Para o ministro responsável por controlar os gastos do governo e evitar possíveis abusos com o dinheiro público, o escândalo dos cartões corporativos não existe. Conforme Jorge Hage, ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU), as notícias sobre o uso irregular dos cartões — admitido por ele — e a revolta nacional com a quebra das regras foram exageradas. Na tentativa de minimizar a importância da crise, ele classificou o caso, nesta quarta-feira, de “escandalização do nada”.
A declaração foi feita durante depoimento à CPI dos Cartões, no Congresso. “Se fala em uma farra, mas estão fazendo a escandalização do nada”, afirmou ele. Apesar dos numerosos casos comprovados de abuso — que inclusive derrubaram uma ministra, Matilde Ribeiro –, Hage disse que os órgãos de imprensa exageraram na repercussão do caso. “O folclórico, o pitoresco sempre chamam atenção”, disse ele, sobre os episódios que ganharam destaque nos jornais, revistas e TV.
Ele citou o uso do cartão pelo ministro dos Esportes, Orlando Silva, para comprar uma tapioca em Brasília. “Se tivesse sido um sanduíche do McDonald’s, a compra de um hamburger [em pronúncia inglesa], talvez não tivesse tanto apelo. Alguém ia denunciar?”, perguntou. O exemplo, contudo, foi infeliz — afinal, o uso foi irregular. “O problema da tapioca é que foi em Brasília. Se a tapioca fosse em São Paulo, poderia.” O uso do cartão com alimentação é permitido fora da capital federal.
Hage também criticou a repercussão negativa do uso do cartão para comprar uma mesa de sinuca para o Ministério das Comunicações. “Eu entendo como legítimo que o Ministério das Comunicações cuide do patrimônio público. Essa mesa é patrimônio público, usada como lazer para os motoristas, trabalhadores humildes, no subsolo do ministério. Eu pessoalmente acho justo.” Na avaliação de Hage, houve “preconceito” nas notícias sobre os gastos irregulares com os cartões.
O ministro elogiou o uso dos cartões e disse que, apesar da atual crise, a transparência e o controle dos gastos melhoraram — ele chamou de “inqualificável” a idéia de suspender o mecanismo. Hage disse que a CGU estuda colocar no Portal da Transparência as informações dos gastos feitos com dinheiro sacado com os cartões — hoje, não há prestação de contas dessa modalidade, a mais comum. “Embora fosse previsto como exceção, o saque era usado como regra”, admitiu ele.