Enquanto os índices de homicídios em São Paulo e no Rio de Janeiro chegaram a cair 80% nos últimos dez anos, as capitais nordestinas bateram recordes de assassinatos, segundo o Mapa da Violência 2013 – Homicídios e Juventude no Brasil, com base no DataSUS. Entre os mais de 5.000 municípios do país, quinze ultrapassaram a marca de cem mortes por 100.000 habitantes. Entre essas quinze cidades, dez ficam na região Nordeste e três na Norte.Em 2010, apenas Simões Filho, na Bahia, registrou um índice tão alto.
A migração desse tipo de crime foi detectada por estudo preparado pelo sociólogo Júlio Jacobo Waiselfisz. A atração causadapela abertura de novas fronteiras econômicas, somada à falta de estrutura das regiões para lidar com a violência, permitiu a escalada das mortes onde antes se conhecia relativa tranquilidade.
Leia também:
número vítimas de homicídios dolosos aumenta 8,3% na capital
O Mapa da Violência mostra que, na Bahia, a taxa de homicídios por 100.000 habitantes cresceu 223,6%. Na Paraíba, 202,3%. No Rio Grande do Norte, 190,2%. Esse quadro também atinge principalmente os jovens. Em Alagoas, morrem 156, 4 jovens a cada 100.000 habitantes, taxa quase oito vezes superior à de São Paulo.
cidade |
Taxa por
Publicidade
100.000 habitantes |
---|---|
Simões Filho (BA) | 139,4 |
Campina Grande do Sul (PR) | 125,3 |
Ananindeua (PA) | 118,8 |
Cabedelo (PB) | 116,7 |
Arapiraca (AL) | 112,4 |
Maceió (AL) | 111,1 |
Guaíra (PR) | 110,2 |
Rio Largo (AL) | 108,9 |
São Miguel dos Campos (AL) | 108,2 |
Marituba (PA) | 107,4 |
Marabá (PA) | 107,2 |
Porto Seguro (BA) | 105,9 |
Pilar (AL) | 104,6 |
Mata de São João (BA) | 102,8 |
Marechal Deodoro (AL) | 102,7 |
Capitais – A epidemia de assassinatos que atinge o Nordeste pode ser traduzida pelos números das capitais. Em 1999, Salvador era a área metropolitana mais tranquila do País. Em doze anos, pulou para a terceira colocação – a taxa de homicídios passou de 7,9 por 100.000 para 69 por 100.000. Maceió, a 1.ª do ranking hoje, com 111 assassinatos por 100.000, era apenas a 14.ª há 12 anos.
Das oito cidades que compunham a lista das capitais mais violentas, apenas Vitória e Recife ainda continuam entre as primeiras. A capital do Espírito Santo caiu do primeiro para o quinto lugar e Recife, da segunda para quarta posição. São Paulo, que era o terceiro lugar em 1999, hoje é a capital menos violenta do país.
A análise feita por Jacobo mostra que o eixo da violência acompanha seis tipos de alterações no perfil socioeconômico do país. A principal são os novos polos de desenvolvimento, que cresceram não apenas nas capitais do Norte e do Nordeste, mas no interior dos Estados. Entre 2003 e 2011, a violência aumentou 23,6%, enquanto nas capitais, caiu 20,9%, com a concentração maior nas cidades do Sul e Sudeste.
“A emergência desses novos polos de crescimento, atraindo investimentos e gerando emprego e renda, tornam-se também atrativos para a criminalidade por serem áreas onde os mecanismos da segurança são ainda precários ou incipientes, sem experiência histórica e aparelhamento para o enfrentamento das novas configurações da violência”, diz o estudo.
Fronteiras – As fronteiras são outro foco decriminalidade. Uma das duas únicas cidades fora do Nordeste que alcançaram a média de mais de 100 homicídios por 100.000 habitantes é Guaíra, no Paraná, na fronteira com o Paraguai e divisa com Mato Grosso do Sul. Jacobo elenca causas tradicionais como os fomentadores da violência, como a presença das organizações criminosas, do tráfico e das milícias.
(Com Estadão Conteúdo)