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‘Me arrependo de ter comprado arma’, diz pai de vítima de tiro acidental

Jovem disparou espingarda de pressão para 'dar um susto' no primo de 11 anos, mas chumbinho ricocheteou e acertou o garoto

Por Fernanda Bassette
19 jan 2019, 11h16

O feriado do Dia das Crianças, comemorado todo mês de outubro, ficará marcado para sempre na vida do eletricista Dione da Silva Pereira, de 31 anos. Não por ser uma data de presentear as crianças, mas porque foi nesse feriado, no ano passado, que ele perdeu seu único filho homem, Jheison, de 11 anos, vítima de um acidente com uma espingarda de pressão. O tiro foi disparado pelo sobrinho de Dione, de 12 anos.

Os pais de Jheison são separados há cerca de sete anos e o menino passaria o feriado prolongado na companhia do pai e do primo em uma chácara na zona rural de Guarantã no Norte, em Mato Grosso. O garoto seria devolvido à mãe na segunda-feira, dia 15. Mas não deu tempo.

Dione conta que mantinha na chácara uma espingarda de pressão a gás, adquirida de “segunda mão” por 1.000 reais. Ele diz que usava a arma para matar frangos e galinhas, e para assustar animais que quisessem invadir o local. “O tiro faz bastante barulho, então era uma forma de proteger a chácara e assustar bichos, caso fosse necessário”, conta.

Segundo Dione, a espingarda e os chumbinhos ficavam guardados em um quarto dentro de uma casa não ocupada na chácara. No dia do acidente, no domingo, dia 14, Dione usou a arma para matar um frango e a colocou de volta no lugar. Foi para a casa da mãe, distante cerca de 10 metros. As crianças brincavam em jogos no celular.

A bateria de Jheison acabou e o menino foi até o banheiro da casa vazia para colocar o aparelho para carregar. Seu primo entrou atrás dele e pegou a arma com a intenção de “dar um susto”.

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O menino apontou para a porta e atirou. O chumbinho ricochetou e acertou Jheison debaixo do braço. Ao ser atingido, ele ainda conseguiu correr até a área, mas não aguentou e caiu batendo com a cabeça no chão. O pai e a avó ouviram o barulho e correram ver o que tinha acontecido.

“Quando eu vi meu filho caído, peguei ele no colo, desesperado. Não vi onde foi o tiro, no local não saiu sangue. Ele sangrava pelo nariz por causa da queda, ele bateu a cabeça”, conta o pai.

Dione colocou o filho na caminhonete e o levou ao hospital, cerca de 3 km distante da chácara. Tentou manter Jheison acordado, mas não conseguiu. Ao chegar à unidade de saúde, o menino já estava sem vida. O tiro atravessou a pele e atingiu uma veia do coração e o pulmão esquerdo, causando uma forte hemorragia interna.

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‘Tive vontade de morrer no lugar do meu filho’

“Quando os médicos disseram que não havia mais o que fazer, meu mundo caiu. Só quem passa por essa dor sabe o quanto ela dói. Tive vontade de morrer no lugar do meu filho. Era meu único filho homem, meu companheiro.”

A arma foi apreendida pela polícia. Diante da tragédia dentro de casa, Dione entrou em profunda depressão, perdeu o emprego e hoje vive à base de remédios psiquiátricos. Diz chorar dia e noite e lembra do filho em todo momento.

Apesar de afirmar que o caso foi uma fatalidade, ele afirma que só não tirou a própria vida pois recebeu apoio dos amigos e família. “Me arrependo profundamente de ter comprado uma arma. Se eu tivesse noção do estrago que ela faz, se soubesse como destrói vidas, eu teria quebrado ela antes”, afirma.

Antes defensor do porte para proteção individual, agora Dione tem outra opinião. “A gente acaba sendo a próxima vítima. Se eu pudesse dar um conselho, diria para as pessoas não terem armas em casas com criança. Mais cedo ou mais tarde pode acontecer uma tragédia”.

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