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Inquérito psiquiátrico

As múltiplas linhas de investigação do atentado contra o presidente Bolsonaro convergem mesmo para a ação isolada de um doente mental

Por Thiago Bronzatto Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 12 abr 2019, 07h00 - Publicado em 12 abr 2019, 07h00

Durante sete meses, a Polícia Federal investigou mais de uma dezena de hipóteses sobre o que poderia ter levado o garçom Adélio Bispo de Oliveira a atentar contra a vida do então candidato Jair Bolsonaro. O presidente acredita que foi vítima de uma engenhosa conspiração esquerdista. VEJA teve acesso às mais de 1 200 páginas do inquérito. É um trabalho minucioso que reconstituiu os passos de Adélio nos últimos sete anos, mergulhou em suas redes sociais, ouviu amigos, parentes, políticos. Seguiu pistas que sugeriam conexões com o crime organizado e tentou descobrir quem paga aos advogados do agressor. A conclusão aponta para um enredo banal: o ataque a Bolsonaro foi o ato solitário de um doente mental. A seguir, os principais pontos da investigação.


CONEXÃO POLÍTICA

Adélio Bispo foi filiado ao PSOL, partido que faz oposição a Bolsonaro. Soube-se também que no dia do atentado havia um registro de entrada do garçom no Congresso, que fica a mais de 1 000 quilômetros da cena do crime ­— o que indicaria um possível álibi para protegê­-lo de uma investigação futura. Esses dois detalhes catalisaram muitas teorias conspiratórias. Adélio costumava enviar e-mails a parlamentares e membros de diferentes partidos. Numa dessas mensagens, escreveu a representantes da Rede e do Prona, solicitando filiação. A PF analisou 46 contatos, centenas de e-mails e ouviu membros das legendas. Sobre a visita ao Congresso, descobriu que se tratou de um erro de um funcionário que bisbilhotou os dados do garçom logo depois do atentado e os incluiu, por engano, no cadastro de visitantes.


VOLTA AO PASSADO

A Polícia Federal fez uma longa regressão ao passado de Adélio. O pente-fino abrangeu os últimos sete anos da vida do criminoso. Nesse período, foram analisados e-mails, mensagens nas redes sociais, imagens de câmeras de segurança, chamadas telefônicas, movimentações financeiras, relações de amizade e viagens. Os investigadores conseguiram mapear os lugares pelos quais o garçom passou com base nos acessos a sua conta no Facebook. Com isso, foi possível confirmar que Adélio fez aulas num clube de tiro em Santa Catarina, onde morava na ocasião. O clube era frequentado pelos filhos do presidente, porém não foram encontradas evidências que relacionassem uma coisa à outra. Os policiais verificaram se alguém ou alguma entidade teria financiado o treinamento de tiro, mas também não identificaram indícios nesse sentido.


RELAÇÃO COM O PCC

Outro foco de investigação da polícia foi a suposta relação de Adélio com o PCC. A suspeita: um dos advogados do garçom defende integrantes da facção, e um sobrinho de Adélio, que se encontra preso em Hortolândia, no interior de São Paulo, teria conexões com o PCC, uma hipótese nascida dos posts que ele colocou no Facebook (veja abaixo). O criminalista Fernando Magalhães confirmou que tem clientes da facção, mas a polícia não achou relação com o caso. O sobrinho de Adélio, por sua vez, nega ser membro do PCC. A polícia constatou que ele não tinha contato com o tio. A PF até interceptou conversas de membros do PCC que se referiam ao presidente, mas nenhuma fazia conexão com Adélio ou com o atentado.

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(Facebook/Reprodução)

ADVOGADOS

A última fase das investigações está concentrada nos advogados de Adélio. Quem estaria pagando à equipe que se apresentou espontaneamente para defender o criminoso? Na época do atentado, um dos advogados chegou a dizer que os honorários estavam sendo bancados pela mãe de Adélio, que já tinha morrido. Depois que se deu conta da gafe, voltou atrás e declarou que, na verdade, era alguém de uma igreja. A identidade desse patrocinador ainda é um mistério. A polícia pediu a quebra dos sigilos bancário e telefônico do advogado Zanone de Oliveira Junior, o dono do escritório. Em depoimento, ele afirmou que o benfeitor sumiu após pagar 5 000 reais em espécie. Mas, mesmo assim, ele aceitou continuar defendendo o garçom, porque “é uma causa de interesse de qualquer advogado”. Não é inco­mum que advogados se ofereçam para atuar em casos importantes em busca de projeção. Os investigadores analisaram, sem sucesso, imagens de catorze câmeras de segurança e dados de celulares de Zanone na tentativa de identificar o patrocinador. Não encontraram nada.

QUEM PAGOU? – Zanone: mistério sobre o patrocinador (Tomaz Silva/Agência Brasil)

REDES SOCIAIS

Os investigadores vasculharam todas as amizades, os posts e as mensagens de Adélio nas redes sociais — o que deixou evidente o nível de perturbação mental do agressor. O garçom chegou a enviar mensagens a um perfil falso do ex-presidente Lula, ao Exército e a ministros do Supremo Tribunal Federal, além de armazenar fotos da chanceler alemã Angela Merkel e da ex-secretária de Estado americana Hillary Clinton. Em suas pesquisas na rede e nas postagens no Facebook, há descrição de teorias da conspiração (“Os Simpsons previram a queda do avião da Chapecoense?”) e uma obsessão pela maçonaria (“Agora você vai saber toda a verdade! Jair Bolsonaro é maçônico”). Na busca por eventuais comparsas, os policiais ainda analisaram ameaças contra Bolsonaro publicadas na internet antes do atentado. Encontraram um tuíte (ao lado) que chamou atenção: “Seria daora (sic) demais o Bolsonaro ser assassinado aqui em jf (referência a Juiz de Fora)”. As investigações, no entanto, mostraram que a maioria dos perfis era falsa — e, de acordo com o rastreamento, não havia ligação alguma com Adélio.

(Twitter/Reprodução)

Publicado em VEJA de 17 de abril de 2019, edição nº 2630

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