A desconstrução de um disfarce
Clauvino da Silva, 42 anos, tentou fugir de um presídio no Rio de Janeiro com uma máscara de mulher
A máscara ligeiramente mal encaixada na área dos olhos, os óculos semitortos e uma certa agitação puseram por terra o plano de fuga de Clauvino da Silva, 42 anos. Ele bem que se esmerou na maquinação. Pediu à filha e a uma conhecida, grávida (esta, livre da revista protocolar), que aproveitassem o dia de visita no Complexo de Gericinó, no Rio de Janeiro, para lhe entregar roupas e acessórios. A ideia era se passar por mulher e debandar de lá como se nada houvera. Sim, a filha, Ana Gabriele, ficaria para trás. Flagrado antes de cruzar os portões, Clauvino, ou Baixinho, seu codinome no crime, foi retido em uma sala por agentes penitenciários que o fizeram despir, peça a peça, o disfarce nada perfeito. Foi tudo gravado em um vídeo de pouco mais de um minuto, que rodou o mundo pelo inusitado. Relutante, ele primeiro tira os óculos, depois a peruca preta, a blusa, a máscara de látex, em uma sequência de imagens que, no conjunto, revela a desfaçatez do bandido. Como punição, Baixinho foi colocado em cela isolada e nela permaneceu até a terça-feira 6, quando foi encontrado morto. A suspeita número 1 é que tenha cometido suicídio com um lençol, mas a Secretaria Estadual de Administração Penitenciária ainda não cravou uma conclusão. Outra hipótese é que teria sido executado por algum integrante de sua quadrilha. Essa não foi a primeira tentativa de fuga em sua carreira na bandidagem. Na primeira vez, em 2013, o marginal escapou com outros trinta por um túnel de 5 metros aberto pelo grupo, que ainda submergiu no esgoto. Foi capturado um mês mais tarde. Desta vez, Baixinho cumpria pena de 73 anos por uma ficha criminal de quinze páginas, que incluía roubo, tráfico, formação de quadrilha e homicídio. A filha, Ana Gabriele, deve ser processada por facilitação de fuga.
Publicado em VEJA de 14 de agosto de 2019, edição nº 2647