Enxurrada arrasou a produção de hortaliças, legumes e flores
Cerca de 200 mil pessoas trabalham em pequenas propriedades na Região Serrana. Em algumas, a chuva arrastou até a camada fértil do solo
Do rastro de destruição criado pela tragédia da chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro, começa a emergir um prejuízo econômico ainda não inteiramente calculado. Plantações inteiras de hortaliças e legumes foram arrasadas. Em algumas propriedades, a água arrastou, além da plantação, a camada fértil do solo e o subsolo, deixando as rochas expostas. “Nesses casos, é perda total. Será impossível voltar a plantar ali”, constata o secretário de Agricultura do estado, Cristiano Áureo. Em outras, a lavoura ficou razoavelmente preservada, mas os agricultores correm o risco de perder tudo porque a situação das estradas impede o escoamento dos produtos.
A região é responsável por metade de toda a produção de olerícolas, e 70% de todas as hortaliças folhosas, como alface. A floricultura que movimenta a economia de Nova Friburgo e arredores responde por quase 90% da produção fluminense. O impacto social da destruição é enorme, devido ao perfil dos agricultores, a esmagadora maioria formada por pequenos proprietários. São 17 mil produtores, e cada um trabalha com pelo menos mais dez pessoas, entre familiares e empregados – ou seja, está se falando de um universo de quase 200 mil pessoas que vivem da agricultura na região.
No bairro Bonsucesso, em Teresópolis, onde antes se via um enorme campo de plantação, no bairro Bonsucesso, só há terra. Na margem da estrada que liga o município a Nova Friburgo, surge o lavrador Jorge de Andrade, de 62 anos. Ele observa a sua casa de longe. Só sobrou a estrutura. Com machucados no dedo do pé, no joelho e na mão direita, o médico recomendou que ele não se aproximasse da lama. Ele morava justamente no amplo terreno, onde dividia o plantio com outras pessoas.
“Estou com vida. Então, está bom. Deve ter muita gente debaixo desse barro”, diz Jorge. A sua única recordação palpável da casa é a mesa, resgatada pelo lavrador. As cinco moradias que compõem o campo ficaram detonadas. “A gente fica desarrumado”, resume Jorge diante de sua nova situação. Ele morava no local há 50 anos e, pela primeira vez, sentiu-se temeroso. “Parece até o fim do mundo.”
Mais adiante, em Vieira, o cenário é ainda mais desolador. No lugar do cinza da estrada, a cor de marrom da terra. Em um quintal próximo a RJ 130, surge a visão de uma mulher tirando a água da geladeira. É Kátia Regina Rosa, de 43 anos, tentando pegar o que sobrou de sua casa. Os livros estavam repousados em uma mureta- inelegíveis pela lama. Do lado de fora, carros soterrados. “Isso aqui era um pomar lindo. Não tenho mais foto para mostrar. Todo mundo chegava à minha casa e dizia que era igual a de uma boneca. Acho que nunca mais volta ao normal. Ainda mais que vivo apenas com o salário mínimo que o meu pai recebe”, fala ao mesmo tempo em que os olhos ficam marejados.