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‘Escola sem Partido não entra na USP’, afirma reitor

Vahan Agopyan disse que autonomia universitária garante independência dentro da instituição

Por Da Redação Atualizado em 12 nov 2018, 19h45 - Publicado em 12 nov 2018, 16h13
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  • O reitor da Universidade de São Paulo, Vahan Agopyan, afirmou ser “impossível” que o projeto Escola sem Partido seja implantado na USP. A proposta, que prevê combater uma suposta “doutrinação ideológica” nas instituições de ensino, tem o apoio do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) e do próximo governador paulista, João Doria (PSDB).

    “Na USP, é impossível. Obedecemos às leis, mas coisas que ferem nossa autonomia, a USP não precisa seguir. Isso fere. A universidade é um locus de debate. Formamos cidadãos”, afirmou o reitor em entrevista a O Estado de S. Paulo. Ele também descartou implantar algum tipo de mecanismo de controle ideológico na instituição — o que inviabilizaria qualquer denúncia de alunos como a estimulada por uma deputada estadual do PSL eleita em Santa Catarina.

    Ele também afirmou ver com naturalidade que os problemas da sociedade repercutam na universidade. “O que me preocupa é explicar o que é uma universidade de pesquisa para a sociedade. A sociedade não entende a gente. Políticos dos dois lados afirmam coisas similares. De um lado, ensino é caro, então privatiza. De outro, é caro e precisamos fortalecer o básico. O que ambos dizem é que a universidade está cara e não precisamos dela.”

    Vahan Agopyan ainda defendeu o ensino gratuito nas instituições de ensino superior. “O grosso dos alunos é classe média baixa. Não vai poder cobrar 75.000 dólares como [na Universidade] Yale, nem os ricos brasileiros têm [esse valor]. A última vez que fizemos as contas, para cobrar em proporção com que o aluno tem, as mensalidades não davam nem 8% do orçamento. A universidade está contribuindo para o desenvolvimento do país? Se está, é um investimento.”

    Polarização

    Apesar da liberdade ideológica ser uma garantia da autonomia universitária, professores e alunos sentem os efeitos da polarização que marcou a campanha eleitoral. Às vésperas do segundo turno, uma série de ações da Justiça ou da polícia contra suposta propaganda partidária interferiu em pelo menos dezessete instituições de ensino superior em nove estados.

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    A USP vive o temor de embates entre militantes de esquerda e seguidores do presidente eleito Jair Bolsonaro. Logo após a vitória do capitão da reserva no segundo turno das eleições, integrantes de grupos de direita da universidade se organizaram para, no dia seguinte, “marcharem em direção à FFLCH”.

    A Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas é considerada um marco de resistência contra a ditadura militar, ocorrida em 1964, e, por isso, é associada a movimentos “de esquerda”. Os estudantes da unidade também se juntaram para “combater os fascistas”. A reitoria da universidade foi notificada e a Polícia Militar acompanhou ambos os protestos.

    Não houve confronto direto. Mesmo assim, esse cenário reflete os muitos embates entre a esquerda e ‘bolsonaristas’ que estão acontecendo frequentemente dentro da instituição. Segundo uma estudante de história que não quis se identificar, alunos faltaram por medo do que aconteceria. 

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    Na mesma semana pós-eleições, estudantes da Faculdade de Economia, Administração e Ciências Contábeis (FEA) postaram uma foto em redes sociais portando armas, vestidos com roupas militares e fazendo insultos a mulheres petistas. A direção da instituição publicou uma nota repudiando a atitude, e advertiu os estudantes responsáveis pela postagem.

    Na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) uma lista com cerca de quinze nomes circulou descrevendo cada professor ou estudantes com insultos específicos, como “comunista antidemocrático”, “socialista que faz apologia do uso de drogas” “viado” e “feminazi”. Na mesma instituição, cartazes com o professor de filosofia Rodrigo Jungmann, de 52 anos, no estilo “procura-se”, foram pendurados pelo campus e ele foi chamado de fascista. Jungmann, que declarou voto em Bolsonaro chegou a ser impedido de sair da cantina e dar aulas porque alunos o cercaram com ofensas e ameaças de agressão. A guarda universitária teve de escoltá-lo até sua casa.

    Verbas

    O polêmico projeto Escola sem Partido está em discussão em uma comissão especial da Câmara e sua votação vem sendo adiada. Em síntese, ele proíbe que atividades usem os termos gênero ou orientação sexual e que professores digam suas opiniões, preferências ideológicas, religiosas, morais e políticas. O texto afirma ainda que “o poder público não se imiscuirá [intrometerá] no processo de amadurecimento sexual dos alunos”. Se virar lei, as salas de aula do ensino básico ao superior terão cartazes com os deveres do docente.

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    Diante do quadro atual, professores e pesquisadores de áreas como gênero e sexualidade se preocupam com a diminuição de verbas para pesquisas. Agências federais são as grandes financiadoras da ciência no país. “O que nos assusta é a falta de conhecimento básico, reduzir gênero a uma ideologia simplista. Pesquisamos situações de mulheres na sociedade, sexualidade, bullying“, diz a professora de uma universidade pública do Rio, que pediu anonimato.

    Os estudos de gênero existem desde a década de 70, são reconhecidos como uma área importante da sociologia e têm crescido. Segundo outra pesquisadora, falar de gênero na escola significa ensinar as crianças a identificar uma violência sexual e respeitar umas as outras a despeito da diversidade. “Não se combate a pedofilia jogando a discussão sobre sexualidade para debaixo do tapete”, diz. Há ainda temores de menos verbas para a área de ciências humanas, em geral, e para a ciência básica.

    (com Estadão Conteúdo)

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