Diário de um indeciso
Site de VEJA acompanhou rotina de negociações de Júlio César (PSD-PI), que na sexta-feira finalmente definiu seu voto
O deputado Júlio César (PSD-PI), de 67 anos, é um dos doze parlamentares indecisos que definiram seu posicionamento em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff nas últimas horas. Decidiu nesta sexta-feira apoiar o afastamento de Dilma.
A situação de Júlio César é simbólica. Com passagens pela Arena, PDS, PFL e DEM, deixou a árdua tarefa de fazer oposição aos governos do PT num Estado do Nordeste em 2011, com a fundação do PSD pelo agora ex-ministro das Cidades, Gilberto Kassab. Júlio César está num partido que nasceu governista e de última hora aderiu ao impeachment; votava com o governo em cerca de 80% das ocasiões; representa um Estado pobre, governado pelo PT e onde Dilma venceu com folga as eleições, tanto em 2010 quanto em 2014.
Integrante da comissão especial do impeachment, ele faltou na segunda-feira à votação do parecer do relator Jovair Arantes (PTB-GO), desfavorável a Dilma. Dizia que não sabia como votar.
Procurado pelo site de VEJA na quarta-feira, se recusou a gravar entrevista. Caminhava a passos rápidos e aflitos nos corredores do Congresso. Não escondeu a razão: disse que não tomaria nenhuma decisão sem antes conversar com o governador do Piauí, Wellington Dias (PT), a pedido do chefe do Executivo local. O petista é um dos integrantes da tropa de governadores passou a semana em Brasília e tenta influenciar o voto dos deputados in loco.
“Eu sou amigo do Wellington, temos o melhor relacionamento. Mas penso no povo que me trouxe para cá, no desajuste das contas, num Brasil diminuído, que precisa dar um choque na economia. Se Dilma continuar, ou o Michel assumir sem mão de ferro, não conserta o Brasil”, diz o deputado. Ele pondera que a economia se deteriorou e o país perdeu graus de investimento muito rapidamente, assim como a arrecadação se degradou.
Júlio César passou a semana sob pressão de cerca de trinta prefeitos aos quais é ligado politicamento no Estado. Esses prefeitos, por sua vez, também são cobrados pelo governador. Ele repete que “não recebeu nenhuma oferta” nas conversas recentes, mas o partido pleiteou a uma partilha dos cargos federais no Piauí e participação do governo Wellington Dias a partir de 2014. O PSD era coligado aos adversários do petista no Estado, mas depois da eleição se aproximou do governador eleito.
“Foi a decisão mais difícil da minha vida política. Foi pressão demais. Estou livre”, desabafou a um colega de bancada.
Na mesma quarta-feira em que aguardava um contato de Dias, Júlio César conta que se reuniu pessoalmente com Dilma e ministros da articulação no Palácio do Planalto. Na quinta, foi bater à porta do vice-presidente Michel Temer. Disse que nenhum dos mandatários fez apelos – apenas queriam ouvir suas razões.