O discurso de paz e unidade entre os membros do Partido Verde (PV), ressaltado tantas vezes por Marina Silva, quando era candidata à Presidência, tem se dissolvido cada dia mais. Após recentes trocas de acusações e críticas por meio de cartas e entrevistas à imprensa, os extremos que se formaram dentro do partido protagonizam mais uma cena que deixa clara a falta de diálogo interno. No próximo sábado, às 14 horas, duas reuniões do PV vão acontecer simultaneamente em locais diferentes em São Paulo – cada uma comandada por um dos grupos.
O primeiro evento divulgado, pelo menos ao público externo ao partido, foi o Seminário “Que Democracia Queremos?”, organizado pelo presidente estadual do PV, Mauricio Brusadin, com a presença de Marina Silva e os ex-candidatos ao governo, Fábio Feldmann, e ao Senado, Ricardo Young. O convite, segundo Brusadin, foi enviado a todos os filiados do estado e à Executiva Nacional há cerca de 20 dias. A intenção, ele explica, é definir os moldes das eleições diretas para a executiva estadual. “Queríamos que todos participassem, mas marcaram outro evento para tentar esvaziar a fala da Marina”, critica.
Concorrência – Nesta terça-feira, a Reunião Geral do Conselho Político da Capital (SP), que também será no dia 9 de abril, foi divulgada por Patrícia Penna, mulher do presidente nacional do partido, José Luiz Penna. Em seu Facebook, Patrícia fez referência irônica ao grupo comandado por Marina Silva, a “Transição Democrática”, exaltando o evento concorrente: “Este sim vale a pena ir! Este é democrático!”. A reunião é organizada pelo diretório municipal do partido, que tem como presidente Carlos Galeão Camacho, e é anunciado como um “ato democrático para proclamar os representantes eleitos”.
Segundo Camacho, a reunião é mensal e a data de abril havia sido escolhida no último encontro, no dia 19 de março, para evitar choque com os feriados no final do mês e com a posse dos eleitos, marcada para o dia 16. O presidente municipal diz lamentar a marcação do outro evento. “É legítimo, mas foi convocado por um grupo de filiados que, por mais representatividade que tenham na vida civil, não têm direito legal e estatutário no partido”, afirma.
Represália – O presidente do PV no estado, Mauricio Brusadin, acredita que a curiosa coincidência de data e horário é apenas mais uma movimentação articulada para afastar Marina Silva da linha de frente do partido. A ação seria orquestrada por José Luiz Penna, que já chamou de “surto de partido grande” a guerra interna do PV. “Eles não querem a Marina, mas evitam falar diretamente com ela, que tem voto e nome. É a velha prática da intimidação, tentam unir quem está do lado deles e afastar quem não está”, recrimina.
Já Carlos Camacho, que é amigo de Penna, põe panos quentes sobre o explícito racha do partido. “Estão criando um fantasma num quadro onde fantasmas não há. O PV nunca esteve numa situação tão tranquila e confortável como hoje. A casa não está dividida e sim unida, construída sobre rochas”, garante. “Uma das maravilhosas manifestações de crescimento de um partido é o afloramento de uma contradição interna, como acontece em uma família com muitos filhos, onde a livre opção em todos os campos é imanente ao próprio ser”.