Os dados guardados num computador do Opportunity foram a chave para a investigação do esquema criminoso desmontado na terça-feira pela Operação Satiagraha da PF. As informações, contudo, já poderiam ter sido reveladas há três anos, quando as CPIs dos Correios e do Mensalão pediram à Justiça o acesso ao disco rígido. O pedido foi negado, e o banqueiro Daniel Dantas permaneceu solto.
Na ocasião, os governistas, envolvidos no escândalo do mensalão, revidaram prometendo investigar o banqueiro e suposto envolvimento com integrantes do governo FHC no tempo da privatização do setor de telefonia. O requerimento para conseguir acesso ao computador foi aprovado no Congresso, mas Dantas foi ao Supremo Tribunal Federal (STF) e recorreu para manter o sigilo dessas informações.
A ministra Ellen Gracie aceitou o pedido e concedeu liminar protegendo os dados do Opportunity. Depois, pediu à CPI que enviasse uma justificativa para que os dados do computador perdessem o sigilo. A CPI enviou dados que mostravam o envolvimento de Dantas com o empresário Marcos Valério, o operador do mensalão. Ainda assim, a ministra do STF decidiu manter o sigilo das informações.
A ligação de Dantas com os esquemas ilícitos de Marcos Valério também já havia sido detalhada no relatório da CPI dos Correios, quando o relator Osmar Serraglio fez um capítulo dedicado exclusivamente ao assunto. O texto já dizia que Dantas, através de suas empresas, abastecia o valerioduto, que por sua vez repassava dinheiro de forma ilegal a políticos e autoridades. O capítulo tinha 20 páginas.
Na ocasião, Serraglio pediu o indiciamento de Daniel Dantas pelos crimes de tráfico de influência, sonegação fiscal e corrupção ativa — algumas das mesmas acusações a que ele foi submetido pela operação da PF. Marcos Valério não quis comentar a ação dos agentes federais na terça. Apesar de a PF confirmar que há ligação do caso com o mensalão, ele afirma que não tem “nada a ver” com ele.