eu jamais levantei a voz contra qualquer pessoa, mesmo quando reiteradamente atacado. Todos são testemunhas de que nunca pratiquei nenhum ato de violência e sempre condenei o uso da força em qualquer situação. Todos também sabem, inclusive a oposição e o próprio Freixo, que as divergências que tive na minha vida pública sempre foram resolvidas por meio do diálogo, buscando o consenso.

A mentira dele distorce fatos corriqueiros. Não é verdadeiro me vincular à indicação do deputado Albertassi a uma vaga do TCE. Não falei com nenhum técnico do TCE que era candidato e também não buscava fórum no STJ pois eu não sabia da investigação que ocorria e que estava sob sigilo — mas, ao que parece, a julgar pelo que diz, Freixo sabia do que deveria ser sigiloso.

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Por meio dos meus advogados estou tomando as medidas judiciais cabíveis contra ele.

VEJA procurou os advogados de Paulo Melo e ainda aguarda uma resposta.

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