O que não dizer àqueles que acabaram de perder uma pessoa querida
A psicóloga Maria Helena Franco, coordenadora do laboratório de Estudos e Intervenções sobre o Luto da PUC-SP, indica algumas sentenças a evitar
Você é jovem, ainda pode ter outro filho
Embora a intenção seja de que a pessoa vislumbre um futuro melhor, para quem acabou de perder um filho, parece que estão lhe apresentando a possibilidade de fazer uma substituição, o que é impossível. Ainda que venha a ter outro filho, ele jamais ocupará o lugar daquele que se foi. O melhor a dizer: “Gostaria de falar sobre seu filho? Posso escutar você, se quiser conversar”.
Você é forte, vai superar
O luto não é um obstáculo a ser superado. Precisa ser vivido e integrado à vida do enlutado. “Essa frase mostra que, se o processo for muito difícil, será entendido como sinal de fraqueza”, explica Maria Helena. O melhor a dizer: “Essa é uma experiência realmente difícil. Não há nada de errado em não se sentir bem. Conte comigo para o que precisar”.
Eu sei o que está sentindo
Ninguém sabe, ainda que tenha passado por algo semelhante. Ditar regras ou considerar que a sua experiência possibilitou um modelo de enfrentamento a ser seguido não irá aliviar a dor. O melhor a dizer: “Eu posso imaginar seu sofrimento e respeito o seu luto”.
Deus sabe o que faz
Se for religioso, o enlutado pode revoltar-se contra Deus por se sentir desamparado. Esse comportamento é absolutamente normal. O melhor a dizer: “Você tem religião? Gostaria de falar sobre o que a perda significa para a sua fé?”
Ele descansou, está bem agora
Sugere que o luto é uma atitude egoísta, pois quem ficou sofre pelo outro “estar bem”. O fato de um ciclo de doença, por exemplo, ter se encerrado, não reduz o sofrimento causado pela ausência. O melhor a dizer: “Você deve ter vivido situações bem difíceis durante esse processo. Se sentir necessidade de dividi-las comigo, estou à disposição”.
Você não pode chorar assim…
As expressões do luto são particulares, mas existe uma expectativa de que o enlutado aja de maneira discreta e adequada. O melhor a fazer: Não tolher. Estenda um lenço de papel, dê um abraço, segure a mão da pessoa.
Não dizer nada
Ignorar a perda do outro por se sentir desconfortável não deve ser uma alternativa. Em geral, dividir as memórias de um ente querido ajuda bastante no processo de luto. O melhor a dizer: “Gostaria de ter meios para que você não sofresse, de ter palavras para confortá-lo, mas não tenho”.