Assine VEJA por R$2,00/semana
Continua após publicidade

Caso Henry: o passo a passo de um crime bárbaro

Após um mês da morte do menino, a mãe, Monique Medeiros, e o padrasto, o vereador Dr. Jairinho, foram presos e indiciados por homicídio

Por Sofia Cerqueira Atualizado em 14 abr 2021, 16h13 - Publicado em 8 abr 2021, 16h25
  • Seguir materia Seguindo materia
  • Exatamente um mês após a morte brutal do menino Henry Borel, de 4 anos, sua mãe, a professora Monique Medeiros, de 33, e o padrasto, o médico e vereador Jairo Souza Santos Júnior, o Dr. Jairinho, de 43, foram presos nesta quinta-feira, 8, em uma casa na Zona Oeste do Rio de Janeiro. Os dois foram indiciados por tortura e homicídio duplamente qualificado por motivo torpe, sem chance de defesa da vítima. Laudos, provas técnicas e uma troca de mensagens de celular entre a mãe e a babá da criança põem por água abaixo a versão fantasiosa de acidente doméstico.

    Publicidade

    O DIA DO CRIME

    Na madrugada do dia 8 de março, o menino Henry deu entrada no hospital Barra D’Or, na Zona Oeste do Rio de Janeiro, já sem vida. De acordo com o relato dos médicos, ele apresentava um quadro de PCR (parada cardiorrespiratória) e, depois de sucessivas tentativas dos médicos em reanimá-lo, veio a óbito às 5h42. Embora tenha diploma de médico, Dr. Jairinho nem tentou fazer fazer respiração boca a boca ou massagem cardíaca no garoto. Depois, o parlamentar, que nunca exerceu a medicina, viria a dizer que a última vez que fez estes procedimentos tinha sido com um boneco na faculdade.

    Publicidade

    A EXPLICAÇÃO INICIAL

    Ao buscar ajuda no hospital, a mãe, a professora Monique, e seu namorado, o vereador Dr. Jairinho, não deram muitas explicações aos profissionais de saúde que atenderam a criança. Apenas que o encontraram com dificuldade para respirar, gelado e com os olhos revirando. Aos parentes, chegaram a contar inicialmente que o menino tivera um mal súbito.

    TENTATIVA DE EVITAR QUE O CORPO FOSSE PARA O IML

    Ainda na manhã do dia 8, o vereador fez contato com um executivo da área de saúde pedindo que um médico do hospital fizesse o atestado de óbito, sem que fosse necessário passar por uma necropsia no Instituto Médico Legal. De acordo com o depoimento desse executivo à polícia, o parlamentar falava de forma calma e sem esboçar qualquer nervosismo. O pedido não foi atendido. Os médicos que socorreram o menino, inclusive, orientaram o pai da vítima, o engenheiro Leniel Borel, que fizesse um boletim de ocorrência na polícia por se tratar de um caso suspeito.

    Publicidade

    VERSÃO DE ACIDENTE DOMÉSTICO DERRUBADA

    O laudo preliminar, expedido ainda na noite do dia 8, não condiz com a versão dada pela mãe e o padrasto do menino para o que tinha ocorrido naquela madrugada no apartamento na Barra da Tijuca, para o qual a família se mudou em janeiro. A necropsia atesta laceração hepática e hemorragia interna provocadas por ação contundente. Ainda havia lesões na cabeça e hematomas pelo corpo.

    Continua após a publicidade

    PRIMEIRO DEPOIMENTO DO CASAL

    Uma semana após a morte de Henry, Monique e o padrasto do menino prestaram depoimento na 16ª DP (Barra da Tijuca), onde deram versões semelhantes para o ocorrido. A professora contou que os dois tinham adormecido no quarto de hóspedes assistindo a uma série e que ela, ao despertar, teria encontrado o filho caído. Disse ainda que suspeitava que Henry tivesse ficado em pé na cama, se desequilibrado e então vindo ao chão. Dr. Jairinho, em seu depoimento, afirmou que tinha sido acordado pelos chamados de Monique e que antes de ver o que acontecera ainda foi ao banheiro. No hospital, o vereador tinha relatado ao pai do garoto, Leniel, uma versão diferente: que ouviu um barulho feito por Henry vindo do quarto e aí se deparou com o menino passando mal.

    Publicidade

    FIM DE SEMANA FELIZ COM O PAI

    O pai do menino também prestou depoimento à polícia. Câmeras de um shopping comprovam que Henry estava bem e feliz até ser entregue à mãe, no início da noite do dia 8. O pai passou o fim de semana com o filho, quando esteve na piscina do condomínio onde mora, em uma loja de brinquedos em um shopping e numa festinha infantil de um amigo. Relatou aos investigadores que, como vinha acontecendo desde janeiro, o menino chorava a ponto de vomitar quando tinha que voltar para o apartamento onde a mãe estava vivendo.

    AS PERÍCIAS NO APARTAMENTO

    A polícia esteve por diversas vezes no apartamento do Condomínio Majestic, na Barra da Tijuca, onde Monique e Dr. Jairinho estavam morando há dois meses. No dia 9 de março, agentes foram ao imóvel para fazer a primeira perícia, mas ao chegarem no local descobriram que uma funcionária do casal já havia limpado tudo. A polícia verificou que Monique não havia contado à empregada o que tinha acontecido e, só na hora do almoço, falou para ela tirar folga. No último dia 1º, policiais fizeram a reconstituição da cena do crime, mas o vereador e a namorada faltaram. O advogado de defesa alegou que Monique estava muito deprimida.

    Publicidade
    Continua após a publicidade

    DEPOIMENTOS COMBINADOS

    Ao longo de um mês de investigação, mais de 18 pessoas foram ouvidas. Entre elas a mãe de Monique, Rosângela Medeiros da Costa e Silva, que quando perguntada se havia questionado a filha e o vereador sobre o que havia acontecido com o neto, respondeu que “para se poupar, não quis saber detalhes e não se lembra se algum detalhe lhe foi contado”. A babá do menino, Thayná de Oliveira Ferreira, que se revelou após a prisão do casal uma peça chave para elucidar o crime, também prestou depoimento. Nesse primeiro momento, ela relatou que trabalhava em uma família harmoniosa e nunca tinha visto nenhuma agressão. A polícia descobriu que tanto a mãe de Monique quanto a babá da família tinham estado no escritório de defesa e orientadas de como deveriam falar.

    O PAPEL CRUCIAL DA BABÁ

    Detalhes da investigação, revelados nesta quinta-feira, mostram que a babá Thayná sabia muito mais do que falou em depoimento à polícia.  Investigadores tiveram acesso a uma troca de mensagens entre ela e a mãe do menino, no dia 12 de fevereiro, que mostra que as duas mentiram quando estiveram na delegacia. Na conversa por um aplicativo de celular, Thayná conta à mãe que o padrasto tinha chegado mais cedo em casa, estava trancado com o menino no quarto, com a televisão nas alturas, e que o batia. Depois, Henry relatou ter recebido rasteiras e chutes do padrasto, além de queixar-se de dor no joelho e na cabeça. A troca de mensagens derruba a versão fantasiosa de que a mãe não sabia que o menino era torturado pelo namorado.

    Publicidade

    A PRISÃO

    Um mês após o crime, Monique e o vereador foram presos nesta quinta-feira, por volta das 6h, na casa de uma tia do parlamentar, no bairro de Bangu, Zona Oeste do Rio. Enquanto os policiais entravam na residência, o casal tentou se livrar dos celulares que usavam jogando-os pela janela, mas os aparelhos foram recuperados. No local, a polícia também encontrou mochilas com roupas dos dois, o que levanta suspeita de que estariam planejando fugir.

    A INVESTIGAÇÃO CONTINUA

    Ainda na manhã desta quinta-feira, policiais cumpriram uma ordem de busca e apreensão na casa da babá Thayná, onde apreenderam, entre outros, o celular usado por ela. O inquérito instaurado na 16ª DP (Barra da Tijuca) ainda não foi concluído. Monique e Dr. Jairinho prestaram novos depoimentos após a prisão. A babá também será convocada para novos esclarecimentos.

    Continua após a publicidade

    OUTRAS ACUSAÇÕES CONTRA DR. JAIRINHO

    Além de dois boletins de ocorrência abertos pela ex-mulher, a nutricionista Ana Carolina Netto, por lesão corporal, um de 2014 e outro de 2020, o parlamentar é suspeito de ter agredido uma ex-namorada e ao menos outras duas crianças. Em um dos casos, no qual tanto a mãe quanto a filha, hoje com 13 anos, prestaram depoimento à polícia, o vereador é acusado de atrocidades. No relato, contam que a menina, quando tinha a mesma idade de Henry, foi levada por ele para um local semelhante a um motel, onde tirou sua roupa, a levou para o box do banheiro e bateu sua cabeça diversas vezes na parede. No mesmo dia, teria afundado a cabeça da garota na piscina com os pés. Mais um relato de horror, desta vez dado a VEJA por uma amiga próxima de outra ex-namorada de Jairinho, com quem ele continuaria se encontrar até o crime de 8 de março, descreve agressões ao filho dessa mulher. O garoto quando estava com a mesma faixa etária de Henry teria precisado de atendimento médico, após sair sozinho com o vereador, em duas ocasiões: em uma apareceu com hematomas na cabeça e rosto desfigurado, quadro que Dr. Jairinho teria justificado por um tomo do menino, e na outra teria fraturado a perna na altura do fêmur. Nessa segunda vez, o parlamentar alegou que ele havia prendido a perna no cinto de segurança do carro e caído ao descer do veículo.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Domine o fato. Confie na fonte.

    10 grandes marcas em uma única assinatura digital

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo
    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 2,00/semana*

    ou
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba Veja impressa e tenha acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de R$ 39,90/mês

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$96, equivalente a R$2 por semana.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.