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Indiciamento pode quebrar ‘escudo de proteção’ montado ao redor do goleiro Bruno

Polícia conclui que jogador foi 'autor intelectual' e mandante da morte de Eliza Samudio. Expectativa é de que suspeitos, agora, comecem a depor

Por João Marcello Erthal e Andréa Silva
30 jul 2010, 18h19

Inquérito nivelou, propositalmente, todos os suspeitos, atribuindo a eles crimes de homicídio, sequestro, cárcere privado, ocultação de cadáver, formação de quadrilha, subtração de incapaz e corrupção de menor

O indiciamento do goleiro Bruno e dos oito envolvidos no desaparecimento de Eliza Samudio representa mais que a conclusão da fase de investigações da polícia mineira sobre a morte da jovem. A expectativa é de que, a partir do movimento que cabe ao Ministério Público, que oferece a denúncia à Justiça para que os suspeitos passem à condição de réus, a barreira de silêncio estabelecida pelo advogado Ércio Quaresma seja rompida.

Como afirmou na tarde desta sexta-feira o delegado Edson Moreira, chefe do Departamento de Investigações da Polícia Civil de Minas Gerais, os suspeitos armaram um “escudo de proteção” ao goleiro Bruno, por todos dependerem financeiramente dos altos salários do atleta. Há fortes razões para os investigadores acrediratem que, na fase que está por vir, os indiciados – na condição de réus – tenham interesse em falar.

O resultado do inquérito não indica, necessariamente, como será apresentada a denúncia. Mas, se mantidas as acusações de homicídio, sequestro, cárcere privado, ocultação de cadáver, formação de quadrilha, subtração de incapaz e corrupção de menor, os suspeitos e seus advogados partem para o ‘salve-se quem puder’, e certamente vão apresentar, em depoimentos em juízo, mais do que a protocolar declaração de que “desconhecem todos os fatos”.

O indiciamento nivelou, propositalmente, todos os suspeitos. Assim, Flávio Caetano de Araújo, Wemerson Marques de Souza (Coxinha), Dayanne Rodrigues do Carmo Souza (ex-mulher de Bruno), Elenílson Vitor da Silva (caseiro), Sérgio Rosa Sales (primo) e ainda Fernanda Gomes de Castro, a namorada do jogador – que ajudaram a cuidar do filho de Eliza e estiveram no sítio enquanto a jovem era mantida em cativeiro – devem responder nos tribunais como responsáveis pela morte da jovem.

Na condição de réus, os citados acima tentarão, com estratégias diversas de defesa, provar que não têm no crime a mesma participação das figuras centrais, que são o próprio goleiro, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, o menor J., que chegou a confessar ter agredido Eliza com coronhadas, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, apontado como o executor.

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Será mais difícil – para não dizer impossível – que Ério Quaresma exerça, a partir de agora, o mesmo poder de influência sobre os suspeitos com menor participação no caso. Investigadores ligados ao caso apostam, inclusive, que a entrada de novos advogados em cena não seja apenas um movimento natural dos suspeitos, mas uma determinação da Justiça, que pode recusar que réus com participações tão diferentes sejam submetidos a um só defensor – ou ao mesmo grupo de defensores.

Crimes – Na tarde desta sexta-feira, Edson Moreira fez um resumo da trajetória dos suspeitos do dia 4 de junho, quando Eliza foi seqüestrada no Rio, até a morte, que, segundo aponta o inquérito, ocorreu no dia 10 – não no dia 9, como já tinha sido divulgado pela polícia mineira.

Bruno, segundo Moreira, foi o “autor intelectual e mandante” do seqüestro e da morte de Eliza. O goleiro foi indiciado por homicídio triplamente qualificado (por motivo torpe, premeditado e sem chance de defesa da vítima), que pode render de 12 a 30 anos de prisão. Ele também poderá responder por seqüestro e cárcere privado (2 a 8 anos), ocultação de cadáver (1 a 3 ano), formação de quadrilha (1 a 3 anos), subtração de incapaz (1 a 4 anos) e corrupção de menor (2 a 6 anos).

Todos os envolvidos vão responder pelos mesmos crimes. A exceção é Marcos Aparecido, indiciado apenas por homicídio tripalmente qualificado e ocultação de cadáver.

Provas – Edson Moreira refutou a tese de que o inquérito é fraco em provas materiais. “O artigo 158 do Código de Processo Penal nos faculta comprovar a materialidade direta ou indireta”, destacou. E, para Moreira, há fartura de provas indiretas do assassinato.

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Entre as provas da materialidade indireta o delegado listao sangue encontrado no Land Rover do goleiro, o encontro do menino Bruninho com os suspeitos e a confirmação de que um homem com vivência policial – o que inclui conhecimento de armas, manuseio de explosivos e técnicas de combate – para executar Eliza.

Moreira listou também provas técnicas: o resultado do GPS de carros usados no crime, as sandálias e os óculos de Eliza encontrados no Land Rover, cruzamento de ligações telefônicas e o posicionamento das antenas dos celulares dos suspeitos nos dias entre o seqüestro e a execução.

Mesmo com as mudanças de depoimentos já ocorridas e que certamente ainda virão, os policiais trabalham com a convicção de que certas declarações não podem ser simplesmente desmentidas. “A descrição que o menor fez do local do assassinato é precisa, comprovada. Esta é uma prova científica”, afirmou Edson Moreira.

Buscas vão continuar – O chefe do Departamento de Investigações afirmou que as buscas ao corpo de Eliza não foram encerradas. Mas acredita serem baixíssimas as chances de que o cadáver seja encontrado. “O cadáver foi destruído. Parte foi devorada por cães e parte foi ocultada por Bola”, disse Edson Moreira.

Durante a apresentação do resumo do inquérito, em Belo Horizonte, o pai de Eliza, Luiz Carlos Samudio permaneceu no auditório do Departamento de Investigações. No momento em que Edson Moreira explicou a maneira como a jovem foi executada, Samudio não conseguiu esconder as lágrimas.

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A Polícia Civil de Minas mobilizou, em 40 dias de investigação, cinco delegados, 20 agentes, 10 peritos e três escrivães. O promotor Gustavo Fantini de Castro, que acompanhou as investigações, tem até o dia 6 de agosto – próxima sexta-feira – para decidir se oferece denúncia à Justiça ou se solicita à Polícia Civil novas diligências

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