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Para especialistas, calamidade no Rio já era esperada

Por Cecília Araújo
6 abr 2010, 18h33

O desastre que se abateu sobre o Rio de Janeiro choca pela grande quantidade de vítimas e pelo caos urbano, mas não surpreende os especialistas ouvidos por VEJA.com. “A topografia montanhosa, repleta de rios e lagoas, é pouco favorável para o desenvolvimento de centros urbanos”, diz Sílvia Barboza, coordenadora da Comissão de Habitação do Instituto dos Arquitetos do Brasil (IAB-RJ). “Para piorar, as encostas são ocupadas desde o século XIX.”

Luis César Queiroz Ribeiro, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (IPPUR/UFRJ), acredita que os danos poderiam ter sido ainda maiores com esse volume de chuva. Segundo ele, era possível prever esse tipo de catástrofe e se antecipar a ele. “O Rio de Janeiro, assim como São Paulo, é produto de construções desordenadas, que não obedecem a padrões urbanos e leis de uso e ocupação do solo”, defende. “Esse caos é um reflexo da fragilidade do poder público em administrar a cidade.”

De acordo com o especialista, não se pode contabilizar ao certo o número de pessoas que vivem em áreas de risco e onde estão localizadas. Ele garante, porém, que a população atingida pelas chuvas não está apenas nas favelas: “Essas ocupações não são feitas apenas pela população mais pobre; os ricos também constroem casas em áreas consideradas de risco”.

Chuva histórica – Segundo Sílvia Barboza, chuva desta terça-feira deve entrar para a história de registros, podendo ser comparada a outras fortes ocorrências, em 1966, 1988 e 1996. “É uma chuva histórica, porque não atingiu apenas favelas e áreas de risco. O que aconteceu foi um nó na cidade. Desta vez, a chuva chegou a regiões não exatamente de população empobrecida, arrancando áreas de encosta de regiões ocupadas pela classe média alta”, completa.

Sílvia enfatiza que o primeiro passo agora é olhar para as áreas de risco que, historicamente, sofrem com os temporais, como a região da Praça da Bandeira e os morros do Macaco, do Borel e da Mangueira. “São locais que realmente precisam ser trabalhados, pois já mostraram várias vezes que não podem comportar esse tipo de desastre”, pontua.

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De acordo com Sílvia, o entorno da Mangueira, por exemplo, possui bons terrenos livres que poderiam fazer parte de programas federais. “A cidade precisa de planejamento urbano, e os programas urbanísticos do governo devem estar integrados para que as soluções não sejam pontuais. O aperfeiçoamento desses programas é essencial para minimizar as tragédias, pois elas sempre vão ocorrer”, opina. Outra medida importante seria mapear a cidade, para que se descubra terrenos e imóveis desocupados. Assim, a população que ocupa as áreas de risco poderia ser transferida.

Para Luís Ribeiro, esses eventos climáticos, mesmo aqueles fora do padrão, poderiam ser previstos com antecedência se houvesse um planejamento urbano, com mapeamento das áreas. Dessa forma, o desastre poderia ter sido evitado. “Os governantes colocam a máquina para funcionar apenas em situações de emergência. Querer tirar a população dos locais de risco no meio do caos é se omitir da responsabilidade de autoridade pública”, diz Ribeiro.

(Com reportagem de Marina Dias)

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