Ex-secretário de Covas recebeu propina da Alstom, diz testemunha
Robson Marinho, conselheiro do Tribunal de Contas do Estado, teria recebido US$ 1 milhão em conta na Suíça
Um dossiê elaborado pela Procuradoria da Suíça e entregue às autoridades brasileiras reforça as suspeitas sobre o conselheiro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo Robson Riedel Marinho, chefe da Casa Civil no governo Mário Covas. O documento de 282 páginas contém o depoimento de Michel Cabane, executivo da multinacional francesa Alstom, segundo o qual Marinho teria recebido propina da empresa. As informações foram publicadas na edição desta terça-feira do jornal O Estado de S. Paulo. O dinheiro, 1,1 milhão de dólares, teria sido depositado em uma conta secreta no banco Crédit Lyonnais Suisse de Genebra.
Cabane era o responsável pela área comercial do consórcio Cogelex Alstom no Brasil, contratado para execução de um projeto em conjunto com a Eletropaulo, fonte do esquema de propinas, segundo a Procuradoria da República. Em depoimento aos procuradores suíços, Cabane declarou: “Na ocasião de conversas informais com o sr. Foigel (Jonio Foigel, diretor de uma coligada da Alstom) e o sr. Botto (ex-diretor comercial da Alstom na França), compreendi que se tratava de uma pessoa, de certo senhor Robson Marinho. Ele era membro do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo. Essa é a última instância que fiscaliza as companhias estaduais assim com o estabelecimento das contas.”
Cabane foi indagado se Marinho foi o único destinatário dos pagamentos. “Eu não sei se apenas essa pessoa recebeu dinheiro ou se o senhor Marinho o distribuiu ou não”, afirmou.
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O criminalista Celso Vilardi, que defende o conselheiro, foi categórico. “Essas conversas (a que Cabane fez referência) se referem a 1998. Eu reafirmo que não fazem o menor sentido, tendo em vista que em 1998 não existia nenhum contrato sob julgamento do TCE.” O Ministério Público Federal está convencido de que os valores foram creditados em uma conta na Suíça de titularidade de Marinho, como propina no caso Alstom.
Transferências – Os papéis foram recebidos pelo Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), do Ministério da Justiça. Eles reconstituem desde a abertura da conta, em 10 de março de 1998, até a sucessão de ordens de transferências em favor do conselheiro pelo empresário Sabino Indelicato, réu no caso Alstom por corrupção e lavagem de dinheiro.
Uma dessas ordens foi dada de punho próprio – Indelicato mandou, via fax, orientação ao Crédit Lyonnais, onde também mantém conta, para repasse de 242.962 dólares. A operação é datada de 24 de fevereiro de 2005.
A documentação inclui a cópia do passaporte do conselheiro, que ele apresentou quando abriu a conta, e o momento em que passa a usar a offshore Higgins Finance Ltd para custodiar seus ativos. Marinho é o detentor do direito econômico da offshore “ao qual pertencem os valores que serão confiados ao banco”. Entre 1998 e 2005, Indelicato fez oito remessas para o conselheiro.
Investigação – Na segunda-feira, o governador Alckmin defendeu investigação rigorosa. “Em relação a Robson Marinho, acho que tem que apurar. O que todos nós queremos é que haja uma apuração rigorosa, que se esclareçam as questões e as punições devidas. Então, é avançar com a investigação.”