No Rio, ao menos duas mil famílias têm medo de passar fome
Levantamento identificou que moradores muito pobres da cidade têm crianças fora da escola e moram em casas sem banheiro
Quase um ano e meio depois de sediar os Jogos Olímpicos e de receber uma enxurrada de investimentos do governo federal e da iniciativa privada, o Rio de Janeiro ainda convive com o fantasma da fome. Um levantamento inédito do Instituto Pereira Passos (IPP) identificou que pelo menos 2 324 famílias vivem em condição de vulnerabilidade econômica e social. O número mais impactante da pesquisa revela que 95% delas têm medo de chegar ao fim do mês sem comida na geladeira.
A pesquisa visitou quase 20 mil famílias das áreas mais pobres da cidade e ainda não foi concluído. Os dados preliminares foram divulgados na edição desta semana de VEJA e dão conta de uma realidade que parecia ter ficado no passado: cerca de 20% das casas visitadas têm crianças fora da creche e 25% fora da escola; 75% têm chefes de família com menos de cinco anos de estudo. Em um terço dessas famílias vivem pessoas que não têm CPF.
Quando foram avaliadas condições de habitação, as equipes do IPP identificaram que 70% dos domicílios não têm rede de esgoto, e 40% não possuem água tratada. Uma em cada cinco famílias não têm sequer chuveiro e vaso sanitário. A maioria das casas visitadas estão na Zona Oeste, região que recebeu a maior parte das obras e investimentos para os jogos Olímpicos de 2016.
O levantamento do IPP é a etapa inicial de um programa municipal chamado Territórios Sociais, que pretende levar às famílias em vulnerabilidade serviços básicos aos quais elas não têm acesso. “Começamos a identificar esses moradores para, num primeiro momento, providenciar o mais básico, como a emissão de documentos, e a matrícula de crianças nas escolas”, explica o presidente do IPP, Mauro Osório. Também caberá às equipes da prefeitura facilitar o acesso dos moradores aos serviços de saúde, programas habitacionais e ao mercado de trabalho. Os contemplados serão acompanhados por um período de até um ano.