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A operação de guerra das Forças Armadas contra a Covid-19

O efetivo mobilizado é maior que o da luta contra o nazismo; ações envolvem soldados, médicos e especialistas em armas químicas

Por Eduardo Gonçalves Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 15 Maio 2020, 11h37 - Publicado em 15 Maio 2020, 06h00

No início de março, quando o número de mortes por coronavírus no Brasil ainda estava na casa da dezena e o epicentro da doença era a Itália, a cúpula das Forças Armadas começou a se reunir para traçar um plano de enfrentamento do inimigo microscópico e desconhecido. No dia 24 daquele mês, parte da estratégia foi anunciada à tropa pelo comandante do Exército, general Edson Pujol. Sem meias-palavras, ele disse que era preciso fazer frente a uma grande ameaça. “Talvez seja a missão mais importante da nossa geração”, concluiu. A visão não era compartilhada pelo seu chefe institucional, Jair Bolsonaro. No mesmo dia, o presidente fez o célebre discurso de que, “pelo seu histórico de atleta”, a Covid-19 era uma “gripezinha” que “brevemente passará”.

Apesar de Bolsonaro minimizar o perigo, as Forças Armadas acharam por bem desencadear uma verdadeira operação de guerra contra a doença (afinal, faz parte da estratégia militar nunca subestimar o inimigo). Mais de 31 000 homens do Exército, Aeronáutica e Marinha foram mobilizados. O efetivo é maior que o usado na II Guerra Mundial (25 800) pela Força Expedicionária Brasileira (FEB). Na missão das Nações Unidas que o Brasil liderou no Haiti, no auge da crise, depois do terremoto de 2010, o efetivo era de cerca de 3 000 homens — no total, a operação mobilizou 37 000 soldados ao longo de treze anos. “Nunca houve uma operação como esta (de combate à pandemia), feita com todos os comandos conjuntos. Realmente, é uma ação com características de guerra, com a peculiaridade de estarmos enfrentando um inimigo silencioso, invisível e feroz”, disse a VEJA o porta-voz do Ministério da Defesa, almirante Carlos Chagas, que participou da missão no Haiti, da ocupação do Complexo do Alemão, em 2010, e da operação do sistema de segurança na Olimpíada 2016.

Uma operação militar não se resume a tanques e soldados em combate. Na pandemia, o foco se dá em ações de logística, pela capacidade das Forças Armadas de chegar a lugares remotos e pela expertise nas áreas médica e bioquímica. Só nesta semana, aeronaves C-130 Hércules cortaram os céus do país para entregar centenas de cilindros de oxigênio, respiradores e cestas básicas na Amazônia, enquanto equipes especializadas em armas químicas fizeram a descontaminação de presídios, metrôs, tribunais e praças públicas nos grandes centros urbanos. As linhas de montagem também foram ativadas. No caso, a de remédios. Concentrados no Rio de Janeiro, os laboratórios do Exército, Marinha e Aeronáutica estão produzindo álcool em gel e medicamentos como a cloroquina.

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LOGÍSTICA – Na selva: soldados levam máscaras para a região da Amazônia (FAB/Divulgação)

A exemplo do que aconteceu com os médicos no combate à pandemia, as Forças Armadas tiveram de se preparar para a infiltração da Covid-19 em suas fileiras. Nos Estados Unidos e na França houve focos de contaminação em porta-aviões. No Brasil, a taxa de contaminação dos militares da ativa é muito mais alta que a da média da população — sete em 1 000, contra 0,7. Ao todo, 2 531 fardados testaram positivo para a doença — nove morreram. Curiosamente, o paciente mais idoso a se recuperar no país, Ermando Armelindo Piveta, de 99 anos, do Distrito Federal, foi segundo-tenente da FEB e lutou contra os nazistas na Itália, quando o contexto era outro. “A II Guerra era uma causa que mobilizava todo mundo. Hoje, é diferente, não há consenso nem no governo federal”, pontua o historiador Francisco César Ferraz, autor do livro Os Brasileiros e a Segunda Guerra Mundial. A missão, porém, é clara, como mostrou o pracinha Piveta: depois de vencer o nazismo, a ordem do dia é derrotar o coronavírus.

Publicado em VEJA de 20 de maio de 2020, edição nº 2687

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