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A herdeira da Lava-Jato

Quem é Gabriela Hardt, a juíza de 44 anos que, ao substituir Sergio Moro, assume os 28 processos da maior operação anticorrupção do mundo

Por Roberta Paduan
Atualizado em 9 nov 2018, 07h00 - Publicado em 9 nov 2018, 07h00

Na quarta-feira 14, a juíza Gabriela Hardt, de 44 anos, conduzirá a audiência mais notória de sua carreira. O réu que se sentará à sua frente no 2º andar do prédio da Justiça Federal de Curitiba será o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Lula será ouvido no âmbito do processo que apura crimes na reforma de um sítio em Atibaia, no interior de São Paulo. As obras ali somaram mais de 1 milhão de reais, que teriam saído dos cofres da OAS, da Odebrecht e da Schahin, em troca de favores prestados pelo petista. O processo é um dos 28 que a magistrada herdou do juiz Sergio Moro, que deixará a magistratura para virar ministro da Justiça de Jair Bolsonaro. Também caberá a Gabriela assinar, nos próximos dias, a sentença de outra ação penal que envolve o ex-­presidente, na qual ele é acusado de ter recebido propina da Odebrecht na forma de um terreno, onde seria construído o Instituto Lula, e de um apartamento em São Bernardo do Campo.

Apesar de ter assumido o posto na segunda-feira 5, Gabriela pode ser considerada veterana na Lava-Jato, já que acompanha as investigações desde 2014, quando passou a ocupar o cargo de substituta da 13ª Vara. Ela também conhece como funciona o mundo das licitações de obras de empresas estatais, especialmente da Petrobras, onde seu pai trabalhou por quase 25 anos. Engenheiro químico, Jorge Hardt Filho construiu carreira na área de refino de óleo de xisto, localizada no Paraná. Depois de se aposentar, na década de 90, continuou trabalhando como prestador de serviços. Quando a Lava-Jato já estava em andamento, chegou a desabafar em uma rede social que a corrupção havia “roubado o futuro da empresa”.

Nos últimos quatro anos e meio, nas ausências de Moro, Gabriela autorizou quebras de sigilo e deflagração de novas fases da operação. Levou sua assinatura o decreto de prisão do ex-­ministro José Dirceu, em maio deste ano, logo depois de sua condenação em segunda instância. A medida, escreveu a juíza na decisão, era necessária para evitar “processos sem fim” e a “impunidade de sérias condutas criminais”. Mais tarde, a prisão de Dirceu foi revogada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e, a pedido do condenado, a dosimetria da sua pena será reavaliada pela Corte.

MUDANÇA DE ALGOZ - Lula terá sua próxima sentença decidida pela juíza (Marcelo Gonçalves/Sigmapress/Estadão Conteúdo)

Formada em direito pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), Gabriela não entrou no Judiciário pela magistratura. Antes de virar juíza, em 2009, aos 34 anos, foi analista judiciária, posição que já a punha em contato direto com todo tipo de processo criminal. Seu primeiro posto como juíza foi na Vara Federal de Paranaguá, onde se tornou responsável pelos casos criminais que envolviam o porto local, um dos maiores do país. Passaram por suas mãos ações sobre contrabando, tráfico de drogas e armas. Uma de suas primeiras decisões foi mandar incinerar 3 toneladas de cocaína que se acumulavam em apreensões da Polícia Federal e poderiam retornar para os traficantes. Segundo uma funcionária da corte federal, Gabriela “não dorme em serviço”. Depois de um ano de expediente em Paranaguá, ela foi transferida para Umuarama, no noroeste do estado, onde decretou a prisão do ex-deputado estadual Nilton Servo por contrabando e formação de quadrilha, num prenúncio do que veria na Lava-Jato.

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Ao tornar-se substituta de Moro, Gabriela fez elogios públicos ao juiz. Ainda em 2014, quando a Lava-Jato não havia expandido seus tentáculos para a política, e sua competência para se manter à frente das investigações vinha sendo questionada, a juíza publicou em sua página do Facebook que a “retidão e dedicação” de Moro eram motivo de inspiração diária para sua “atividade judicante”. A admiração é recíproca. A VEJA, Moro disse: “É uma excelente juíza. Muito preparada e dedicada”.

O perfil “linha-dura” do futuro ministro ajudou a moldar a imagem que se tem de Gabriela no meio jurídico: ela é considerada “caneta pesada” entre advogados e policiais federais — o que significa rigor nas penas que aplica. Os funcionários da vara reconhecem muita semelhança no perfil dos dois e a classificam como “justa”. Réus da Lava-Jato que já passaram pelas mãos da juíza afirmam que ela parece “menos comprometida” com as convicções do MPF sobre os crimes, e que se mostra mais aberta a elucidar fatos, independentemente da avaliação dos procuradores. Advogados de defesa disseram se sentir mais à vontade em audiências com Gabriela do que com Moro, que alguns consideram “autoritário”. Tais características despertam menos animosidade e dão menor margem às defesas para alegar parcialidade ou suspeição, argumentos recorrentes de Lula.

Divorciada do primeiro marido e mãe de duas filhas, Gabriela namora hoje um juiz federal do Espírito Santo. Nadadora e praticante de travessias aquáticas, gosta de viajar para destinos de natureza exuberante ou onde possa praticar esportes. Na segunda-­feira 5, dia em que assumiu a Lava-Jato, acabara de voltar de uma viagem pela Tailândia. Sua permanência no comando da operação deve perdurar por tempo indefinido, enquanto a Justiça não apontar quem será o novo titular da 13ª Vara. Enquanto isso, estará sob a “caneta pesada” de Gabriela o futuro penal de Lula, que tem dado cada vez mais sinais de que não aceita sua condição de preso.

Publicado em VEJA de 14 de novembro de 2018, edição nº 2608

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