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No Alemão, ‘tráfico formiguinha’ desafia a tropa de pacificação e ainda amedronta moradores

Exército admite presença dos pequenos traficantes e seu poder de intimidação - na contramão do que defende secretário de Políticas sobre Drogas

Por Cecília Ritto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 11 jan 2011, 17h16

“Dentro de nossas campanhas para aproximar os moradores dos homens da Força de Pacificação, distribuímos doces para crianças. Alguns pais tiraram os doces das mãos das crianças e devolveram aos soldados, com medo de represália”

Passados quase dois meses da ocupação pela polícia dos Complexos da Penha e do Alemão – e vencida também a fase da euforia com a retomada dos territórios -, as autoridades de segurança envolvidas na ação começam a relatar um quadro mais realista do que ocorre hoje e do que se projeta para o futuro dos conjuntos de favelas da região. Sem abrir mão dos méritos da ação, o Exército admite que o poder de adaptação dos traficantes que permaneceram na região cria novos caminhos e novas formas para alimentar o comércio de drogas. E, mesmo diante dos olhos de 1.927 homens da Força de Pacificação, persiste o tráfico “formiguinha” – aquele que não mobiliza grandes quantidades e se entranha na rotina da população para se tornar quase invisível ao policiamento.

“A população, de maneira geral, nos recebe bem. No entanto, em algumas áreas, a presença de bandidos inibe as denúncias. Os traficantes são mais problemáticos do que o trânsito de pequenas quantidades de drogas. Certa vez, dentro de nossas campanhas para aproximar os moradores dos homens da Força de Pacificação, distribuímos doces para crianças. Alguns pais tiraram os doces das mãos das crianças e devolveram aos soldados, com medo de represália”, afirmou o major Fabiano de Carvalho, assessor de comunicação da Força de Pacificação.

A avaliação do representante da Força de Pacificação vai contra o que defendeu, em entrevista ao jornal O Globo publicada nesta terça-feira, o novo secretário Nacional de Políticas sobre Drogas, Pedro Abramovay. Ele defendeu o fim da prisão de pequenos traficantes como uma maneira de reduzir a superlotação dos presídios brasileiros. Ainda de acordo com o secretário, os pequenos traficantes correspondem a mais da metade dos presos nos últimos quatro anos. Apesar de ser inegável a necessidade de encontrar uma saída para a superpopulação carcerária, a realidade no Alemão indica que um pequeno traficante pode não ser apenas um criminoso a ser tratado como caso isolado, mas um elo de uma cadeia pronta para recuperar sua força de opressão nas regiões onde atua.

O Exército admite a existência dessa modalidade de crime e a dificuldade para combatê-la. Principalmente porque mesmo diante de sucessivas revistas e blitzes, só é possível tirar de circulação os criminosos que tenham algo a explicar à Justiça ou em flagrante. E as suspeitas da polícia e dos militares é que os bandidos que não tenham qualquer tipo de registro tenham assumido a venda e a distribuição do varejo das drogas.

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“Não temos pretensão de afirmar que 100% dos traficantes estão inoperantes. Imaginamos que o tráfico de formiguinha consiga sair com pequenas quantidades”, disse o major. Ele lembra que é difícil detectar esse tipo de criminoso, até mesmo pelo fato de eles conhecerem bem a região. “Esses traficantes passam por vielas e desviam de nossas tropas. Pode acontecer de nós não pegarmos. Mas a venda de drogas não existe mais no volume de antes. Essa é nossa vitória”, afirma.

O traficante ‘formiguinha’, na linguagem da polícia, não tem fama suficiente na hierarquia do tráfico e, normalmente, sequer chegou a ser fichado. “Achamos drogas enterradas e em escombros. A região é gigantesca. O tráfico também pode acontecer no Leblon e em Copacabana. Seria arrogância dizer que acabamos com a criminalidade no Alemão porque estamos aqui”, explica o major. Ele também destaca que outros problemas ainda existem, como motos e carros roubados. Nesta terça-feira, por exemplo, o sobrinho menor de idade do traficante Diego Raimundo Silva Santos, conhecido como Mister M – entregue à polícia pela própria mãe, durante a ocupação policial – foi detido com uma motocicleta roubada. Junto com a dele, outras oito motos e mais 17 automóveis foram apreendidos.

O Exército pede que os moradores das favelas denunciem os criminosos, utilizando o número 0800-021-7171. O telefonema chega diretamente a uma central da Força de Pacificação, que consegue estar no local da denúncia com rapidez suficiente para configurar um flagrante. O que pode comprometer a nova estratégia é o medo de alguns moradores em colaborar com o Exército, justamente pela presença desses traficantes. Para o major Fabiano, isso é apenas uma questão de tempo.

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