As causas que mais mobilizam doações, no Brasil, são aquelas relacionadas às crianças. Foi o que apontou a terceira pesquisa Investidores do Bem, realizada pela empresa Shopper Experience, em parceria com a Associação de Assistência à Criança Deficiente (AACD). O levantamento, obtido com exclusividade pelo site de VEJA, tem a finalidade de identificar os perfis e as motivações dos doadores brasileiros. Do total de 330 entrevistados, de todas as regiões do país, 53% responderam que a causa que lhes é mais cara é a de crianças com câncer, seguida pela de crianças com deficiência (36%). O que chama mais atenção em relação às preferências, no entanto, são as associações ligadas a animais. Pela primeira vez elas foram listadas entre as “causas que mais mobilizam” os doadores – e foram citadas como prioritárias por 22% dos entrevistados.
Quase metade dos cidadão engajados em uma causa filantrópica (43%) destaca o crescimento pessoal como a principal razão para ajudar uma entidade. “A motivação para doar mudou bastante desde a primeira edição do estudo, feita em 2010, quando os entrevistados apontavam principalmente o senso de comunidade e a religião”, diz Angelo Franzão, superintendente de marketing e captação de recursos da AACD. “Agora, os motivos são mais racionais e isso mostra que nossas campanhas não podem apenas emocionar e sensibilizar. Precisam deixar explícito o propósito, dar um sentido à doação antes de pedir dinheiro”, acrescenta.
A transparência e a racionalização no uso dos recursos filantrópicos é importante também por outra razão: ainda é grande a desconfiança da população em relação ao destino das doações. Diz Stella Susskind, fundadora e presidente da companhia de pesquisa de mercado Shopper Experience, que coletou e analisou os dados: “Historicamente, nossos levantamentos mostram que as pessoas que não contribuem deixam de fazê-lo por não acreditar que o dinheiro vá chegar ao destinatário”.
Os brasileiros em geral têm a percepção de que são um povo generoso e solidário, contudo não há, no país, uma tradição filantrópica, como ocorre nos Estados Unidos e na Europa. “No Brasil, ainda é forte a crença de que contribuir com alguma causa é para gente com muito dinheiro”, explica Stella. De acordo com a especialista em pesquisa, a ascensão da classe C, por exemplo, que beneficiou diversos setores da economia, não teve impacto expressivo na filantropia. “A população ajuda um vizinho, a família, porém não faz doações a instituições. É caridade, não filantropia”, argumenta ela.
Um bom termômetro dessa prática é o World Giving Index (WGI), estudo anual que mensura a solidariedade em 135 países e serviu de base para a implementação do Investidores do Bem por aqui. Na última edição do WGI, divulgada no final de 2014, o Brasil ocupava a 90ª posição – atrás, por exemplo, de Mianmar, Trinidad e Tobago, Quênia, Nigéria e Afeganistão. Nos anos anteriores, o desempenho foi pior: 2014 representou o primeiro ano em que o país subiu uma posição, após quatro períodos consecutivos de queda no ranking.
Ainda de acordo com o WGI, os filantropos que doam dinheiro, no Brasil, são 33 milhões. Nos Estados Unidos, eles somam 175 milhões; na Índia, 249 milhões e no Irã, 31 milhões. Dados do National Center for Charitable Statistics revelam que as doações individuais, nos Estados Unidos, respondem por 72% das contribuições recebidas pelas ONGs. Aqui, esse número gira em torno de 3% somente.
A esperança de quem atua no setor é de que as gerações mais jovens mudem a situação. A pesquisa Investidores do Bem mostra que, em 2011, pessoas entre 18 e 24 anos correspondiam a apenas 2% dos doadores. Hoje, essa porcentagem mais do que triplicou. “As gerações Y e Z são muito mais atuantes. Não só financeiramente, mas também em relação ao voluntariado”, analisa Stella Susskind. “Esses jovens são nossa grande esperança. Espero que os cenários político e econômico não nublem essa perspectiva”, finaliza