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Madrasta reclama do comportamento de Bernardo: ‘Não gostava de cobranças’

Graciele prestou depoimento no júri e contou que garoto se medicou sozinho e que, só então, ela decidiu esconder o corpo: 'Amava como se fosse meu filho'

Por João Batista Jr. Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 14 mar 2019, 12h24 - Publicado em 14 mar 2019, 12h09
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  • O início do quarto dia do júri popular do caso Bernardo Boldrini teve nesta quinta-feira, 14, o aguardado depoimento de Graciele Ugulini, de 41 anos, a madrasta do garoto. Ela só havia falado no dia 30 de abril de 2014, na ocasião em que prestou depoimento à polícia. Enfermeira e mulher de Leandro Boldrini, o pai, ela é acusada de matar e esconder o corpo do enteado.

    Graciele discorreu sobre sua inicial o afeto que tinha pelo menino quando iniciou o relacionamento oficial com Leandro, em 2010 – Odilaine, mãe de Bernardo, se matou com um tiro na cabeça em fevereiro de 2010.

    “Eu amava o Bernardo como meu filho, amava de verdade”, conta. A dinâmica familiar mudou quando ela sofreu um aborto espontâneo. Ao falar do assunto, Graciele toma um copo de água e chora pela primeira vez pela manhã. Foi quando os atritos teriam começado. “Eu cobrava para escovar os dentes, fazer as atividades escolares. Eu era muito chata nesse sentido”, diz. “Ele era rebelde, não gostava de cobranças. Posso estar errada, mas cobrar era uma forma de demonstrar amor.”

    O aborto teria mexido muito com ela. Oito meses depois, ficou grávida novamente de uma gestação tumultuada devido a um descolamento de placenta. Maria Valentina nasceu prematura, com menos de 2 quilos. “Admito que, não é que tenha abandonado a família, mas minha preocupação era só o meu bebê. Aquela atenção dispensada ao Bernardo não era como antes. Eu não conseguia dar esse amor que ele precisava.”

    Graciele justifica a desatenção por se sentir sobrecarregada com a quantidade de afazeres, como cuidar do bebê, do marido acidentado (Leandro bateu sua moto em outubro de 2013), da reforma da casa, de Bernardo e das contas da clínica. A família tinha quatro empregadas na residência.

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    A juíza Sucilene Engler pergunta à ré sobre um vídeo, extraído do celular da mesma e exibido no segundo dia do júri popular, em que ameaça o menino com a frase: “Você vai ver quem vai morrer primeiro”. A ré justifica: “Ele fazia muito barulho e batia porta. Eu ficava apavorada com isso, pois a Maria estava escutando tudo. Ele chegou a falar que iria matar a Maria. Essas brigas não eram comuns, eu nunca agredi o Bernardo. Foi um momento de desespero, de raiva”.

    O clima tenso em casa fez com que decidisse se automedicar com o remédio Midazolam, com o objetivo de dormir melhor. Então, teria pego uma receita do marido e falsificado a assinatura dele para comprar a droga em uma farmácia em Frederico Westphalen, dois dias antes da morte do menino. Argumenta não ter adquirido em Três Passos, cidade onde a família residia, para evitar falatório na cidade: não queria que soubessem de sua depressão – Midazolam não é um antidepressivo, mas um sedativo. A madrasta afirma que, a despeito de toda a briga familiar, nunca teve a intenção de matar o enteado.

    No dia da morte, Graciele conta que foi Bernardo quem pediu para ir de carro com ela até Frederico Westphalen, onde iria comprar TV e aquário. Ela medicou o menino com um Dramin para o mesmo não enjoar na viagem de carro. Após receber a multa por excesso de velocidade, Bernardo teria ficado agitado e, então, ela deu a bolsa e pediu para ele pegar remédios e tomar sozinho. Ele tomou, sempre segundo ela, Ritalina. Tempos depois, no entanto, ao chegar em Frederico, Graciele viu que o garoto estava com a boca espumando e sem batimento cardíaco. Ao verificar sua bolsa, percebeu que faltavam “uns cinco” remédios. A perícia encontrou a presença de Medazolam no organismo da vítima. Ela nega ter aplicado a droga por injeção, como afirma o Ministério Público. A cova vertical, diz a ré, foi aberta por um macaco de carro e uma outra ferramenta da qual não se recorda.

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    Com o menino morto no banco de trás do carro, ela pediu ajuda à amiga Edelvânia Wirganovicz para ocultar o corpo. Graciele nega ter sido uma ação premeditada, nega ter feito a cova dois dias antes como afirma o MP e nega ter dado dinheiro à Edelvânia e ao irmão, Evandro, para ajudarem dar fim ao cadáver.

    No sábado, um dia após a morte do garoto, madrasta e pai foram a uma festa. “Tentei levar uma vida normal para o Leandro não desconfiar de nada.” Ela também participou das buscas sabendo que o menino estava morto. “Eu dissimulei uma situação para encobrir outra.”

    Por uma estratégia do advogado de defesa, Graciele optou por não responder às perguntas da promotoria. “Eu preciso que as pessoas entendam que tudo foi um acidente, uma sucessão de erros. Eu errei do começo ao fim. Fiz tudo errado, mas tudo o que aconteceu não foi por querer”, explicou aos jurados.

    A vida na cadeia

    Presa há quase cinco anos, Graciele conta que nunca mais teve a chance de ver a filha, Maria Valentina, hoje com 6 anos. Ela chora muito ao relatar a distância. A ré chegou a ficar mais de dois anos em uma solitária, de 2 x 3 metros de área, isolada, com uma janela aberta por onde entravam ratos, baratas e aranhas. Ela chegou a ser internada em algumas ocasiões em hospitais psiquiátricos. “Tentei suicídio duas vezes”, afirma.

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