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Traição drive-thru: os novos casos extraconjugais da quarentena

Encontros em postos de gasolina e estacionamento de supermercados: como o isolamento mexeu com a economia do prazer

Por Mariana Rosário Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 3 jul 2020, 12h31 - Publicado em 3 jul 2020, 06h00

Em um dia não muito distante, o marido avisa à mulher que precisa furar a quarentena. Ele tem de resolver pendências financeiras no banco e a negociação com o gerente poderá demorar porque a encrenca é grande. Diz que pode aproveitar a saída para comprar o que está faltando na despensa de casa. Tudo certo. Ele segue então direto para o estacionamento de um supermercado a mais de 10 quilômetros de distância. Lá o espera a ex-namorada, que entra rapidamente no carro e os dois trocam beijos e carícias. A cena, que durou noventa minutos dentro do estacionamento, ocorreu em São Paulo há menos de um mês e foi flagrada pela detetive Daniele Martins, dona de um dos maiores escritórios na capital, a pedido da esposa traída. Sim, a quarentena mexeu não só com a educação, a economia e a saúde dos brasileiros, mas também com a forma de trair.

Homens e mulheres infiéis precisaram se adaptar ao tão badalado “novo normal”. As desculpas para acobertar as escapadas, como longas reuniões e viagens a trabalho, tornaram-se impraticáveis. Os encontros conjugais que podiam durar horas em motéis passaram a ocorrer em postos de gasolina, ruas vazias, no calçadão das praias nas cidades litorâneas e entre carros do lado de fora do supermercado, como se deu no exemplo relatado pela detetive. Dito de outro modo: o restaurante romântico foi substituído pelo drive-thru.

Como tudo na vida, a mudança de comportamento pode ser medida em cifras econômicas. Os motéis, apesar de terem se mantido abertos durante todo o período do isolamento social, sofreram uma queda de 70% no movimento desde março. As vendas totais de preservativos caíram 20%, índice inédito nesse mercado. Mas há otimismo. Diz Erh Ray, CEO da agência BETC/Havas, responsável pela publicidade das principais marcas de camisinha do país: “Existe a crise, mas com a reabertura haverá muita vontade de retomar o cotidiano”. E como nem tudo é dificuldade, há um ramo de negócios que cresceu enormemente em razão das traições. Muitos casais limitaram os encontros às telas dos smartphones, e nesse cenário os aplicativos para encontrar um parceiro extraconjugal apresentaram uma movimentação fora do comum desde o estabelecimento da clausura. No website Ashley Madison, um dos mais conhecidos, por exemplo, houve recorde de 17 000 novos usuários noviços a cada 24 horas desde o começo do isolamento social nos Estados Unidos.

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Traição não é novidade, evidentemente, e não cabe julgamento moral para além dos envolvidos nela. No entanto, pode-se afirmar que, em parte, ela seja alimentada, no aqui e agora, pelo excesso de convivência do lar transformado em escritório, com as crianças dentro de casa. Há quem conviva muito bem com esse ambiente, mas é comum que os conflitos domésticos desabrochem — e os advogados de família já sentem a movimentação. Um levantamento feito por VEJA com os principais escritórios especializados em direito de família de São Paulo mostrou que o número de novos processos de separação cresceu 20% desde o começo da quarentena, comparado ao mesmo período do ano passado. O fenômeno é mundial. Pesquisa realizada em abril pelo site americano para planejamento de cerimônias de casamentos The Knot com 1 000 homens e mulheres comprometidos revelou que 82% deles estão insatisfeitos na quarentena. E a maior fonte de conflito é a baixa frequência sexual do casal (ou a falta dela). Contudo, ainda que a pandemia seja aceleradora de crises em diversas relações, os especialistas afirmam que atribuir a traição exclusivamente a este período é simplório. “A quarentena tem sido um fator para acelerar o que já era pensado e desejado. É improvável que alguém se torne um traidor durante este isolamento sem ter cogitado essa possibilidade antes”, avalia o psicólogo Rossandro Klinjey. Não há, convenhamos, nada de novo aí — é o antiquíssimo normal.

Publicado em VEJA de 8 de julho de 2020, edição nº 2694

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