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Pagamento de propina mantinha polícia fora da favela

Gravações telefônicas obtidas pelo site de VEJA mostram como bandidos negociaram com policiais para garantir tranquilidade à venda de drogas no município de São Gonçalo. Batalhão é o mesmo de onde saíram os policiais que mataram a juíza Patrícia Acioli

Por Leslie Leitão 20 dez 2011, 20h17

A investigação que levou à prisão o coronel da PM Djalma Beltrami, comandante do 7º BPM (São Gonçalo), tem, em seu conjunto de provas, interceptações telefônicas que mostram como o pagamento de propina servia para manter a Polícia Militar fora da favela controlada por traficantes da região. Os grampos fundamentaram os pedidos de prisão contra 13 policiais, entre eles o oficial. Em conversas com mo traficante Maico dos Santos de Souza, o Gaguinho, chefe do Morro da Coruja, os policiais falam sobre pagamentos ao “zero um” – referência ao comandante, segundo a Polícia Civil.

A ligação direta de Djalma com os traficantes ainda não foi provada. Mas, para os investigadores da Delegacia de Homicídios de Niterói e São Gonçalo e para o Ministério Público, está clara uma relação entre os pagamentos da propina e a suspensão das atividades da polícia no Morro da Coruja. Decisões desse tipo – capazes de manter a polícia fora de uma região sabidamente controlada por traficantes – só são tomadas pelo comando de uma unidade.

Nesta terça-feira, o coronel Djalma Beltrami recebeu apoio de três coronéis da PM. Os ex-comandantes da PM Mário Sérgio Duarte e Ubiratan Ângelo, com o também coronel Fernando Belo, da Associação de Oficiais da PM, foram ao Quartel General da PM e disseram ter plena confiança em Beltrami. O grupo considerou arbitrária a prisão do comandante do batalhão de São Gonçalo, decretada pela Justiça com base em investigação da Polícia Civil e em parecer do Ministério Público.

As gravações foram obtidas pelo site de VEJA. Uma das conversas registradas pela Polícia Civil acontece às 16h09 do dia 10 de setembro – uma semana depois da chegada de Djalma Beltrami e sua equipe ao 7º BPM. No relatório da investigação consta que o diálogo se dá entre o traficante Gaguinho e um policial militar recém-chegado à unidade. O policial explica que precisaria falar com um oficial de patente maior para estabelecer o contato direto com o coronel Djalma Beltrami.

Gaguinho diz que quer “arregar” – pagar propina – também ao “01” (comandante do 7ºBPM). O policial responde: “Manda vir hoje, que eu já vou botar de téte-a-téte. Já pra desenrolar e ninguém nunca mais arrumar caô por aí (fazer operações na favela), que é pro bagulho (a boca de fumo) ficar tranquilo, voltar os bailes, entendeu?” Os bailes funk, até então proibidos pela PM na região, voltaram a acontecer.

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No mesmo dia, mais tarde, às 18h36, o traficante reclama do preço cobrado pelos policiais. A partir deste momento, os policiais corruptos informam que o novo grupo que acaba de chegar ao batalhão exige 10.000 reais por plantão. Gaguinho, no entanto, aceita pagar 4.000 reais por dia a cada patrulha, mais 10.000 semanais ao comandante. O policial explica que a boca de fumo vai vender muito, pois não haverá repressão por parte dos policiais do 7ºBPM.

Gaguinho reclama do preço: “Nessas condições aqui não dá não”. O PM expõe as vantagens da negociação. “O bagulho (venda de drogas) vai ficar frenético, meu mano. Quinta, sexta, sábado e domingo lazer total. Baile (funk) os quatro dias direto”, explica. O traficante tenta barganhar: “Não tem como eu mandar 10 mil pra cada blazer por dia”. “É melhor, porque vai ser tudo tramado. Ninguém (da polícia) vai entrar e o bagulho vai ficar frenético”, diz o policial.

Em outra conversa, registrada às 18h44, o policial retoma a negociação. Explica que tudo mudou e que o batalhão está sob novo comando. Ele tenta convencer o bandido a aumentar o valor da propina. Depois de tratar de valores, o policial dá a garantia de que o tráfico não vai ser incomodado. “Eu sou o grande. Só eu que vou poder entrar aí (invadir a favela)”.

Um mês depois, uma gravação indica, para a Polícia Civil e o MP, que o esquema de pagamento estava funcionando, com a anuência de um alto oficial da PM, com poder no batalhão para suspender ações de repressão ao tráfico no Morro da Coruja.

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A conversa ocorre no dia 10 de outubro de 2011, às 17h39:

Gaguinho – Fala aí, parceiro. O que que houve aí, cara. Tá quebrando o arrego (descumprindo o acordo para não reprimir o tráfico)?

PM – Não, eu não quebrei, não.

Gaguinho – Escuta! Olha só, deixa eu falar contigo. Eu anotei o número da sua viatura, vou mandar lá pro seu comandante maior, que ele leva 40 mil aí. Vai acabar o arrego por causa de tu e aí tu desenrola com ele (explica a situação ao seu superior).

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PM – Parceiro, olha só. O trato que temos contigo é não entrar no seu negócio. Nós pegamos o cara aqui na pista (fora da favela). Não entrei não. Não tenho trato com você na pista, não. O trato é não zoar (reprimir o tráfico) aí dentro. Agora tu vai me ameaçar?. Então tu liga pra quem tu quiser, meu parceiro.

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