Quando, em 1994, fizemos a campanha que ajudou a embalar o Brasil até ele subir no pódio como número 1, depois de 24 anos de jejum, percebi que emoção maior do que assistir à pátria comemorando a vitória com o dedo levantado foi sentir que um país inteiro voltava a sorrir e a acreditar em si mesmo.
Com a experiência de tantas Copas e Olimpíadas, entendi que é preciso planejamento para se sagrar campeão. Não basta termos os melhores jogadores e um técnico com vasta experiência para ganharmos. O que faltou ao Brasil não foi apenas o equilíbrio tático, técnico e físico, e sim uma estratégia de médio e longo prazo que visasse à renovação. Falo, obviamente, não apenas da renovação da seleção, mas de todo o sistema, que envolve patrocinadores, clubes, torcedores, dirigentes, governo e sociedade. Uma plataforma de engajamento que fosse inspirada naqueles que souberam fazer e que por isso podem servir de exemplo.
Pois é chegada a hora da humildade, do aprendizado, de pararmos de chorar e de criarmos um projeto permanente que resgate a autoestima, pois esta, sim, tem de ser constante para quem quer crescer e se reinventar.
Precisamos organizar uma grande torcida pelo nosso país e não apenas pelo futebol. Uma torcida que continue acreditando com força em um grande projeto de reconstrução, feito a muitas mãos. Uma torcida que embale o país para que sejamos, também, cada vez mais, o país da educação, da cultura, do crescimento econômico, da democracia, da justiça social, dos direitos humanos, da indústria, dos serviços, da segurança, da liberdade de expressão, da convivência entre desiguais, da conciliação entre ordem e progresso.
Só assim poderemos voltar a ser ‘o país do futebol’. Precisamos aprender a nos espelhar nos grandes exemplos de superação, como o da Alemanha, que também sediou, oito anos atrás, aquela que foi considerada a melhor e a mais bem organizada Copa do Mundo – e cujo principal objetivo era melhorar a imagem internacional do país-sede. Só que nada do que fizeram adiantou: os alemães também perderam uma semifinal em casa e tiveram que se reerguer. Foi um extraordinário projeto de recuperação.
Mas eles não estavam focados apenas no futebol. Seus planos eram muito maiores. Passavam pela liderança política e econômica de toda uma região. O que de verdade faz com que a Alemanha cresça na adversidade é a disciplina, são os seus princípios e projetos de longo prazo que unem sociedade, governos e iniciativa privada. Por jogar seriamente, e não para a galera, de improviso, é que os alemães conseguiram levar a Copa das Copas, bem dentro do nosso templo.
Enquanto isso, a Argentina faz o caminho inverso. A maior potência da América Latina na década de 50 optou pelo populismo e pela empáfia: sem projetos para além do futebol,quase sem oposição política, sem justiça confiável, sem liberdade de imprensa, com a economia em frangalhos e, principalmente, com uma liderança equivocada.
Temos que escolher entre o exemplo de nossos hermanos ou de países que não dependem de um líder apenas, mas de uma equipe de craques. Países de táticas, técnicas e preparação. Sem improvisos, nem ‘Neymarismos’, pois depender de um é correr o risco de não ter nenhum. Sem populismo, mas com projetos integrados com a sociedade.
Nossa chance é agora, pois a próxima Copa já está chegando, e não é a da Rússia. A Copa a que me refiro é aquela que acontece daqui três meses: as eleições. Ganhe quem ganhar, vamos apreender com nossos erros e também com os nossos acertos.
Agora cabeça para cima. É hora de saber que, se a seleção perdeu, o Brasil pode ter conquistado a chance de se refazer como sociedade e não apenas como um time de futebol. Se nossos erros e os exemplos dos grandes ainda assim não forem suficientes para nos motivar, então lembremos que Deus ainda é brasileiro e que pode estar mais uma vez escrevendo o certo por linhas tortas.
Força, Brasil! Mais um, mais um, mais um. Quero ver você o número 1!
Eduardo Fischer, publicitário e empresário, presidente do Grupo Fischer