PM-SP processará escritor que ligou corporação ao nazismo em charge
Instituição enviará representação ao Ministério Público pedindo para que Anderson França responda pelo crime de difamação e tenha de pagar uma indenização
A Polícia Militar de São Paulo entrará com uma representação junto ao Ministério Público para que o escritor Anderson França seja responsabilizado criminalmente por uma charge em que associou a corporação ao nazismo. O desenho foi postado nas redes sociais no dia 1º de dezembro do ano passado e fazia referência a uma ação da PM-SP que resultou na morte de nove jovens em um baile funk em Paraisópolis, na periferia da cidade.
A charge foi republicada nesta quarta-feira, 22, pelo governador João Doria (PSDB-SP). “Este crime não ficará impune”, postou o tucano. No texto que acompanhava o desenho, Anderson França dizia que Doria “comemora menos nove trabalhadores”. A publicação também trazia a expressão “Heil, Doria”, em alusão ao grito nazista de saudação ao ditador Adolf Hitler.
Anderson França havia provocado uma polêmica nas redes sociais ao publicar na terça, 21, um texto no jornal Folha de S.Paulo em que acusava artistas dos gêneros axé, pagode e sertanejo de não terem se manifestado publicamente contra o discurso que levou à demissão do ex-secretário da Cultura Roberto Alvim. O titular da pasta perdeu o emprego ao parafrasear o nazista Joseph Goebbels, ministro da propaganda do ditador Adolf Hitler.
Para ilustrar o texto, Anderson França usou uma charge em que as cantoras da dupla Maiara & Maraisa apareciam vestindo a braçadeira com a suástica nazista. O jornal retirou a imagem do ar após as cantoras veicularem uma nota em que prometiam tomar as medidas cabíveis contra o autor do artigo de opinião.
“Estamos adotando todas as providências para responsabilizar o autor pelos crimes cometidos com sua atitude, sem prejuízo de ações também em outras esferas. Um ato irresponsável como este não pode ficar impune”, afirmou o comandante-geral da PM-SP, Marcelo Vieira Salles, por meio de um comunicado. “Respeitamos absolutamente a liberdade de expressão e de pensamento, mas atitudes como esta são inaceitáveis.”
De acordo com Salles, a corporação pedirá para que Anderson França responda pelos crimes de difamação, violação de direito autoral, contra a propriedade industrial e pela utilização da suástica com a finalidade de divulgar o nazismo. A PM-SP também ajuizará uma ação de indenização por danos morais e pelo uso sem autorização da logomarca da instituição.
Em nota, o governo de São Paulo informou que João Doria também adotará “medidas judiciais para reparação dos danos a ele causados, especialmente em razão das condutas relacionadas à apologia aos crimes de ódio”.
Anderson França respondeu às ameaças de processo em seu perfil no Facebook. “Cês [sic] acham que vão me silenciar?”, escreveu. “Cês tão [sic] virando os holofotes para mim. De cantor a político atrás do meu sangue. Vocês estão me dando, em um dia, o que tem gente que leva anos pra conseguir: voz.”