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A história política do Brasil republicano – Região Centro-Oeste

Filinto Müller foi uma das figuras mais influentes nos dois períodos ditatoriais vividos pelo Brasil no século XX

Por Branca Nunes, Bruno Abbud
3 set 2010, 23h36

A história de Goiás é indissociável da saga dos Ludovico e dos Caiado, dois clãs rivais

Incorporado ao Brasil pelos bandeirantes que, partindo de São Paulo, ultrapassaram a linha imaginária do Tratado de Tordesilhas e lutaram contra a coroa espanhola por mais um pedaço de Brasil, o Centro-oeste continua exibindo com nitidez as marcas do passado. Na trilha sonora dos vilarejos às margens dos rios pantaneiros, as polcas paraguaias são mais freqüentes que os acordes do samba ou da bossa-nova. As feições do povo se assemelham às dos índios bolivianos. Até outubro de 1977, quando Mato Grosso do Sul foi desmembrado de Mato Grosso, apenas o estado de Goiás completava a região – que só passou a ter relevância nacional com a inauguração de Brasília, nos anos 60. Mais do que partidos, a história política republicana do Centro-Oeste é baseada em personagens. Entre eles se destacam o temido Filinto Müller, em Mato Grosso, e os Ludovido e os Caiado, em Goiás.

Mato Grosso e Mato Grosso do Sul

Escassamente povoado durante a República Velha, o estado de Mato Grosso incluiu até 1977 o território que hoje forma o Mato Grosso do Sul. O estado nunca teve grande relevância na política nacional, mas foi o berço de uma das figuras mais influentes nos dois períodos ditatoriais vividos pelo Brasil no século XX: Filinto Müller.

De 1933 a 1942, foi chefe de polícia do Rio de Janeiro, então capital federal. Começou a aparecer no cenário político ainda na década de 20, quando participou dos levantes tenentistas que pipocaram pelo país. Integrante da Coluna Prestes – a célebre marcha de 25 mil quilômetros pelo interior do Brasil liderada por Luiz Carlos Prestes entre 1925 e 1927 – convocou seus subordinados a desertarem oito dias depois de ter sido promovido a major das tropas rebeldes. Aristides Leal, médico da Coluna, contou que Filinto foi excluído por ter, “covardemente, se passado para o território argentino, deixando abandonada a localidade de Foz do Iguaçu, que se encontrava sob sua guarda, resultando que os praças que compunham a mencionada guarda o imitaram nesse gesto indigno, levando armas e munição pertencentes à revolução”. Os reais motivos do gesto nunca foram totalmente esclarecidos.

O desentendimento entre Prestes e Müller teria conseqüências dramáticas na década seguinte. Responsável pela captura do líder comunista e de sua mulher, a alemã-judia Olga Benario, o então chefe de polícia foi acusado de ter promovido a deportação da prisioneira para o campo de concentração nazista onde morreria na câmara de gás. Müller sempre alegou que cumprira a ordem de extradição aprovada pelo Supremo Tribunal Federal e assinada por Vicente Rao, ministro da Justiça, e pelo próprio Getúlio Vargas. A Filinto Müller também foram atribuídos incontáveis casos de tortura e a prisão arbitrária de milhares de opositores do regime varguista.

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O prestígio de Filinto transformou seu irmão Julio Müller num dos mais importantes líderes regionais do país. Com a queda do Estado Novo, Filinto permaneceu no coração do poder. Em 1947, elegeu-se senador pelo Partido Social Democrático (PSD), cargo que ocuparia pelos 26 anos seguintes. Com a implantação do bipartidarismo pelo governo militar, em 1966, ajudou a fundar a Aliança Renovadora Nacional (Arena), partido de sustentação do regime. A partir de 1969, acumularia a presidência do partido com a liderança do governo no Senado. Filinto morreu em 1973, no desastre aéreo da Varig em Orly, na França.

Entre outros mato-grossenses de destaque na política nacional estão o senador Roberto Campos e os ex-governadores Pedro Pedrossian e Dante de Oliveira. Ainda deputado, foi Dante de Oliveira o responsável pela emenda que deu origem ao movimento das Diretas Já.

Goiás

A história política de Goiás é indissociável da saga de dois clãs rivais – os Ludovico e os Caiado. Do Império à Revolução de 30, os Caiado, tripulantes do Partido Republicano de Goiás (PRG), monopolizaram o governo.

A ascensão de Getúlio Vargas trouxe no rastro a figura de Pedro Ludovico Teixeira. Um dos responsáveis pela queda da República Velha em Goiás, foi duas vezes interventor federal e duas vezes governador entre 1930 e 1954. Para impulsionar a ocupação do estado, incentivou o deslocamento dos moradores para cidades com baixa densidade demográfica. Em 1937, promoveu a mudança da capital de Goiás Velho para Goiânia.

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Pedro Ludovico dominou a política regional por quase 40 anos, até ser cassado, em 1969, quando estava no Senado. Três anos antes, Mauro Borges Teixeira, filho e herdeiro, tivera os direitos políticos revogados pelo regime militar.

Com os velhos antagonistas afastados da cena, os Caiado retornaram sob o comando de Leonino, filiado à Arena, nomeado governador em 1971. A árvore genealógica da família, que teve em Antônio Ramos Caiado – conhecido como Totó Caiado – seu tronco mais vigoroso, ainda gera frutos: Candidato à Presidência pelo PSD em 1989, o governador Ronaldo Ramos Caiado, tenta reeleger-se neste ano. Sérgio Ramos Caiado também disputa uma vaga na Câmara.

A inauguração de Brasília, que transferiu para o território goiano a capital federal, aumentou a importância política da região. O principal cacique regional desde 1960 é Joaquim Roriz, atualmente com a candidatura ao governo impugnada pela Lei da Ficha Limpa. Como todos os governadores de Brasília, também o mineiro Roriz não nasceu no Planalto Central. A capital federal do país ainda é uma cidade governada por forasteiros.

Foto do info da Região Centro-Oeste
Foto do info da Região Centro-Oeste (VEJA)
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