No dia 10 de março, enquanto ocorria a votação da proposta de emenda constitucional (PEC) Emergencial, a Câmara dos Deputados ganhou discretamente uma nova funcionária: a advogada Ana Cristina Siqueira Valle, mais conhecida como Cristina Bolsonaro. Após um mês morando em Brasília, a ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro conseguiu um emprego no gabinete da parlamentar Celina Leão (PP-DF) — que, por sua vez, é candidata a assumir um alto posto no governo federal.
O filho de Ana Cristina, Renan Bolsonaro, foi o responsável por apresentar a mãe para Celina Leão. No fim do ano passado, a deputada prestigiou o lançamento da empresa do Zero Quatro no estádio Mané Garrincha, em Brasília. Após o evento, Ana Cristina e Celina estreitaram a relação. Em fevereiro, a ex-mulher do presidente se mudou de vez para a capital federal — e recebeu uma proposta para trabalhar no gabinete da parlamentar do PP. Ex-secretária de Esportes do Distrito Federal e fiel aliada do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), Celina está de olho na intenção de Jair Bolsonaro de recriar o ministério do Esporte para abrigar partidos aliados no Congresso.
A remuneração de Ana Cristina está indisponível no site da Câmara. Mas, segundo Celina Leão, a ex-mulher do presidente ganhará em torno de 8 000 reais. “Eu a contratei porque ela tem um excelente currículo. Ela é advogada e tem experiência com campanha”, afirma a parlamentar, que desconversa sobre a possibilidade de assumir um cargo no governo federal. “Essa fofoca surgiu durante a campanha do Arthur Lira (à presidência da Câmara). Não tem essa conversa oficial. Nunca teve esse convite”, disse ela.
Ana Cristina deverá dividir o seu tempo assessorando Celina e ajudando Renan Bolsonaro a deslanchar a sua empresa. Impedido pela lei de ingressar na política, o Zero Quatro decidiu empreender em Brasília e, conforme VEJA revelou, passou a captar parceiros interessados em fazer negócios com o governo federal. O Ministério Público Federal instaurou uma investigação preliminar para apurar a suspeita de tráfico de influência. Quando soube do imbróglio, o presidente ordenou que o garoto se afastasse de algumas pessoas mal-intencionadas. A partir daí, Ana Cristina pediu demissão do gabinete do vereador Renan Marassi, do PL de Resende, Rio de Janeiro, para tutelar o filho em Brasília.
Tão logo se mudou para mais perto do Palácio do Planalto, a ex-mulher do presidente passou a se relacionar com empresários, parlamentares e integrantes do Poder Executivo. No fim do ano passado, ela chegou a participar de um almoço oferecido por um lobista famoso por ajudar seus clientes a abrir portas no governo federal. Naquela ocasião, Ana Cristina revelou que pensa em se lançar como candidata a deputada federal em 2022.