Gabriel Graça Oliveira, 51, psiquiatra: aos 48 anos, ‘eu mesmo’
Médico e professor da UnB espera 20 anos para viver sua verdadeira identidade, disse que arriscou a carreira, mas afirma que a experiência foi ‘libertadora’
Foi durante uma aula sobre disforia de gênero, ministrada durante a residência médica, que o psiquiatra Gabriel Graça de Oliveira, de 51 anos, descobriu que era um homem transexual e que sua insatisfação com o corpo e o sexo biológico tinha tratamento. Na época, o jovem médico tentou se encorajar a “sair do armário” para viver a sua verdadeira identidade, mas não conseguiu.
Sem coragem para fazer o tratamento, por medo do preconceito que enfrentaria e de magoar seus pais, Gabriel esperou passar quase vinte anos até decidir iniciar a sua transição de gênero, aos 48 anos. “Na melhor das hipóteses eu já tinha vivido metade da minha vida. Não queria viver o resto do tempo infeliz. Eu queria ser eu mesmo, viver a vida de forma plena.”
Tímido, Gabriel diz que desde muito pequeno se sentia do sexo masculino, gostava de imitar os gestos do pai e usar as roupas dele. Apesar disso, reprimia seus sentimentos e tentava ser delicado como a mãe para evitar bullying na escola. “Eu não sabia o que acontecia comigo. A sociedade me via como menina, na minha cabeça eu tinha que me conformar”, lembra.
Gabriel tinha 20 anos quando decidiu procurar um padre para conversar a respeito do assunto. Católico praticante, o jovem se sentiu acolhido pela Igreja, mas ainda não havia encontrado a resposta sobre quem era de verdade. Na época, chegou a se relacionar com homens para tentar se encontrar como mulher, mas não conseguia, nenhum relacionamento avançava.
Na melhor das hipóteses eu já tinha vivido metade da minha vida. Não queria viver o resto do tempo infeliz. Eu queria ser eu mesmo, viver a vida de forma plena
Infeliz com seu corpo e gênero, Gabriel decidiu focar nos estudos e na espiritualidade. Fprmou-se médico psiquiatra, virou professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB) e por treze anos viveu um relacionamento homossexual. “Havia muito afeto, companhia, carinho. Mas era uma relação homossexual e eu me sentia desconfortável”, lembra.
Depois de assistir a uma outra palestra sobre disforia de gênero, Gabriel achou que era hora de se assumir e contar para sua mãe, irmãos, amigos e pacientes que ele era um homem e daria início ao processo de transição.
“Eu arrisquei minha carreira quando decidir ser quem eu era. Foi uma experiência maravilhosa e libertadora. A espiritualidade me ajudou muito e me ensinou que eu não podia viver refém do medo. Minha família me acolheu de braços abertos. Falei pessoalmente com um por um dos meus pacientes e fui muito bem aceito pelos meus alunos”, afirma.
Gabriel iniciou a terapia hormonal no começo de 2014, fez a mastectomia no fim do mesmo ano. Em 2016, retirou útero, ovários e trompas. Hoje, está casado com uma médica psiquiatra. “Sou completamente feliz. E meu maior sonho hoje é ser pai.”
Conheça a história de dez transexuais
Ariadne Ribeiro
36 anos, pedagoga
Bruna Coutinho da Silva
52 anos, professora
Erick Barbi
38 anos, músico, empresário e publicitário
Gabriel Graça de Oliveira
51 anos, psiquiatra e professor
Jordhan Lessa
50 anos, guarda civil
Laura de Castro Teixeira
36 anos, delegada
Leona Jhovs
30 anos, atriz, produtora e apresentadora
Luca Scarpelli
27 anos, publicitário
Luiza Coppieters
38 anos, professora
Matthew Miranda Gondin
25 anos, auxiliar de escritório e empresário