Relâmpago: Digital Completo a partir R$ 5,99

Caso Henry: Quem é a avó que omitiu à polícia as agressões de Dr. Jairinho

Rosângela, mãe de Monique, viu o menino machucado um dia após ser torturado pelo vereador, soube pela babá o que houve, mas mentiu em seu depoimento

Por Sofia Cerqueira, Marina Lang Atualizado em 15 abr 2021, 12h22 - Publicado em 13 abr 2021, 22h29

Enquanto Monique Medeiros, de 33 anos, e o namorado Jairo Souza Santos Júnior, o vereador Dr. Jairinho, de 43, viajavam para aproveitar o Carnaval em um condomínio de luxo em Mangaratiba, na Costa Verde fluminense, o menino Henry Borel, de apenas 4, foi deixado no dia 13 de fevereiro na casa dos avós maternos, em Bangu, na Zona Oeste do Rio. Na ocasião, a criança mancava da perna esquerda e reclamava de dores na cabeça e no joelho. À medida que caminhava, Henry deixava um dos pezinhos levantado e o apoiava no calcanhar. Enquanto pessoas da família questionavam o motivo pelo qual a criança claudicava, a avó materna, a professora Rosângela Medeiros da Costa e Silva, de 62 anos, chegou a adverti-lo em público: “Para de bobeira, Henry! Anda direito!”. VEJA teve acesso a um áudio exclusivo que descreve a cena acima, ocorrida no dia seguinte em que Henry foi torturado por Dr. Jairinho. “Nunca vou me esquecer dele entrando em casa daquele jeito e dizendo que o joelho doía”, lembra uma pessoa do círculo familiar, que preferiu não se identificar por medo de represálias. Na semana seguinte, logo após o Carnaval, a babá Thayna de Oliveira Ferreira acompanhou o garoto em uma nova visita à casa de Rosângela. Ali, a cuidadora relatou à avó o real motivo pelo qual o menino estava machucado, conforme afirmou em seu novo depoimento prestado à polícia nesta segunda-feira, 12.

A avó, relatou Thayna, ficou assustada, mas levantou a possibilidade de o menino estar mentindo, o que foi prontamente refutado pela babá, reafirmando que Henry mancava, tinha dor na cabeça e apresentava um roxo no corpo após a sessão de espancamento. A funcionária contou ainda que não insistiu muito no assunto com receio de que Monique achasse que estava fazendo “fofoca” para a mãe dela.

 

As novas declarações da babá de Henry à Polícia Civil do Rio de Janeiro mostram que não foi apenas ela quem mentiu no seu primeiro depoimento. A avó materna também tinha conhecimento das agressões sofridas pelo neto e omitiu isso para os investigadores da 16ª DP (Barra da Tijuca). Ao se apresentar à polícia, em 24 de março, a mãe de Monique afirmou que o neto parecia feliz com o novo apartamento, para o qual ele e a mãe foram morar com Dr. Jairinho em janeiro passado. A professora ainda declarou que Henry “nunca chegou à sua casa machucado, que nunca o viu roxo ou com marcas pelo corpo”. A versão diverge completamente do áudio obtido por VEJA. A reportagem também apurou que a criança fazia escândalos aos berros para não voltar para o apartamento onde estava morando com a mãe e o vereador – presos desde o dia 8 de abril e suspeitos de homicídio duplamente qualificado e tortura. “Ninguém na casa ligava para as coisas que o Henry estava reclamando. Ele dizia para os avós que o tio Jairinho tinha o machucado. A Monique, por sua vez, rebatia que o filho estava falando muita mentira. Até depois que ele morreu, ela insistia com essa história”, conta outra pessoa ligada à família.

Professora da prefeitura do Rio há mais de 30 anos, Rosângela, assim como a filha Monique, é descrita como uma mulher extremamente vaidosa e autocentrada. Vários parentes não conseguem compreender como ela, mesmo após a divulgação do laudo que apontou 23 lesões no corpo de Henry, insiste em sustentar a versão de Dr. Jairinho e Monique de acidente doméstico. Uma das coisas que mais chamou a atenção no depoimento da avó à polícia foi quando ela foi perguntada se conversou com a filha e o vereador sobre o crime: Rosângela disse que sim, mas “que para se poupar, não quis saber maiores detalhes e não se lembra se algum detalhe lhe foi contado”.

Continua após a publicidade

O pai de Henry, Leniel Borel de Almeida, de 37 anos, confirma que Rosângela tinha plena consciência de que o neto estava sendo machucado por Dr. Jairinho. Ele conta que na quarta-feira anterior à morte do filho, ao lado da avó e da babá, o menino o ligou e reclamou novamente de agressões do namorado da mãe. “Tio Jairinho está me machucando”, disse a criança em voz alta. Leniel conta que chamou a atenção da avó para esse fato e que ela, novamente, ignorou. Que também conversou com Monique e, de novo, a ex-mulher rebateu dizendo que era invenção da criança e reflexo da separação dos dois.

A omissão da avó diante de um crime bárbaro contra o seu único neto não revolta apenas Leniel e alguns parentes próximos. Pessoas ligadas à família contam que a postura de Rosângela fez com que traficantes da Vila Kennedy, bairro carente da Zona Oeste do Rio, a ameaçassem caso volte a trabalhar no Ciep 244 Tarso de Castro, que fica dentro daquela comunidade.

Até agora, a avó de Henry não foi convocada para um novo depoimento. VEJA procurou Rosângela no fim da tarde desta terça-feira, 13, na sua casa em Bangu, mas a professora se recusou a falar. Chegou a abrir uma portinhola da fachada da casa e fechou em seguida, sem nada dizer. Os fatos mostram, no entanto, que ela sabe bem mais do que já declarou.

Continua após a publicidade

Leia Também:

  • Cinco pontos que Pazuello precisará explicar na CPI da Pandemia.
  • STF confirma liminar de Barroso que determinou criação da CPI da Covid-19.
  • Partidos indicam membros para CPI da Covid-19 no Senado.
  • Sputnik V: o que ainda trava a chegada da vacina russa no Brasil.
  • Covid-19: doze estados e DF têm taxa de mortalidade maior que a nacional.
  • General Silva e Luna vai ganhar mais que Castello Branco na Petrobras?
  • Com Acordo de Paris, petróleo vai a US$ 10 em 2050, diz consultoria.
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 5,99/mês
DIA DAS MÃES

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai por menos de R$ 9)
A partir de 35,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a R$ 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.