Os primeiros impactos da decisão do PSB de apoiar o candidato tucano Aécio Neves no segundo turno devem se refletir em mudanças no comando da sigla. Incomodado com o apoio de seu partido ao PSDB, Roberto Amaral deve deixar a presidência da sigla após reunião do diretório nacional, marcada para a próxima segunda-feira. Amaral teria relatado a pessoas próximas que não permaneceria no cargo se o partido apoiasse o tucano na nova etapa pela disputa presidencial.
O nome mais provável para ocupar o posto de Amaral é o de Carlos Siqueira, que hoje acumula a secretaria-geral do partido e a presidência da Fundação João Mangabeira. A ideia é deixar a presidência da Fundação, responsável pela formação política dos pessebistas, com Amaral. Essa nova configuração foi defendida em reunião realizada na noite de quarta-feira por alguns membros da executiva nacional. Siqueira ocupou também a coordenação política da candidatura do PSB à Presidência da República, mas deixou o cargo após ter se sentido “humilhado” por Marina Silva, que substituiu Eduardo Campos, morto em acidente aéreo, na chapa.
Membros da executiva nacional ouvidos pelo site de VEJA relatam que Amaral se mostrou “constrangido” ao ter de abraçar a candidatura de Aécio, postura à qual tinha bastante resistência, mas acabou sendo voto vencido por decisão majoritária. Amaral tem relação história com o PT de Luiz Inácio Lula da Silva. Durante o governo petista ocupou a direção do Ministério de Ciência e Tecnologia. Além disso, ele se autodefine com um “político de esquerda, de formação marxista”. O atual presidente do PSB foi também uma das principais vozes contrárias ao desembarque de seu partido do governo petista, que deu origem à candidatura de Eduardo Campos à Presidência da República.
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Um dos membros da executiva ouvidos pelo site de VEJA relata que Amaral “só sai da presidência se quiser”. Já outro pessebista relata que o presidente da sigla só foi mantido no cargo após a morte de Campos – que antes presidia o partido – graças ao apoio do diretório paulista. Contudo, houve uma divergência entre Amaral e os membros do PSB de São Paulo, que foram os principais defensores do apoio do partido aos tucanos. A definição sobre a nova chapa passa pelo apelo do diretório pernambucano, o segundo maior depois de São Paulo, que conseguiu fazer a maior chapa na Câmara dos Deputados, elegendo oito parlamentares da sigla. Além disso, Pernambuco elegeu Fernando Bezerra Coelho para o Senado e Paulo Câmara, governador mais bem eleito proporcionalmente, com 68% dos votos.
Desde a morte de Campos, o diretório pernambucano vem reivindicando mais espaço na executiva nacional. Já foi estudado o nome de Geraldo Júlio, prefeito do Recife, para presidir nacionalmente a sigla. Mas a indicação do prefeito foi descartada por ele ser “cristão novo”, ou seja, ter muito menos tempo de filiação partidária do que outros postulantes ao cargo. Há uma possibilidade de se reservar, porém, a primeira-vice-presidência do partido para um nome de Pernambuco. Júlio e Câmara são os mais cogitados para o cargo.
O nome de Beto Albuquerque, que concorreu à vice-presidência ao lado de Marina Silva, pode ser indicado para a segunda-vice-presidência do PSB. Na última terça, Câmara e Júlio foram acompanhados do atual governador de Pernambuco, João Lyra Neto, de Bezerra Coelho e do presidente estadual do partido, Sileno Guedes, a São Paulo. Na capital paulista, os pernambucanos se reuniram com Márcio França, presidente do PSB em São Paulo, e com Albuquerque. A formação da executiva nacional foi um dos assuntos discutidos pelo grupo, antes de uma visita a Marina em seu apartamento, onde foi discutido o apoio a Aécio.
A reunião do diretório nacional estava marcada inicialmente para 29 de setembro, data que causou divergências no partido, por estar muito próxima ao primeiro turno das eleições, e foi remarcada para o dia 13 de outubro, próxima segunda-feira, em Brasília.