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Carteiros voltam a circular na favela da Rocinha após pacificação

Por Por Claire de Oliveira
22 dez 2011, 10h10

Tomazia Ferreira Martins vive há 40 anos na mesma casa da Rocinha, no Rio de Janeiro, mas nunca recebeu uma carta: sob o reinado dos traficantes de drogas, o serviço público básico não existia na favela, a maior do Brasil.

É com desconfiança que, aos 72 anos, Tomazia abre a porta para o engenheiro da prefeitura do Rio Alexandre Furlanatto, que, junto com sua equipe, percorre o labirinto das ruas estreitas e íngremes deste gigantesco bairro pobre para mapeá-lo pela primeira vez.

Situada no coração dos bairros mais ricos do Rio, a Rocinha – reduto de traficantes e onde o Estado não entrou durante 30 anos – foi reconquistada há um mês em uma operação que mobilizou centenas de policiais de elite e soldados, apoiados por helicópteros e blindados.

“O objetivo do mapeamento é nomear as ruas e dar números às casas. Depois, o correio deverá fornecer um código postal aos moradores. Assim, as casas serão regularizadas e os moradores poderão receber cartas em suas residências”, explica Furlanatto.

O Rio possui cerca de mil favelas, onde residem um terço dos moradores da cidade, ou seja, cerca de 1,5 milhão de pessoas. O governo do Rio começou a “pacificação” das favelas em 2008 e retomou mais de 20 delas das mãos de traficantes de drogas e milicianos e prevê pacificar outras tantas até 2014, antes do Mundial de Futebol.

Tomazia responde ao questionário dos funcionários municipais e se sente mais tranquila ao fim da entrevista: sua casa de tijolos, construída em três andares ao longo dos anos, finalmente será “regularizada”, já que respeita as normas de salubridade e higiene da prefeitura. E logo poderá também receber pela primeira vez o carteiro.

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Até agora, os carteiros quase não se aventuravam nas ruas estreitas povoadas de homens armados. Os próprios moradores distribuíam as cartas.

José Maria, de 30 anos, que faz frete com sua caminhonete, conta que apenas as ruas da parte baixa da favela têm nomes e números, cerca de 20% do total, de acordo com a prefeitura.

“Depois do ‘valão’, onde o acesso é muito difícil, não há mais nada. Os carteiros depositam as correspondências em caixas, instaladas em bares ou lojas na parte de baixo da favela. Os moradores têm que ir buscar suas cartas”, explica.

Valdir, proprietário de um bar, confirma a situação, e mostra uma caixa de madeira. “A maioria das pessoas dava meu endereço, e vinha depois buscar sua correspondência aqui”, afirmou.

Até o mês de abril, todas as ruas da Rocinha deverão ter nome e as casas um número, mas a inspeção dos 25 mil lares da favela levará muito mais tempo.

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“É um trabalho de formiga e de educação. Estas meadas de fios elétricos terá que desaparecer. Os moradores têm que entender que há uma lei e que não é mais a lei dos traficantes, que têm direitos, mas também deveres”, declara Leisli Figueiredo, que dirige cerca de 30 postos de serviços sociais em várias favelas pacificadas.

Há três semanas, dois caminhões amarelos do correio percorrem a favela para que os habitantes possam ir pegar suas cartas mais perto de suas casas.

“As pessoas podem vir facilmente aqui retirar suas cartas. Este é um furgão itinerante que passa por vários locais da Rocinha para chegar a mais pessoas”, comemora Eliana, a carteira.

Embora a pacificação conceda vários benefícios à Rocinha, surgiram alguns inconvenientes por ser parte da “cidade oficial”: na semana passada, pela primeira vez, oito homens armados atacaram uma loja de eletrodomésticos, um assalto que nunca teria ocorrido durante o reinado dos traficantes de drogas.

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