Não há dissidentes no DEM. O que há são pessoas do partido que sentem necessidade de uma aproximação maior com o comando
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Com 30 anos de carreira política, José Agripino Maia assumiu nesta terça-feira em Brasília a tarefa de reorganizar o Democratas, partido que ajudou a fundar ainda como PFL. Empossado presidente da legenda, o senador de 65 anos tem pela frente uma extensa lista de tarefas pendentes deixadas pelo antecessor Rodrigo Maia. A insatisfação dos correligionários era tanta que Rodrigo foi obrigado a abreviar seu mandato – que terminaria em setembro. Agripino foi então conduzido para um mandato-tampão. Sua missão é acalmar os ânimos e preparar o terreno as eleições para a Executiva Nacional.
Em entrevista ao site de VEJA depois da convenção que o colocou na direção do DEM, o senador fala sobre os desafios que enfrentará, avalia os primeiros meses do governo Dilma e dá um prognóstico sobre a atuação da oposição.
Qual a prioridade do senhor ao assumir a presidência nacional do DEM? Estabelecer um calendário de visitas aos estados para ouvir e falar com as bases. Vamos orientá-los sobre a formulação programática do partido, sobre a defesa dos nossos pontos de vista. Vamos pegar os itens de nosso programa e trabalhar um a um com as representações locais, para que o ideário saia do papel para a prática.
O que mais pesou para a escolha do senhor para o cargo? Meu perfil conciliador. Sempre fui assim. É uma característica pessoal. No momento em que dois segmentos do partido, com ideias diferentes, se unem em torno do meu nome, eles deixam claro o desejo de um entendimento.
Que legado o senhor recebe do antecessor? Houve acertos e equívocos. Vou usar os acertos como estímulo para meu trabalho e os equívocos como pistas do que precisar ser mudado.
Quais seriam exemplos de acertos e erros de Rodrigo Maia? Apontar erros e acertos dele particularizaria a discussão. Não contribui em nada. O importante é o que faremos daqui para frente.
A gestão Rodrigo Maia levou à saída do prefeito de São Paulo do partido. O senhor ainda tem esperança de manter Kassab no DEM? Eu não tenho nada a ver com isso. Não me cabe dizer o que penso ou não sobre Kassab, se acho que ele deve ou não tomar determinada decisão.
E como o senhor pretende evitar que outros quadros sigam Kassab? Não há dissidentes. O que há são pessoas do partido que sentem necessidade de uma aproximação maior com o comando. Com eles, usei e vou continuar usando a lógica da coerência. Se a base está segura, prefere ficar onde está a se lançar em aventuras. Só o DEM pode oferecer a eles segurança partidária.
Segurança partidária significa a garantia de não perder o mandato? Não é a isso que me refiro. Quem sair do partido e tiver mandato será alvo de ação da executiva, sim. A lei nos orienta e nos exige medidas nesses casos. Mas quando falo de segurança partidária me refiro à segurança de que não serão usados como elementos de manobra política.
Isso aconteceria com quem seguisse Kassab para o novo partido? Não me cabe julgar os passos de Kassab. Minha única preocupação é o DEM.
A senadora Kátia Abreu disse que a oposição está na UTI. Como o senhor avalia a situação da oposição? Nós, do DEM, estamos fazendo a nossa parte. Estamos nos reposicionando. Fazer oposição a Dilma Rousseff é diferente de fazer oposição ao ex-presidente Lula. A oposição a Lula era a um partido, a um governo e a uma figura. De qualquer forma, nosso foco nunca foi destruir o governo. Apontamos o errado e propomos o certo. Nossa oposição vai se dar por meio de propostas. Acredito que o PSDB também esteja se organizando nesse sentido.
E como o senhor avalia os início do governo Dilma? Todo governo, no começo, merece crédito, mas isso não impede a oposição de apontar, desde já, o que está errado. Uma das questões, por exemplo, é que a presidente falou uma coisa durante a campanha e agora está fazendo outra. Dilma disse que não cortaria recursos do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). E agora anuncia economia justamente nessa área. O que está em jogo é a credibilidade do governo. E vamos ficar em cima.