Papa quer ‘banho de povo’ e cobrará políticos no Brasil
Segundo o Vaticano, recentes protestos fizeram pontífice reescrever seus discursos, em que elevará os questionamentos aos dirigentes
Por Da Redação
18 jul 2013, 08h26
Diante da perspectiva de protestos durante a visita do papa Francisco ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, na próxima semana, o Vaticano já anunciou sua posição: está ao lado dos manifestantes e prepara um discurso de cobrança à classe política. Além disso, a Santa Sé alerta que, se ceder e aceitar algumas mudanças na agenda do pontífice por causa da segurança, ele não abrirá mão de um “banho de povo”. O discurso oficial em Roma é de apontar que a Igreja não é o alvo dos protestos. “Não é um confronto com o papa ou com a Igreja”, declarou o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi. Em outras palavras: as ruas protestam contra os políticos, não contra o papa, que não disfarça a seus assessores mais próximos e outros cardeais sua simpatia com o que vê nas ruas.
Nesta quarta-feira, na Cidade do Vaticano, Lombardi explicou a dezenas de jornalistas de todo o mundo o percurso frenético que Francisco fará em sua primeira viagem internacional. A agenda original foi modificada pelo próprio papa. Mas não para se proteger, e sim para abolir dias de descanso e incluir inúmeras atividades com caráter social que não estavam previstas, entre elas a visita a uma favela, a um hospital e a detentos.
Após as recentes manifestações, ele também fez questão de reabrir seus discursos e reescrevê-los. Nos novos textos, além do esperado “recado de esperança” aos jovens, ele eleva o tom de questionamento aos dirigentes. O discurso voltado para a classe política já tem até local escolhido pelo papa: o Teatro Municipal do Rio de Janeiro. “O papa quer falar ali aos responsáveis por decisões na sociedade”, indicou o padre Lombardi. Nos bastidores, fontes no Vaticano confirmaram que o pontífice argentino acredita que chegou o momento de o governo “escutar o povo”.
Vídeo: Fiéis carregam a Cruz Peregrina até o Pão de Açúcar Questionado sobre as ameaças de manifestações identificadas pelo governo, Lombardi deixou claro que não há revisão dos planos. “Se houver mudanças, eles (as autoridades brasileiras) nos comunicarão. Mas, no momento atual, não esperamos que existam inconvenientes particulares ou consequências para a Jornada.” Leia também:
Paes pede trégua em protestos do Rio: ‘Papa não tem culpa’ A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo apurou que, na negociação com as autoridades brasileiras, o Vaticano já mandou um recado claro: o papa não aceitará ser isolado ou que seus planos de contato com a população sejam reduzidos. O Vaticano não esconde que parte da proteção de Francisco virá até de sua mensagem. “Todos entendem que a mensagem do papa é de solidariedade, de convivência pacífica na sociedade e de desenvolvimento igualitário para todos”, disse Lombardi. Durante toda a semana que antecede a viagem, Francisco tem se mantido afastado do público, justamente para preparar sua mensagem.
(Com Estadão Conteúdo)
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