Houve expectativa, torcida e até vigília de turistas na madrugada desta segunda-feira, mas a neve prevista para o Parque Nacional de Itatiaia, no sul do estado do Rio de Janeiro, não apareceu. Apesar da umidade, a temperatura não baixou o suficiente para a formação de cristais de gelo. Os termômetros marcaram 0,7°C, e o fenômeno, que ocorreu em 1985, 1988 e 2012 não voltou a se repetir para o lamento dos “caçadores de neve” que encararam uma sensação térmica de – 4ºC e chuva.
A possibilidade de neve noticiada com destaque pela jornalista Maria Júlia Coutinho, no Jornal Nacional na quinta-feira, e repercutida na internet incentivou turistas de cidade dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo a subirem a serra de Itatiaia. No domingo, o parque bateu recorde de público: 1.500 pessoas passaram pela portaria, mas outras dezenas ficaram no entorno sem poder entrar no parque, que limitou a entrada às 14h. A média, aos fins de semana de alta temporada, são 500 visitantes por dia.
Até as 22h de domingo, os turistas continuavam chegando à portaria do parque, a 2.450 m de altitude, para passar a madrugada à espera de cristais de gelo. Alguns se abrigaram na varanda do posto de funcionários e outros dormiram nos carros.
Morador de Itajubá, no sul de Minas, Israel Augusto, de 54 anos, chegou ao planalto de Itatiaia por volta das 17h de domingo. Junto com cerca de outras 20 pessoas, passou a madrugada de chuva fina de olho nos termômetros. Para passar o tempo, turistas se juntaram em uma roda de violão com músicas de Djavan. “Torcemos muito. De tempos em tempos, alguém ia olhar o termômetro. Foi por muito pouco que a neve não veio”, diz Augusto, que não se arrependeu da empreitada. “Valeu a pena. Senti mais frio aqui do que no Ushuaia (localidade da Patagônia Argentina).”
“Confesso que vim atrás da neve. Gosto de ficar monitorando (a meteorologia)), um dia, a gente consegue ver a neve aqui”, torce o militar Fábio dos Santos Gonçalves, de 40 anos, que saiu de São Paulo e dormiu no carro à espera da abertura do parque. Mesmo sem neve, ele passará o dia na unidade de conservação fazendo trekking e subirá até a Pedra do Altar, a 2.665 metros de altitude.
Nas primeiras horas desta segunda, carros começaram a subir a serra de Itatiaia. Às 5h, duas horas antes de o parque abrir, dezenas de veículos e turistas enrolados em cobertores já estavam diante da portaria. Foi o caso de um grupo de 13 amigos de Soledade de Minas, localizada a 90 km do parque, que saiu de casa às 3h.
“Desde a notícia da neve, começamos a planejar para vir. Tudo bem que não tem neve, o que vale é amizade, é aproveitar o dia entre amigos”, disse o autônomo Marcelo Bueno, de 38 anos, que não perdeu o humor mesmo diante do frio e da chuva. “Quando saí de casa, eu achei que tinha roupa suficiente para enfrentar o frio. Cheguei aqui e percebi que não.”
Lotação
Na falta da neve, o grande número de turistas é que virou um evento. “Foi um fenômeno. Foram três dias de notícia no Jornal Nacional e nos organizamos com funcionários, brigadistas e voluntários do grupo Anjos da Montanha Resgate para tentar atender a demanda”, explica o diretor do Parque Nacional de Itatiaia, Gustavo Wanderley Tomzhiski.
Para ele, a concentração de pessoas em um só dia não é o ideal para uma unidade de conservação. Por outro lado, ele ressalta que o episódio pode aproximar pessoas do parque. “Ninguém pode proibir as pessoas de quererem ver a neve. Muitas vieram pela primeira vez, pessoas que nunca tinham se interessado pelo parque. Agora, podemos aproveitar e estimular as visitas em outras oportunidades de modo mais adequado.”
Primeiro parque nacional do Brasil, o Itatiaia completou 80 anos no último dia 14 de junho. A área de conservação se divide entre os municípios de Itatiaia e Resende, no estado do Rio, e Bocaina de Minas e Itamonte, no lado mineiro. Na unidade, está localizado o Pico das Agulhas Negras, o quinto mais alto do país, com 2.791 metros.
A temperatura da unidade de conservação no fim da manhã desta segunda estava em torno dos 2ºC . Para Rafael Leonardo Bellan, observador meteorológico no Sul Fluminense, ainda há esperança para os “caçadores de neve”. “Faltou muito pouco para nevar, o que é um bom sinal. Estamos no início de inverno e já houve essa possibilidade. Pode ser que ao longo da estação tenhamos outra chance.”