A denúncia do presidente da Estação Primeira de Mangueira, Ivo Meirelles, de que traficantes armados invadiram a quadra da escola, em frente a uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), para tirá-lo do poder soa como um enredo pouco inspirado. O comandante da UPP, Capitão Leonardo Nogueira, afirma que nenhum policial militar observou qualquer movimentação atípica no local, na tarde da última quarta-feira, e estranha que o dirigente tenha preferido procurar a imprensa antes da polícia.
“É de se estranhar que pessoas sejam ameaçadas e ninguém nos procure, sendo que temos uma viatura e uma cabine na porta da quadra. Certamente, se entrassem homens armados lá, nossos policiais perceberiam a movimentação”, avalia o comandante, que não descarta a hipótese de se tratar de um factóide eleitoral. “Isso, sem dúvida, será investigado pela Polícia Civil”.
Na versão do atual presidente, que tentará a reeleição no pleito marcado para 28 de abril, os traficantes defendem que o comando da escola fique com o advogado Marcos Oliveira – que supostamente teve a inscrição negada em função de irregularidades de membros da sua chapa. Oliveira, que prestou depoimento na 17ª DP (São Cristóvão), nesta quinta-feira, afirma que apresentou na delegacia a documentação que comprova a inscrição de sua chapa para o pleito.
“A Mangueira não quer mais o Ivo. Como ele sabe que vai perder a eleição, está tentando fazer de tudo. Mas eu não vou esmorecer. Vou disputar a eleição”, disse Oliveira.
O candidato da oposição também confirma os rumores de que Ivo Meirelles tentou reformular o colégio eleitoral para facilitar sua reeleição. A estratégia consistiria em expulsar os membros que estão com a mensalidade atrasada, a maioria oposicionistas que se afastaram da agremiação desde que Ivo assumiu. A medida está prevista no regimento interno, mas Oliveira argumenta que as expulsões devem ser submetidas à aprovação do Conselho Deliberativo e a uma assembleia geral.
“Ele expulsou 80% dos sócios de forma irregular, sem avisá-los antes. Quer manter só quem entrou durante o mandato dele, a partir de 2009. Mas acredito que nem esses vão votar nele devido à péssima administração que tem feito”, disse o advogado.
A chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, determinou abertura de inquérito para apurar o caso. A convite da delegada Monique Vidal, o presidente Ivo Meirelles foi à 17ª DP, ontem, prestar depoimento. Na saída, o sambista disse que continua no cargo.
“Eu só quero dizer para vocês que continuo presidente da Mangueira. E vim aqui para atentar restabelecer a ordem. As eleições vão acontecer”, declarou.
Ligações perigosas – Ivo, que acusa o rival de envolvimento com o tráfico, também já teve que ir a público para se defender da suspeita de manter ligações com criminosos. Em 2008, foi descoberta a existência uma passagem secreta que ligava o camarote da bateria a uma das casas compradas por Ivo nos fundos da quadra, e serviria de acesso para traficantes.
A suspeita da polícia era que o traficante Francisco Testas Monteiro, o Tuchinha, foragido na ocasião, utilizava a passagem para entrar na quadra. Ivo, que era presidente da bateria mangueirense, foi ouvido pela polícia e negou a história.