“É um tempo necessário para ajustes na minha segurança aqui e chamar a atenção para a situação das milícias, que não está resolvida. As mais de 500 prisões feitas desde 2008 são importantes, mas é preciso tirar deles os poderes territorial e econômico. Já torturaram jornalistas, mataram uma juíza e ameaçaram um deputado. Tudo isso em menos de 10 anos de existência”, diz Freixo
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O deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que embarca nesta terça-feira para um exílio forçado de cerca de um mês na Europa, quer fazer de sua temporada fora do Rio de Janeiro um alerta sobre o risco que correm as autoridades brasileiras que enfrentam o crime organizado. Freixo está saindo por sentir que ele e a família estão em perigo, depois de sete denúncias relatarem planos de milicianos para matá-lo. O parlamentar admite, porém, que não foi diretamente ameaçado. Mas mostra documentos sobre denúncias de que milicianos querem matá-lo. O que considera mais grave nesse processo, diz ele, é a falta de ação das autoridades do estado – aqui inseridas a Secretaria de Segurança Pública e as polícias Civil e Militar. “Foi este mesmo silêncio que matou a juíza Patrícia Acioli”, adverte, lembrando da magistrada assassinada no dia 11 de agosto, em Niterói.
“É um tempo necessário para ajustes na minha segurança aqui e chamar a atenção para a situação das milícias, que não está resolvida. As mais de 500 prisões feitas desde 2008 são importantes, mas é preciso tirar deles os poderes territorial e econômico. Já torturaram jornalistas, mataram uma juíza e ameaçaram um deputado. Tudo isso em menos de 10 anos de existência”, justifica Freixo, que viaja pela segunda vez à Europa a convite da Anistia Internacional. Em 2009, ele visitou Alemanha, Holanda, Bélgica, França, Espanha e Itália, onde apresentou o fenômeno das milícias como um tipo de máfia brasileira.
A sétima denúncia foi registrada pela Ouvidoria do Ministério Público, no último dia 26. O plano estaria sendo articulado por um susposto vereador do município de Paracambi (RJ), ligado aos irmãos Jerominho e Natalino Guimarães – respectivamente, ex-vereador do PMDB e ex-deputado estadual pelo antigo DEM, ambos presos – e ao traficante Fernandinho Guarabú do Morro do Dendê, na Ilha do Governador, na zona norte do Rio.
As principais queixas do deputado são a falta de investigação das denúncias e o número insuficiente, segundo ele, de homens na sua equipe de segurança. O gabinete de Freixo protocolou diversos requerimentos – alguns deles há mais de um ano – ao governo do estado, pedindo um aumento do número de policiais para sua proteção. As solicitações, no entanto, emperraram na burocracia e seguem sem resposta.
Freixo rechaça qualquer relação entre a exposição que terá com sua ida ao exterior e sua pré-candidatura à prefeitura do Rio. Mas é inegável que a viagem reforça a imagem de deputado que enfrentou as milícias, no momento em que a presença de grupos paramilitares em outros estados ganha visibilidade. O governo do município, que ele pleiteará oficialmente a partir de 2012, também recebe críticas.
“O governo municipal tem uma responsabilidade sobre o principal braço econômico das milícias, que é o transporte alternativo. Primeiro, tem que fazer o transporte público funcionar e parar de ser refém da Fetranspor. Tem que fazer o transporte alternativo ser verdadeiramente alternativo. Muitas vezes, a van é a única forma de o cidadão ir para o trabalho, e, assim, fica entregue na mão da milícia. Nós sabemos o quanto de milicianos estão empregados no poder público ainda hoje”, acusa o deputado.
A resposta do secretário de Segurança – A Secretaria de Segurança do Rio divulgou, no início da noite desta segunda-feira, um comunicado sobre as denúncias recebidas pelo deputado. Por email, a secretaria distribuiu cópias do ofício de Freixo, comunicando as denúncias de um plano para matá-lo, e um ofício enviado, pelo secretário José Mariano Beltrame, à Presidência da Assembléia Legislativa do Estado do Rio (Alerj).
Beltrame destaca que, nos últimos três anos, recebeu comunicados sobre denúncias a respeito de ameaças contra Freixo. Informa, também, que só no dia 26 a secretaria recebeu pedido de proteção policial para a família do deputado. As investigações sobre esse tipo de ameaça, segundo Beltrame, correm em sigilo, e por isso não têm publicidade.
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