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Acidente nuclear no Japão ameaça programa brasileiro

Especialistas avaliam que consequências, no Brasil, do acidente em Fukushima serão inevitáveis; União Europeia testa novos modelos de segurança

Por Fernanda Nascimento
20 mar 2011, 14h35

Edmar de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Estudos em Energia: “A incerteza do mercado quanto às novas regras eleva os custos e atrasa os projetos”

Mesmo a milhares de quilômetros de distância, o acidente nuclear na usina de Fukushima, que ocorreu após o terremoto e o tsunami que devastaram o Japão há uma semana, provocará reflexos no Brasil. A tragédia ameaça afetar o Plano Nacional de Energia, que prevê a construção de quatro novas usinas no Brasil até 2030 – além de Angra 3, que tem inauguração prometida para 2015. “Esse acidente terá impacto na opinião pública e, consequentemente, no cronograma dessas obras”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (Aben),Edson Kuramoto.

Assim como em outros desastres nucleares, como o da ilha de Three Mile, em 1979, nos Estados Unidos, e o de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia, a tragédia reacende a discussão sobre o uso da energia nuclear. Ainda que não se possa calcular exatamente o tamanho do prejuízo decorrente da tragédia por enquanto, as consequências são inevitáveis, avaliam especialistas ouvidos pelo site de VEJA. Qualquer alteração nas regras fixadas pela Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) terá reflexos no Brasil, especialmente em Angra 3, ainda em construção. “A incerteza do mercado quanto às novas regras eleva os custos e atrasa os projetos”, explica o economista Edmar de Almeida, presidente da Associação Brasileira de Estudos em Energia.

Diante do temor provocado após a tragédia em solo japonês, alguns países da União Européia já começaram a testar novos modelos de segurança. “O tsunami revelou um ponto muito vulnerável naqueles reatores”, afirma Luiz Pinguelli Rosa, diretor da Coppe/UFRJ. “Isso poderia acontecer aqui também.” O Senado vai discutir medidas de segurança.

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Preocupação – No início da semana, a presidente Dilma Rousseff manifestou preocupação com o problema. Escalado para dar explicações à população brasileira sobre o programa nuclear brasileiro, o ministro de Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, garantiu que possíveis mudanças nas regras de segurança serão incorporadas aos projetos nacionais. Já o presidente da Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), Odair Gonçalves, preferiu adotar a cautela: “O que nós sabemos sobre o episódio no Japão é muito pouco”, disse, em entrevista ao site de VEJA, negando que haja mudanças nas regras em vigor – pelo menos por enquanto.

O Brasil conta hoje com duas usinas nucleares, Angra 1 e 2, que produzem cerca de 15 milhões de MW/h por ano. Isso significa energia suficiente para abastecer Brasília, Belo Horizonte, Curitiba e Angra dos Reis durante um ano. Ainda é pouco. A participação da energia atômica na matriz energética brasileira é de 3%, enquanto as hidrelétricas respondem por mais de 80% da energia consumida no país. Mesmo com a construção das quatro novas usinas previstas para as próximas duas décadas, o cenário não vai mudar. “O gás natural e as fontes eólicas, por exemplo, terão um aumento muito superior”, diz Leonam dos Santos Guimarães, engenheiro nuclear da Eletronuclear, empresa que controla as usinas brasileiras.

Ainda que localizadas em uma região pouco sensível a terremotos, as duas usinas nucleares de Angra nos Reis contam com um sistema preparado para fenômenos naturais. Segundo especialistas, as estruturas resistem a terremotos de até 6 graus na escala Richter. Uma vantagem brasileira em relação às usinas no Japão é operar com um reator resfriado à água pressurizada, em que dois circuitos de refrigeração garantem que a turbina que gera eletricidade não se contamine com radioatividade. Em condições normais, esse tipo de reator oferece mais segurança que a versão em Fukushima. “O local não está sujeito a tsunamis, mas a estrutura resiste a ondas de até quatro metros”, afirma Guimarães. “As usinas japonesas estão imunes a tremores três vezes mais fortes porque o risco é muito maior”, afirma.

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Questionamentos – O investimento necessário para erguer uma usina nuclear é um dos grandes questionamentos sobre o uso dessa modalidade de energia. Só nas obras de Angra 3 já foram gastos mais de 10 bilhões de reais, segundo dados da Eletronuclear. Angra 2, inaugurada em 2000, não saiu por muito menos – foram empreendidos cerca de 9 bilhões de reais, entre equipamentos e construção. “A energia atômica é duas vezes mais cara que a hidroeletricidade”, afirma Pinguelli.

Além dos preços elevados, as usinas nucleares trabalham com materiais radioativos e, portanto, de alto risco. Das roupas dos funcionários aos equipamentos que têm contato direto com os reatores, tudo é isolado em depósitos localizados ao lado das usinas. Uma área com mais de 3 mil metros quadrados recebe os dejetos contaminados, mas eles ainda não têm um destino final.

Segundo Leonam Guimarães, da Eletronuclear, a promessa é que, até 2018, um grande repositório nacional de rejeitos seja construído para armazenar o material. Resta saber se o investimento em infraestrutura para atender a indústria de energia nuclear seguirá o cronograma.

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