Perícia identifica 39 mortos no massacre de Manaus
Dos 39, trinta sofreram decapitação. Exames de DNA, que podem demorar até um mês, serão usados na identificação das vítimas que foram carbonizadas
O Instituto Médico-Legal (IML) de Manaus identificou 36 vítimas do massacre no Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj) e três presos mortos na unidade de Puraquequara. Dez corpos já foram liberados, dos quais quatro foram retirados pelas famílias para sepultamento.
As informações foram dadas pelo Departamento de Polícia Técnico-científica. De acordo com o diretor, Jefferson Mendes, trinta dos 39 identificados até o momento sofreram decapitação. Ele informou ainda que os procedimentos de identificação mais complicados deverão ser das vítimas que foram carbonizadas durante a rebelião. “Nossos peritos são preparados para atuar nesse tipo de ação. Mesmo assim é algo chocante, porque nunca viram a forma como se apresentam os corpos agora”, disse.
No total, 38 peritos se revezam no serviço de necropsia e liberação dos cadáveres. Mendes disse não ter encontrado até o momento marcas de tiros nas vítimas. Imagens gravadas pelos próprios detentos rivais, no momento do ataque, mostram um grupo portando armas de fogo.
O que ajuda a explicar a demora no trabalho, contaram os peritos, é que nenhuma vítima foi poupada de perder alguma parte do corpo. Os relativamente menos afetados perderam um membro; os mais, foram esquartejados, com os órgãos retirados e acabaram carbonizados. Na cidade, as imagens sangrentas se espalharam pelos celulares com rapidez e dominaram as conversas cotidianas.
Segundo o diretor, o primeiro passo tomado pela perícia foi a tentativa de identificação por impressão digital, tendo seguido para arcada dentária. Nas vítimas carbonizadas, ele não descartou o uso de exames de DNA para conseguir liberar o corpo. Essa etapa pode durar de quatro dias a um mês, dependendo da qualidade do material coletado, explicou.
Compõem a lista de corpos liberados pelo IML os detentos Magaiwer Vieira Rodrigues, Artur Gomes Peres Junior, Rajean Encarnação Medeiros, Dheik da Silva Castro, Francisco Pereira Pessoa Filho, Rafael Moreira da Silva e Errailson Ramos de Miranda.
Depois de enfrentarem problemas de comunicação e apoio a famílias das vítimas, o IML liberou na noite desta terça-feira, duas salas em sua sede para organizar o fornecimento de informações, além de ter instalado tendas do lado de fora da unidade. Durante a manhã e a tarde, familiares reclamaram do tratamento recebido, porque tiveram de se comunicar da calçada com a equipe por uma grade. Muitos desistiram de buscar informações.
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E os problemas não se limitaram ao IML. Quarenta e oito horas depois de iniciada a rebelião, a lista de mortos ainda não havia sido divulgada. A 22 quilômetros dali, a doméstica Leila Silva, 40 anos, buscava informações sobre o marido Paulo Henrique na porta do Complexo Penitenciário Anísio Jobim (Compaj).
Ao menos oito pessoas foram ao local e fizeram o mesmo procedimento em busca de informações de familiares e amigos em um intervalo menor que duas horas, na manhã desta terça-feira. A movimentação de viaturas e de carros oficiais era intensa. O comerciário Nilton Lemos, 57 anos, havia conseguido a informação de que seu sobrinho estava vivo no interior do Compaj. Leila também soube que seu marido havia sobrevivido ao massacre.
A Defensoria Pública do Amazonas informou nesta terça que deverá colocar em operação nesta semana uma central de atendimento a familiares dos presos mortos na rebelião, além de ter defendido uma força-tarefa com o Ministério Público para atendimentos nos presídios. Isso ocorreria com objetivo de acelerar a análise de processos de execução penal.
Foi proposta, ainda, ao ministro Alexandre de Moraes, a formalização de convênio entre a Defensoria o Ministério da Justiça para instalação de núcleo especializado em execução penal, com recursos do Fundo Penitenciário Nacional, com capacidade para prestar assistência a toda população carcerária do Amazonas, “medida que só será possível se vier acompanhada das nomeações de novos defensores públicos”, destacou o órgão.
(Com Estadão Conteúdo)