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Criança que fez aborto sairá de hospital sob sigilo para evitar protestos

Diretor de unidade em Recife diz que menina de 10 anos abusada pelo tio está bem, voltou a sorrir, ganhou muitos presentes e teve mais apoios que rejeição

Por Mariana Zylberkan Atualizado em 18 ago 2020, 14h01 - Publicado em 18 ago 2020, 13h54
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  • O médico obstetra Olímpio Barbosa de Moraes Filho, diretor do Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros (Cisam), em Recife (PE), mantém em sigilo a data em que terá alta a menina de 10 anos que foi submetida a um aborto após ter sido estuprada pelo tio. O objetivo é evitar o assédio de grupos religiosos e políticos que, no domingo, tentaram invadir o hospital para impedir a realização do procedimento. “A aglomeração (em frente à unidade) passou, mas não sabemos se há pessoas disfarçadas de acompanhantes de outros pacientes só esperando ela sair”, diz.

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    A Polícia Militar teve que ser chamada no domingo para conter os religiosos, a maioria integrantes do grupo católico pernambucano Porta Fidei, que queria forçar a entrada na sala onde a menina estava sendo atendida. Parlamentares da bancada religiosa, entre eles o deputado Alberto Feitosa (PSC), tentaram se valer do cargo para entrar na maternidade, o que foi impedido pelos policiais. O chefe de enfermagem que estava de plantão disse ao parlamentar que a entrada só seria autorizada pelo departamento administrativo, que não estava no local por ser domingo. Diante das negativas, Feitosa exigiu dos policiais que lavrassem um boletim de ocorrência. Ele permaneceu no lado de fora do hospital ao lado de outros parlamentares, como Joel da Harpa (PP) e Clarissa Tércio (PSC). Houve também manifestações de mulheres a favor do direito da menina de interromper a gravidez concebida a partir de estupros recorrentes do tio desde que ela tinha 6 anos.

    Os manifestantes religiosos chamaram o diretor do hospital de “assassino” – a menina também foi chamada de “assassina” aos gritos, mas não ouviu, segundo Moraes Filho. Mesmo assim, antes de ser atendida, dois médicos de fora do hospital conseguiram, valendo-se de suas credenciais profissionais, entrar na sala onde a menina estava para tentar convencê-la – e também a avó que a acompanhava – a desistir do procedimento. A assistente social que acompanhava a paciente relatou o ocorrido à direção do hospital, que abriu uma sindicância interna sobre o assunto. “Precisamos ver onde falhamos para não voltar a a acontecer”, disse o diretor do Cisam.

    Em recuperação, a menina está bem e “voltou a sorrir”, segundo Moraes Filho. “Ela ganhou muitos presentes e o quarto do hospital não tem mais espaço para tanta coisa. Ela teve mais apoio do que rejeição”, disse o médico.

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