Foram acusados formalmente nesta terça-feira os dois policiais militares responsáveis pela perseguição insana que terminou com a morte da universitária Haíssa Vargas Motta, de 22 anos, no Rio de Janeiro. Tanto o policial que efetuou os disparos quanto o que dirigia o veículo foram acusados de homicídio duplamente qualificado, segundo a denúncia apresentada à Justiça pelo Ministério Público estadual.
A estudante foi assassinada durante uma caçada policial no dia 2 de agosto do ano passado. O caso veio à tona após reportagem de VEJA desta semana divulgar imagens das câmeras instaladas na viatura que registraram a ação desastrada da Polícia Militar. Inicialmente, o Ministério Público divulgou que apenas o soldado Márcio José Watterlor Alves, autor dos disparos, responderia pelo crime. Mas o cabo Delviro Anderson Moreira Ferreira, que dirigia o veículo, também foi responsabilizado penalmente.
Nas gravações, o soldado Alves aparece com o corpo para fora do carro disparando nove tiros de fuzil contra um veículo considerado suspeito. Nele, estavam Haíssa e mais três amigas. Um dos disparos atravessou o banco de trás e atingiu as costas de Haíssa, que ainda chegou a ser levada para o hospital, mas não resistiu aos ferimentos. No caminho até a unidade de saúde, duas amigas, desesperadas, seguiram o trajeto no carro da PM. O cabo Ferreira, que dirigia a viatura, ainda chegou a questioná-las: “Por que não pararam?”. Depois, recua e admite o erro. “Não justifica ter dado o tiro”.
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Ao reportar o caso para a central, Alves afirma, atônito: “Não sei nem o que eu falo”. No final da gravação, o colega de Alves chega a comentar com as amigas de Haíssa: “Nós vamos responder por todos os nossos atos”. O motorista do carro que levava Haíssa e as três amigas declarou, em depoimento, que não parou o carro porque pensou que os policiais perseguiam uma moto, que ia atrás dele.
Para o Ministério Público, o crime foi cometido por “motivo fútil” – apenas porque a vítima não parou imediatamente com a aproximação dos policiais. Os promotores também viram “impossibilidade de defesa”, porque a vítima estava no banco traseiro do veículo, sem chance de se proteger dos disparos efetuados.
“O crime foi cometido por motivo fútil, somente porque o veículo onde estava a vítima não parou imediatamente com a aproximação da viatura da policia militar”, afirmam os promotores Dário Marcelo Menezes Brandão, Elisa Ramos Pittaro Neves e Jorge Magno Reis Vidal na denúncia.
Em novembro, Alves foi indiciado pela Polícia Civil por homicídio doloso. Foi o terceiro auto de resistência – morte a tiros decorrente de intervenção policial – em quatro anos de carreira do soldado Alves. A corporação informou que eles foram afastados de suas funções e que um inquérito foi aberto para investigar o caso.