Por Talita Fernandes, na VEJA.com:
Uma semana após ter sido derrotada nas urnas, Marina Silva, que disputou a Presidência da República pelo PSB, tem neste fim de semana sua última chance de declarar apoio ao candidato do PSDB, Aécio Neves. Embora tenha divulgado que anunciaria sua decisão na última quinta-feira, Marina desistiu, de última hora, de participar da reunião dos partidos que compunham sua coligação, adiando o anúncio. A expectativa é de que a ex-candidata anuncie este fim de semana de que forma se posicionará no segundo turno. De acordo com aliados próximos, Marina aguarda Aécio fazer um pronunciamento público de que vai se comprometer com os pontos colocados por ela e por seus seguidores, como condicionantes para apoio. Os marineiros esperam que o candidato tucano faça declarações neste sábado, quando cumpre agenda em Pernambuco. Se a expectativa se cumprir, Marina anuncia no domingo sua decisão.
A avaliação de alguns pessebistas e tucanos é de que Marina já “esperou tempo demais” para declarar apoio, perdendo relevância política no processo, já que o período de campanha do segundo turno é de menos de vinte dias. “Isso que estamos vendo agora é a mesma coisa que deixou Marina fora do segundo turno. Ela passa a impressão ao eleitorado de que não tem a dinamicidade necessária para tomar decisões que um presidente precisa”, afirma um membro da executiva do PSB, que diz que a demora é uma característica comum à ex-senadora. Pesquisa divulgada pelo Instituto Datafolha na quinta-feira, mostra que em torno de 60% dos eleitores de Marina já migraram para Aécio.
Do lado dos tucanos, o sentimento é de que não há muito tempo para esperar Marina. Embora haja predisposição para aceitar o apoio e incorporar pontos defendidos pela ex-senadora em seu programa, Aécio não deve acatar todas as exigências feitas por Marina, especialmente sobre o compromisso de não reduzir a maioridade penal. Esse posicionamento foi sinalizado na quinta-feira pelo tucano: “O caso não é abrir mão de propostas. É aprimorarmos. Se formos reconstruir o projeto desde o início, não estaremos fazendo uma aliança. Aliança tem que acontecer em torno do essencial. O essencial hoje é a mudança”, declarou Aécio em coletiva realizada no Rio de Janeiro. Para outro membro da executiva do PSB, a decisão do candidato do PSDB está correta. “Uma coisa é você agregar outras propostas ao seu programa, outra é você mudar aquilio que você já apresentou no primeiro turno”, defende.
Neste sábado, Aécio visita duas cidades de Pernambuco, um dos dois Estados onde Marina saiu vitoriosa na disputa presidencial, com 48% dos votos. Entre as atividades programadas está um almoço com a viúva de Eduardo Campos, Renata, que concordou com a decisão do diretório pernambucano do PSB, de apoiar a candidatura de Aécio. Durante a tarde, o candidato do PSDB tem ato em Sirinhaém, cidade da zona mata sul pernambucana, onde Marina obteve o maior porcentual de votos do país, de 74,19%. A estratégia do tucano é conquistar o eleitorado de Marina e conseguir crescer no Nordeste, região do Brasil onde enfrenta maior resistência do eleitorado. A seu favor, Aécio tem o apoio massivo do PSB em Pernambuco e contará, inclusive, com o apoio de Paulo Câmara, governador eleito do Estado, com o maior porcentual de votos, 68%, e afilhado político do ex-governador Eduardo Campos, morto em acidente aéreo em agosto.
Enclausurada
Desde domingo, a ex-senadora não fez declarações públicas e permanece enclausurada no apartamento onde está vivendo, na zona sul de São Paulo, para onde se mudou durante o período eleitoral. A única saída dela aconteceu na quarta-feira, quando visitou o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, com quem discutiu o apoio a Aécio. Embora tenha sinalizado no discurso após a apuração das urnas que não se manterá neutra, Marina tem mostrado resistência em apoiar o candidato tucano.
Embora Marina se mantenha em silêncio sobre seu posicionamento no segundo turno, os demais partidos da coligação pela qual disputou a Presidência da República já se posicionaram. O PSB disse que vai participar ativamente da campanha do tucano e Câmara já deixou claro, em entrevista ao site de VEJA, que o partido participará de um eventual governo de Aécio. Até a Rede Sustentabilidade, partido idealizado por Marina que não conseguiu registro na Justiça Eleitoral, já decidiu por apoiar ao tucano, deixado livres seus aliados para votar nulo ou em branco caso não queiram eleger o candidato do PSDB. Dos seis partidos da coligação, o PPS de Roberto Freire foi o primeiro a declarar apoio a Aécio.