Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Exploração de petróleo na costa norte rende discórdia no governo Lula

Autorização para a investida provoca embate de Marina Silva com a Petrobras e o Ministério de Minas e Energia

Por Victoria Bechara Atualizado em 12 Maio 2023, 11h54 - Publicado em 12 Maio 2023, 06h00

Uma empreitada com potencial para gerar 30 bilhões de barris de petróleo e 200 bilhões de dólares, segundo projeções mais otimistas, está no centro de uma nova trombada no governo Lula. A exploração de petróleo na Margem Equatorial, na costa norte do país, virou prioridade da Petrobras, que há nove anos tenta autorização do Ibama. O ponto de discórdia é um poço a 500 quilômetros da foz do Rio Amazonas, região de alta complexidade ambiental, em águas profundas e pouco exploradas. De um lado da contenda estão o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, e o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. Do outro, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. A decisão será tomada sob o guarda-chuva da pasta que ela comanda — cabe ao chefe do Ibama, Rodrigo Agostinho, dar a palavra final.

A tensão entre essas autoridades aumentou no mês passado, quando um parecer de dez técnicos do Ibama recomendou o indeferimento. Segundo o documento, a região abriga espécies ameaçadas de extinção e outras desconhecidas, além de recifes de corais recém-descobertos. O órgão considerou que o Plano de Proteção à Flora oferecido pela Petrobras tem “deficiências significativas” e não reduz de forma satisfatória os impactos de um eventual vazamento de óleo. Além disso, o Estudo de Impacto Ambiental não abrange as complexidades da região e é incompleto em relação às comunidades indígenas. O parecer termina com o alerta de que a perfuração dá “salvo-conduto para a incerteza”.

QUEDA DE BRAÇO - Prates e a ministra do Meio Ambiente: divergência pública
QUEDA DE BRAÇO - Prates e a ministra do Meio Ambiente: divergência pública (Maria Magdalena Arrellaga/Bloomberg/Getty Images; Fátima Meira/Futura Press)

Esses avisos em tons dramáticos não foram suficientes para intimidar os entusiastas do projeto. O ministro de Minas e Energia chama a empreitada de “novo pré-sal”. “É um passaporte para o futuro”, diz. O presidente da Petrobras pondera que a ideia inicial é sondar o potencial. “A partir daí, vamos nos aprofundar ou não sobre a continuidade do projeto”, afirma. A despeito dessa postura prudente, sabe-se que a estatal está preparada para iniciar quase imediatamente a exploração, na hipótese de um sinal verde do Ibama. A descoberta recente de mais de 10 bilhões de barris nas Guianas e no Suriname, ou seja, na vizinhança, aumentou a expectativa. “Do ponto de vista técnico, não há dúvida de que vale a pena explorar”, diz Ricardo Cabral de Azevedo, ​​professor de engenharia de petróleo da USP.

Do ponto de vista político-ambiental, a equação muda completamente. A posição de Marina terá um peso na decisão final do Ibama, segundo pessoas próximas a Prates. Ela já se colocou de forma desfavorável ao projeto, o que incomodou a cúpula da Petrobras. Prates afirma que a companhia se dedica a promover a transição energética, mas lembra o óbvio: o fato de que as “atividades de petróleo e gás continuarão sendo essenciais nos próximos anos”. Mas a resistência não vem só da ministra. Em março, 35 organizações da sociedade civil, movimentos sociais e especialistas pediram a suspensão do licenciamento. Há dois inquéritos no Ministério Público Federal que investigam a violação ao direito de consulta prévia aos povos indígenas e a regularidade do processo, questionando o licenciamento ambiental iniciado em 2014. “Os estudos podem ficar defasados”, diz Daniela Jerez, analista de políticas públicas na WWF-Brasil.

Continua após a publicidade

arte Petróleo

O parecer técnico do Ibama e as críticas não desestimularam a Petrobras. A expectativa é de que o órgão abra prazo para que a empresa preencha todas as lacunas apontadas. “Trata-se de área bastante sensível, com grande biodiversidade, que talvez dificulte qualquer atendimento em caso de emergências”, diz Rodrigo Agostinho, presidente do Ibama. O imbróglio na concessão de licença a um empreendimento desse porte não é novidade. Aconteceu com a usina de Belo Monte (PA), também sob a oposição de Marina. O que se espera é que o processo contemple todos os argumentos — ambientais, sociais e econômicos — e que prevaleçam ao final da disputa os interesses do país.

Publicado em VEJA de 17 de maio de 2023, edição nº 2841

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Domine o fato. Confie na fonte.

10 grandes marcas em uma única assinatura digital

MELHOR
OFERTA

Digital Completo
Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 2,00/semana*

ou
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de R$ 39,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.